O cavaleiro Filipe Gonçalves faz o balanço da temporada 2020, numa entrevista sincera sobre os momentos difíceis que o país e a tauromaquia atravessam.
Filipe Gonçalves fez quatro espetáculos esta temporada que deixaram o cavaleiro muito satisfeito com os êxitos que conseguiu atingir. Leia a entrevista na íntegra.
Tauronews: Que balanço faz da temporada 2020, que foi tão diferente das outras?
Filipe Gonçalves: Foi uma temporada atípica, estranha e insegura sem nunca ninguém saber sobre se no presente ou futuro se iria realizar espetáculos taurinos, um dia achávamos que sim, outros realmente que seria impossível. Viveu-se o pânico, a comunicação social foi o que nos provocou com os números de infetados, o Governo tomou medidas drásticas de confinamento pela primeira vez na nossa geração, mas por fim conseguimos dar começo, em Agosto, e quando todos pensavam que não tínhamos força, aí ficou visível o poder da tauromaquia portuguesa em comparação com todos os países em que se dá espetáculos tauromáquicos.
A força da nossa cultura ficou conotada na união da afición portuguesa, a Ministra cedeu e com as normas ditadas realizou-se, reduzidamente a segunda metade da temporada, actuei no 14 Agosto, em Alcochete, na corrida das bandarilhas, seria a primeira e com uma enorme responsabilidade pela praça e pelo curro duro a enfrentar, pois foi muito bom conseguir desenhar o meu toureio e vibrar dentro de mim com ele, com ferros de bastante risco com o Favorito, e levar o alvoroço à praça, coloquei bons pares de bandarilhas e ganhei o prémio em disputa entre os toureiros.
De seguida surgiu Figueira da Foz em que abri praça num cartel jovem e onde frente aos toiros de José Luís Cochicho obtive um êxito no primeiro e no meu segundo não permitiria a sequência do mesmo por falta de qualidade do oponente. Segui para a corrida de Almeirim, transmitida pela RTP1 em que todos tiveram oportunidade de assistir e saiu-me um toiro de Vale de Sorraia com muita falta de qualidade e difícil o que me reduziu o êxito desejado mas mostrei a maturidade em que me encontro e resolvi o problema de uma forma bastante positiva permitindo um triunfo com soluções na construção de uma lide sem poder fazer mais do que foi possível.
A quarta e última corrida seria na praça de toiros Daniel do Nascimento, na Moita onde me fez terminar esta curta temporada com um enorme êxito deixando um sabor único do êxito frente aos toiros Mata-o-Demo onde executei uma faena das mais completas, do início ao fim, comecei com uma porta gaiola bastante emotiva e sem nunca deixar arrefecer o mote anterior com bandarilhas de risco com o Favorito ao pitón contrario na execução do toureio que idealizo de risco, com piruetas na cara do oponente no remate dos ferros, transmitindo aos sectores e pondo todos de acordo e empolgados com o meu toureio, o que me fez ficar com um ótimo sabor de triunfo e de realização profissional nesta temporada de 2020.
Sente-se satisfeito com as corridas que fez, numa temporada tão pequena?
Sinto-me bastante satisfeito com o que foi conseguido, limitados pelo número de espetáculos, mas com muita qualidade artística e de entrega de público, mostrámos que temos muita mais força que qualquer outro espetáculo em que fomos os únicos a conseguir seguir e realizarmos uma temporada, mostrando a aderência da afición em todos os espetáculos com a lotação esgotada a 90% de todos eles onde participei. Alcancei sérios triunfos e, proporcionalmente, foi um êxito artístico grande na minha carreira.
Para além do momento que o país atravessa qual foi o melhor momento desta temporada? E o pior?
Vou começar pelo pior momento porque gosto de terminar sempre melhor. O momento mais difícil da temporada foi quando percebemos que não havia touradas este ano e que o número de infetados exigia confinamento e este estava a limitar toda a realização dos espetáculos tauromáquicos pela junção de grandes massas e que poderíamos perder toda a temporada num ano em que havia tanto para fazer.
O melhor momento da temporada foi a resposta do Ministério da Cultura e a manifestação da nossa cultura, nomeadamente, a união da afición e dos toureiros como todos os intervenientes dos espetáculos tauromáquicos e como resposta a nossa Ministra ter dado ordem ao início da nossa atividade a partir de agosto.
Mantém o apoderado, quadra e quadrilha? Ou vão existir mudanças?
Mantenho o apoderado Rui Levesinho, porque sei que temos muito que fazer para o futuro, acredito piamente que foi uma aposta segura e feliz, pois temos um projecto a realizar juntos, muito para dar a afición e à festa.
O que me contagia no trabalho para os desafios que temos projetados para o futuro levando a mesma quadrilha que este ano com o Josué Salvado e João Ganhão de bandarilheiros.
Portanto mantêm-se toda a equipa. Equipa que ganha não se mexe!
Quais os seus desejos para a temporada 2021?
Os meus desejos para a temporada vindora são que consigamos ultrapassar toda esta pandemia rapidamente, que continuemos a mostrar a força da nossa tauromaquia e a união da afición marcando presença nos nossos tauródromos como foi este ano e continuarmos a mostrar a potência da tauromaquia na nossa cultura.
Que comecemos mais cedo para o ano para podermos dar todos muito mais !