Lisboa, Praça de Touros do Campo Pequeno
Primeira da Feira Taurina de Setembro
Cavaleiros:
João Moura Caetano
Marcos Bastinhas
Matadores:
Manuel Jesus “El Cid”,
Manuel Dias Gomes
Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, capitaneados pelo Exmo. Sr. Pedro Maria Gomes
Ganadarias:
Herdeiros de Varela Crujo (o primeiro, para lide a pé, exigente, rachado e protestando nos muletazos e sobretudo aos toques, sem finais, o segundo, brusco, violento e pegado ao chão)
Manuel Calejo Pires (o primeiro para lide a pé de hechuras perfeitas, fixo, com muita classe nas investidas, dando muletazos, pela direita, longos e humilhados, por fora, abrindo-se e com duração, o segundo igualmente bravo, mais agressivo por diante, igualmente com duração, humilhação e recorrido, em suma, corrida com classe e bravura de nota especial.)
Irmãos Moura Caetano (para a lide a cavalo, corrida uniforme, mimada em apresentação e trapio, dentro do encaste, e em comportamento, colaborante, com recorrido e galope, sem apertar e sem emparelhar).
Direção de Corrida: Exmo Sr. Ricardo Dias
Lotação: Meia casa forte
Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, e valeu a pena ter ido ao Campo Pequeno na noite de 7 de setembro, à primeira corrida da feira taurina.
Valeu a pena pelo esforço da Empresa, na pessoa do Dr. Luís Pombeiro, que havia projetado um cartel que, por circunstâncias imprevisíveis, se foi desmontando, primeiro saiu Cayetano e à última hora, talvez o maior atrativo da corrida, Morante de la Puebla, ressentido de uma lesão, também teve que ser substituído.
Se o mediatismo era a pedra toque deste primeiro cartel, os substitutos não se rogaram e fizeram honras da casa, El Cid, o último a entrar, por Morante, e Manuel Dias Gomes, que já se conhecia há mais tempo.
Acredito que as mudanças possam ter tido impacto negativo na bilheteira, mas foi manifestamente positivo no espetáculo.
Valeu a pena por ter visto um Manuel Dias Gomes assente, relaxado e gritando, com argumentos e fundamento, por um lugar merecido nas feiras, o mérito tem que prevalecer, é de toureio que tratamos e Dias Gomes sabe tourear e bem!
Se no primeiro, de Varela Crujo, parado e reservado, fez omelete sem ovos, pondo toda a carne no assador, onde sacou água de poço seco, teve que inventar uma faena repleta de valor e transmissão, chegando-se ao touro e chegando ao público, no segundo, de Calejo Pires, com classe, bravo e transmissor, conseguiu toureio em redondo, pausado, colocado e de mão baixa, como mandam as regras, colocação sem reparos e uma entrega que se sentia nas bancadas.
Volta em ambos, com chamada aos médios no seu segundo, sexto da noite.
Valeu a pena pelo regresso de El Cid, parecendo que nunca se retirou, verónicas largas e templadas e três séries de derechazos ao seu primeiro, de Calejo Pires, grande touro, com muletazos infindáveis, largos, por fora e de mão baixa. No segundo, de Varela Crujo, teve que puxar do oficio e experiência, bem-fazer, dando a lide adequada e possível a um touro que não queria investir, sem romper e quando o fazia, era brusco e violento.
Volta em ambos.
Valeu a pena para ver o toureio clássico e sempre atual, com rasgos de risco, nas batidas ao piton contrário, e toureio de garupa, de Moura Caetano, quer na lide a duo, quer no seu touro.
Volta em ambos.
Valeu a pena para ver a alegria e transmissão contagiante, toureio de vertigem, de Marcos Bastinhas, arriscando e por isso sofrendo alguns toques e provocando muitos sustos nas bancadas, com as suas entradas pelo touro, com batida na cara.
Volta em ambos e chamada aos médios no seu segundo, na lide em solitário.
Valeu a pena para ver um Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, em casa e em véspera de cumprir 80 anos, mostrar a sua juventude, compromisso e disciplina, atuação imaculada, começando das decisões, bem sucedidas, do Cabo, respondidas na plenitude, nas pessoas de Nuno Fitas, Daniel Batalha e João Varanda de Carvalho, com três pegas à primeira tentativa, com três primeiras ajudas distintos, e um grupo coeso a ajudar em todos os setores, terminadas na vistosa e eficaz rabejação, por Renato Avelar. Um hino à Pega e ao Forcado Amador.
Volta para os três forcados.
Valeu a pena ter ido a Lisboa e ter visto naquela meia casa, maioritariamente gente jovem, ilusionada com o toureio, com a tauromaquia e com tudo o que a rodeia.
Valeu a pena porque tudo vale a pena quando a alma não é pequena.