A Verdade da Mentira

Crónica

A tauromaquia tem o mágico condão de juntar no seu ambiente diferentes tipos de público. Uns mais entendidos e informados, outros com menos conhecimento mas com maior sensibilidade, mas todos eles apaixonados por esta Arte que cada um sente à sua maneira e que nos leva a fazer quilómetros e quilómetros para ver um curro, um toureiro ou um grupo de forcados. Do norte ao sul os aficionados vibram, e lutam por uma tradição que é nossa por direito e que os extremistas animalistas insistem em exterminar.

Hoje em dia a internet acaba por dar oportunidade aos dois lados de publicarem opiniões sem uma avaliação e um controle do que é verdadeiro ou falso nas páginas das redes sociais ou até em alguns blogs, mas parece-me no mínimo insensato que um órgão de comunicação taurino publique textos que têm frases que sabemos que podem ser usadas de modo descontextualizado pelo outro lado. Foi o que se passou este mês em que uma plataforma anti-taurina utilizou expressões como “A maior parte não tem força nas patas quando o grupo de forcados lhes cai em cima muitos deles caem.” ou  “primeiro escolhe-se os cavaleiros e depois eles dizem qual a ganadaria ou ganadarias que lhes dá jeito”...

Ao expor a sua opinião sobre o encaste Murube com estas descrições, acho que a opinião poderia ser expressa de outra forma e com outras palavras.

Ao transmitir a minha opinião ao director do órgão onde foi feita esta publicação, dizendo que na minha opinião cada vez mais devemos exaltar o que é bom na festa e debater e reflectir o mau a nível interno, foi dada uma resposta em que referia que o respectivo órgão está cá para dizer a verdade, seja ela boa ou menos boa.

Não podia concordar mais, e venho neste artigo esclarecer então a verdade de alguns aspectos.

Todas as figuras tiveram as suas ganadarias ou os seus encastes preferidos e precisamente por serem figuras, as empresas tentavam proporcionar o tipo de toiro que estas gostavam. Quando nos referimos ao encaste Urquijo convém dizer que até no toureio apeado era muito apreciado nomeadamente por António Ordoñes e até por Curro Romero. Por cá é sabido que era o mais apreciado também por Sr. João Núncio que acabou por comprar uma ganadaria Murube-Urquijo que se mantém até aos dias de hoje. A ganadaria que actualmente mais lida é Passanha, também ela sempre foi Murube (até os “Passanhas” antigos que tanto gostam de referir).

Em termos estatísticos referia o escriba que “o que vejo nas praças lusitanas, é que para aí 85% dos toiros lidados são touros “Murubes”

Analisando os factos, no decorrer da temporada 2016 foram lidados em Portugal toiros de 85 ganadarias diferentes, das quais apenas 5 são Murube puro e outras 4 têm uma cruza do mesmo.

Foram lidadas 1173 reses, das quais apenas 106 eram “Murube” e outras 77 cruzadas de Murube, em termos de percentagem correspondem a 9% e a 6%. Deixando assim os 85% atirados para o ar muito longe da VERDADE.

A certa altura deixa a pergunta no ar : “Mas ainda há outra questão que me intriga, Porquê que deixamos de ter com regularidade touros “Miúra” em praças lusas?”

Gostava eu que algum aficionado me referisse nos ultimos 100 anos em quantas ocasiões se lidou mais que um ou (possivelmente) dois curros de Miura por temporada na História da tauromaquia lusa?! Eu pesquisei e não encontrei a tal regularidade.

Adiante outra pergunta: “Ou o porquê de uma ganadaria como (Murteira Grave), touros difíceis, levar tão poucos curros a corridas?”

A ganadaria Murteira Grave é das mais conceituadas a nível do mundo taurino. E desde sempre uma das três ganadarias portuguesas que mais lidam. Na temporada de 2016 a ganadaria Murteira Grave lidou 59 reses das quais 44 em Portugal. Sendo caso para dizer que a ganadaria Murteira Grave pela sua qualidade e fama lida todos os Toiros que tem, sempre!

A finalizar há um parágrafo que me surpreende em todas as vertentes:

E uma colhida, simples que seja, há quantos anos não há por cá? Vejamos em Espanha, a época começou á pouco tempo, e em duas semanas tivemos Padilla, Roca Rey, a sofrer colhidas a sério. E isto acontece porque em Espanha não há “Toirinhos”, há touros de verdade, touros “Miúra”  touros com raça, com força, sente-se o perigo e a emoção que ele acrescenta á festa, toiros de Verdade.”

Sabendo que em Espanha e no toureio apeado se debatem muito mais com o problema do movimento monoencaste (Domecq) do que por cá, resta referir que Juan José Padilla foi colhido por um toiro de Fuente Ymbro (uma ganaderia especialmente apetecível por muitas figuras) e que Roca Rey foi colhido por um toiro de Salvador Domecq e o curro dessa corrida foi descrito pelo jornal ABC como: “flojos de presentación y de poco juego en líneas generales. Corrida noble pero falta de fuerza y de casta.”

Resta-me então rematar este artigo diferente dizendo que também aqui luto pela verdade da festa, e não só faço questão de a preservar em cada artigo mas também  de a repor sempre que for necessário pois também não gosto que atirem areia para os olhos dos aficionados. Não temos de viver como a Alice no país das maravilhas… mas não precisamos de ser como o Pinóquio.

 

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