Alternativa, Bravura, Emoção e Glória em Évora

Vou escrever esta crónica da corrida realizada ontem em Évora, depois de uma tarde toiros emotiva. Fiquei, alegre, contente e confortado com a veracidade de um facto que confirma em pleno a essência e o fundamento de uma corrida de toiros: a emoção!

 

A emoção é a percepção de um sentimento que altera o humor, altera os sentidos de cada um. É, em suma, um intenso momento que nos impressiona. E ontem havia vários motivos no cartel montado pela empresa de Évora para isso acontecer, se não vejamos por exemplo: A alternativa de um cavaleiro, João Soller Garcia; A reaparição de Manuel Lupi; E a volta da ganadaria Charrua ao fim de 29 anos à arena de Évora. Se isso tudo era no papel, na praça ao vivo e a cores foi a confirmação, grande tarde de toiros para despedir a temporada na capital Alentejana.

 

Foram lidados três toiros Passanha, em segundo, terceiro e sexto lugares, bem apresentados, encastados, com mobilidade, recorrido com destaque para o bravo terceiro de nome “Manito”. Toiro este de bandeira! Acometeu ao cavalo de princípio a fim “descolgado”, humilhado, com uma nobreza encastada, sempre a vir a mais.

 

Também foram lidados três toiros da Ganadaria Charrua que voltava a Évora ao fim de 29 anos… A última vez tinha sido a 20 de Maio de 1990, no XXXI Concurso de Ganadarias, toiro este bravo lidado por João Salgueiro de forma brilhante, pondo a velhinha praça de Évora de pé varias vezes. Os Charrua, estavam bem apresentados, foram nobres, por vezes um pouco andarilhos com destaque para o que fez quinto bom toiro, veio a mais com o decorrer da lide.

 

Depois das cortesias rompeu praça João Moura Jr, para pedir autorização ao director de corrida para conceder a Alternativa ao seu amigo João Soller Garcia. Emotiva foi a cerimónia, cinco amigos presentes na arena e uns milhares nas bancadas para testemunharem tão nobre acontecimento. O João foi um cavaleiro praticante promissor, nos últimos anos têm pautado as suas actuações por terras americanas. Mas em Évora não é um desconhecido, muitas foram as tardes e noites em que actuou nesta praça saboreando o triunfo mais que uma vez. Ontem vi um João emocionado a brindar à sua mãe, aos seus amigos e aos céus… A lide foi bonita! Bem no primeiro comprido, mais irregular nos seguintes. Nos curtos veio sempre a mais, bem a bregar, a colocar o toiro, e a cravar bons ferros, com o público agradado e um João a desfrutar de uma lide e um dia que marcará sem dúvida a sua carreira. Parabéns Bão!

 

Filipe Gonçalves foi o que se seguiu, disse ao que vinha desde o início, empolgante sorte de gaiola para começar. Boa lide, com ferros bem desenhados e cravados a preceito, chegou ao público e aproveitou as qualidades do Passanha que teve por diante.

 

Voltava a Évora depois do espectacular triunfo do São Pedro e da triunfal temporada João Moura Jr. Novamente Évora se lhe rendeu e consagrou Moura Jr, na minha opinião, como o triunfador indiscutível da temporada 2019 em Portugal! Bem nos compridos, espectacular na brega, a lidar, a colocar o toiro, a rematar as sortes e a cravar. Rematando a lide com duas Mourinas soberbas que puseram a Arena Eborese de pé! De praça a praça a citar, depois a encurtar distâncias, cravando num palmo de terrenos e rematando as mesmas com uma arte e poesia só ao alcance dos eleitos. Olé!

Regressava Manuel Lupi, esperemos que não seja só por um dia e pela amizade a João Soller Garcia, a festa precisa de toureiros com o gabarito do Manel. Fomos testemunhas de uma lide pulcra, simples, mas ao mesmo tempo cheia de predicados. Seguro nos compridos, mostrado graça toureira em todos os momentos. Nos curtos, bem nos curtos, a coisa foi a mais e muito mais, senhor de uma brega toureira, sempre a colocar bem o toiro, para partir recto, cravando grandes ferros ao estribo, o último da lide foi soberbo um dos melhores ferros da corrida se não o melhor.

 

Em quinto lugar saiu um nobre Charrua que João Ribeiro Telles aproveitou de cabo a rabo… bonita foi a brega com que recebeu o seu oponente, cravando com correcção os compridos da ordem. Nos curtos a lide foi em crescendo acabando em plano de triunfo com o cavalo estrela da sua quadra o “Ilusionista” a cravar três grandes ferros com destaque para o último que levantou o público dos assentos.

 

Fechou a tarde Miguel Moura, a lide começou com uma soberba porta gaiola. A lide foi emotiva e encastada, diante de um toiro Passanha que pediu credenciais a todos que teve por diante. Miguel cravou bons ferros, superou as dificuldades do toiro e deixou bom sabor de boca aos presentes para o voltarem a ver por estas paragens na próxima temporada.

 

Évora é sinonimo de tarde de compromisso importante para os forcados, os Amadores de Évora e o Real Grupo de Moura deleitaram os presentes com uma grande tarde de pegas.

 

Abriu a tarde pelo Grupo de Évora, na menos conseguida pega da corrida, José Maria Caeiro, que à terceira tentativa ficou na cara do toiro. O oponente tinha o defeito de vir solto e com a cara por alto, pedindo mando na investida por parte do forcado.

 

O terceiro da tarde foi pegado por aquele que é um dos melhores forcados da sua geração, é um eleito o António Torres, faz parecer o difícil fácil… outro pegão na sua praça, senhor de uma calma estonteante, cita de forma toureira, recebe exemplarmente, para se fechar à barbela com galhardia e não mais de lá sair.

 

Ricardo Sousa, foi para a cara do quinto e à córnea fez uma grande pega à primeira tentativa com grupo a ajudar bem.

 

Pelo Real de Moura abriu a tarde João Cabrita, numa boa pega com o grupo a ajudar com coesão.

 

Claudio Pereira foi para a cara do quarto, toiro que na primeira tentativa teve uma investida dura e por alto, tirando o forcado, foi depois colhido com violência no chão e recolheu à enfermaria. Foi dobrado pelo cabo Valter Rico que resolveu a dura tarefa de maneira exemplar, encheu a para do toiro e quando se fechou foi para não mais sair.

 

Fechou a tarde Rui Branquinho à primeira tentativa, sofreu um derrote forte que o ia tirado da cara do toiro mas conseguiu a emendar-se e à primeira tentativa fez um grande pega com o grupo a entrar e ajudar.

 

No fim da lide dos terceiro e quinto toiros foi concedida pelo director de corrida volta aos ganaderos Diogo Passanha (volta dada pelo maioral José Bento) e Gustavo Charrua respectivamente.

 

Fechou assim uma temporada histórica em Évora, cinco corridas de toiros: Duas casas esgotadas, outra com meia casa forte e duas casas quase cheias. Parabéns aos empresários que souberam interpretar os gostos das suas gentes.

 

Dirigiu a corrida Marco Gomes, assessorado pela médica veterinária Ana Gomes.

 

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