Em Montemor um Veiga deixa na arena a mais perfeita pintura

Setembro chega e com ele felizmente a Feira da Luz de Montemor! Ontem dia 2 arrancou a Mini Feira Taurina desta localidade Alentejana e ficou claro o bom ambiente que esta Feira vive, os aficionados ocuparam um quarto de casa numa tarde de chuva intermitente, por vezes muito intensa o que condicionou muito a afluência de público.
Num momento em que a Festa dos Toiros é vilmente atacada por tudo o que é palerma desta sociedade, cada vez moldada ao que vendem certos mídias, agremiações e sindicatos de pensamento vemos como novos valores vão surgindo… Graças a Deus!  Ainda há esperança e ontem foi um desses dias que se sai de uma praça de toiros mesmo trespassado por água, com um sorriso, bem disposto e pensando no futuro de forma positiva. Responsáveis por isso uma  nuvem de miúdos! Uns a querem ser figuras do toureio, outros a darem os primeiros passos como forcados e outros ainda com o sonho de um dia envergar a jaqueta dos forcados de Montemor.
Sonhar é imaginar algo que é improvável que aconteça, que difere significativamente da realidade existente ou que só existe na mente de cada um, mas que mesmo assim é perseguido ou almejado. Quando um menino ou menina vai com os mais velhos presenciar estas primeiras novilhadas como as de ontem, saí fascinado: Os capotes, a jaquetas, os barretes, o movimento, o novilho, o cavalo, a cor, os aplausos para o toureiro, e a partir daí uma ideia surge: Eu quero ser toureiro ou forcado! Por isso aqueles que falei atrás e mais os que ditam as leis tentam castrar estes acontecimentos culturais de uma maneira quase ditatorial. Porque eles sabem que o Sonho Comanda a Vida e sempre que um miúdo sonha o mundo pula e avança…
Em Montemor sabem e de que maneira, que estes acontecimentos não podem acabar, porque são a força viva, a vitalidade de um dos símbolos desta cidade Alentejana, o seu Grupo de Forcados. A Empresa Montemor é Praça Cheia todos os anos com esmero faz de um dia da sua Feira da Luz um dia de Futuro da Festa. Acreditem no que vos escrevo eu se puder não perco nenhuma destas novilhadas de promoção, quase sempre se vê bom toureio e ontem houve momentos ao mais alto nível (já vos conto a seguir), boas pegas e um convívio são que faz tanta falta a esta sociedade em que vivemos.
Os três novilhos da ganadaria Veiga Teixeira, apresentados em praça, foram o condimento de luxo para se ver bom toureio e um deles responsável por um dos momentos mais bonitos desta temporada de 2023. Devia ter o ganadero ter dado a volta à arena logo no primeiro da corrida, ou então no último pelo conjunto dos três mas desta vez o lenço azul não saiu… Coisas…
O que abriu a tarde foi bravo! Foi um novilho que pôs certamente todos de acordo, ganadero, toureiro, bandarilheiros e público. Nobre mas mais despegado do chão o colorado que fez segundo, foi o menos bom dos três. Nobre, com mobilidade e muita qualidade, o último.
Nisto do toureio há uma coisa muito clara: Bem podem vir chuvas e tempestades, que quando coincidem numa arena um bravo e um toureiro que quer tourear surge uma coisa que só se vê de vez em quando, a arte do toureio! Foi o que aconteceu no primeiro da tarde, caia a mundial em chuva… mas surgiu na arena de Montemor aquela coisa que está só a ao alcance de muito poucos a arte de bem tourear, neste caso a cavalo e a pé… O protagonista deste feito, que não me fez tirar os olhos daquela arena, foi Vasco Veiga de seu nome. Agradeço os momentos de luminosidade que o teu toureio me proporcionou ontem, apesar do dia cinzento que se fazia sentir em terras de Montemor.
O Vasco toureou e conseguiu extravasar o artista que o é! Interpretou o que leva dentro e é muito, houve daqueles momentos de uma inspiração sem pontuação, cânones, regras ou fórmulas, penso que toureou para ele e contagiou os presentes com o que foi feito na arena. Cravou os compridos a preceito, rematou e lidou com uma graça toureira fora do comum. Nos curtos houve momentos fantásticos nisto da arte de bem tourear a cavalo, cravou ao estribo, rematou rondando pelo píton de dentro, lidou, escolheu os terrenos a favor do novilho, havendo nisto tudo aquilo a que os espanhóis chamam duende… Quando parecia que a lide tinha terminado, pede à senhora directora de corrida se podia rematar a faena com a muleta. Desmontou do cavalo e… houve uma tanda pela direita que fez ressoar as Campanas da Giralda. Um molinete toureiro para começar, depois em redondo embarcou as investidas do Teixeira, a inspiração surgiu novamente e tomou conta daquilo. Houve um toureiro abandonado mas ao mesmo tempo expressivo, imerso noutro mundo, correndo a mão com uma suavidade arrebatadora, rematando a série com um passe de peito meio desmaiado, infinito. Olé!!! Isto que vi valeu a molha e muitas molhas, muitas tarde e noites à procura de qualquer coisa boa. Se me permites Vasco, onde é a próxima? Certamente lá estarei para desfrutar do teu toureio.
Mariana Avó, é uma jovem toureira com argumentos para vingar nisto do toureio a cavalo. É inteligência fina e sutil, tem astúcia e habilidade. A Mariana é uma daquelas jovens  corajosas que querem entrar neste mundo dos toiros e isso ficou provado ontem em Montemor. Executou uma lide de menos a mais, cravou os compridos com subtileza, percebeu o novilho, procurou os terrenos indicados do oponente e do estado da arena que já não era dos melhores. Nos curtos houve bons momentos de brega, cravou bons ferros curtos, caso do terceiro e quarto, rematando as sortes. Finalizou a sua atuação entre os aplausos do público com um ferro em sorte de violino.
Diogo Conde, um Vilafranquense de pura cepa, está a começar nisto, anda cá à pouco tempo mas tem coisas que marcam e ficam na retina. Ou seja, o Diogo tem os bons princípios disto de bem tourear a cavalo, monta bem, quer fazer bem feito, pensa na cara dos novilhos e não leva a coisa estudada de casa. Há o improviso e a audácia da juventude neste cavaleiro! Recebeu muito bem o seu oponente recriando-se me curto. Cravou dois bons compridos e nos curtos houve um par deles de boa nota, quarto e quinto, rematou bem as sortes. O público gostou do visto e aplaudiu com força esta lide.
Nestas novilhadas é sempre um grande dia para o futuro do Grupo de Forcados Amadores de Montemor, é aquele dia em que os novos valores do grupo se querem mostrar diante dos seus.
Saltou para a cara do primeiro novilho, António Vacas de Almeida que na primeira tentativa foi pisado, pareceu-me, sendo depois derrotado pelo novilho, sendo dobrado pelo novo cabo dos juvenis de Montemor Manuel Carolino, que realizou uma grande pega de caras.
Miguel Casadinho, bem a citar, recuando quanto baste, superior a receber, fechando-se que nem um lapa na cara do novilho, bem o grupo a ajudar. Pega da tarde!
Rodrigo Corrêa de Sá à terceira tentativa. Nas duas primeiras as reuniões e o mau estado do piso dificultaram a labor do cara, sendo a terceira tentativa uma boa pega, a destacar a boa primeira ajuda.
Depois a arena foi invadida pelos sonhos daqueles que um dia certamente irão honrar as jaquetas deste grupo, miúdos e mais miúdos… Um contentamento enorme da miudagem, um orgulho dos pais e avôs e umas orações de mães e avós. A bezerra com o ferro Teixeira mostrou bravura e prestou-se a realizar os sonhos desta pequenada. Vou referir alguns, não todos certamente que pegaram de caras, ( pedindo desde já desculpa aos que não referi) mas cá ficam os nomes para memória futura, Salvador Gomes, Vasco Vitorino, José Freixo, Manel Brejo, Henrique Câmara ,Lourenço Patrão e Zé Maria Veiga Pontes. Parabéns!
Dirigiu o espectáculo Maria Florindo, sendo a médica veterinária Ana Gomes.

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