Numa época em que tantas críticas são feitas à tauromaquia como arte e manifestação cultural, e que tanto se fala do bem-estar animal parece-nos adequado falar do cavalo de toureio, da forma como vive e é tratado.
Assume-se que o toiro bravo é o cerne de qualquer manifestação tauromáquica, cujo comportamento e poder impressionam e emocionam os aficionados. Há no entanto outro animal que é alvo de paixões e também tem um papel destacado na Festa Brava, o cavalo!
Desde há séculos que, em Portugal, o toureio a cavalo se impôs, o que determinou uma seleção por parte das coudelarias lusas de cavalos com aptidão para esta função. Nessa medida, o carácter e os recursos para tourear, salvo exceções, são herança dos progenitores, fruto da criteriosa seleção e apuramento.
Embora estes cavalos tenham uma tendência natural para tourear, necessitam de ensino, preparação e que lhes seja dado maneio e tratamento no sentido de conferir boa capacidade para enfrentarem com confiança e galhardia o toiro bravo.
O cavalo de toureio é, portanto, o fiel companheiro do cavaleiro para superar as dificuldades da lide e alcançar o triunfo, mas mais do isso, é um artista por si só.
Atendendo à maior competitividade entre cavaleiros e à evolução do toureio, tem-se verificado um melhoramento das quadras de cavalos e um franco aprimoramento do maneio dos mesmos.
Dadas as elevadas exigências físicas e “mentais” a que é sujeito, o cavalo de toureio necessita de um acompanhamento específico e diferenciado em várias vertentes.
Consideramos que, no contexto atual, devemos elucidar os menos informados ou com menos contacto com os “bastidores” da Festa sobre a vida dos cavalos fora da praça.
Os cuidados prestados a estes animais são excelentes e a preocupação com o seu bem-estar é uma constante.
Comecemos pelos estábulos. Os cavalos de toureio vivem em boxes amplas, com boa cama, diariamente limpas. Têm água corrente à disposição e é-lhes fornecida uma alimentação de qualidade com feno e ração em quantidade adequada. Além da alimentação de base, são-lhes dados suplementos específicos por forma a colmatar algumas necessidades extra, nomeadamente durante a temporada de espetáculos taurinos. São limpos e inspecionados pelos tratadores, experientes no seu maneio.
São submetidos a um treino diário, que se rege pelas regras da boa equitação para lhes melhorar a forma física, elasticidade, força, rapidez de resposta e obediência às “ajudas” do cavaleiro. Este processo de ensino é fundamental para criar e sedimentar as bases que permitem uma evolução para um treino mais específico, passar à “tourinha” e tourear no tentadero, onde ganham hábito e confiança para poderem desenvolver todas as suas capacidades e se apresentarem nas melhores condições em público.
Os cuidados siderotécnicos prestados pelos ferradores são de grande importância para a saúde dos cavalos, as ferrações melhoram os aprumos dando maior conforto e evitando lesões.
Os cavalos de toureio, durante a temporada, fazem longas viagens em camiões com as condições adequadas para garantir a sua segurança e conforto. Sofrem também mudanças de ambiente e é-lhes exigido esforço intenso. Nessa medida o acompanhamento veterinário, prestado por profissionais especializados, assume capital relevo. A profilaxia e tratamento de patologias médicas, lesões osteo-articulares e mesmo situações que exigem intervenções cirúrgicas são asseguradas por centros cada vez mais desenvolvidos com uma capacidade de resposta técnica e cientifica assinaláveis.
Esta forma de vida, com e para os cavalos, demonstra o respeito e paixão que os toureiros têm pelos seus animais.
Cavalos “estrelas”, verdadeiros artistas, são aclamados e apreciados pela expressão, plasticidade e valentia que evidenciam nas arenas. A arte de tourear é-lhes inata, nasceram toureiros! Mas são também autênticos atletas de alta competição, sendo treinados e tratados com devoção e rigor por parte de todos os que com eles lidam.
