Tarde de Expectación, Tarde de Decepción

No dia 13 de Maio de 2018 realizou-se a 3ª corrida dos Agricultores de Tomate do Ribatejo, que voltou este ano a ter o formato de concurso de ganadarias, sendo um concurso Luso-Espanhol com o seguinte cartel:

António Ribeiro Telles

Francisco Palha

Andrés Romero

A concurso, as divisas espanholas de MiuraConde de la Maza e Dolores Aguirre; e as portuguesas de Veiga TeixeiraDr. António Silva e Canas Vigouroux.

Grupos de Forcados de Santarém e Coruche

Um cartel que gerou muitas expectativas por parte dos aficionados que encheram as bancadas, quase com direito a “No hay billetes”, iniciando a corrida em grande ambiente com a abertura da porta dos curros pelo maioral da ganadaria a lidar em primeiro lugar.

O toiro de Conde de la Maza com 545kg negro, foi pouco colaborante mostrando-se muito distraído e com pouca força, mas teve pela frente um cavaleiro de luxo. António Ribeiro Telles conseguiu uma boa lide, com 2 bons compridos e uma série de 4 curtos muito aplaudidos pelo público, que até fez parecer que tinha pela frente um toiro mais bravo do que realmente foi.

Para abrir praça, pelo Grupo de Santarém, o experiente forcado António Goes pegou à 1ª sem dificuldades. Esteve sereno, com o toiro a arrancar de largo para o forcado que teve uma reunião perfeita com o grupo a fechar bem.

O 2º toiro a entrar na arena pertencia à ganadaria de Canas Vigouroux, tinha 535kg e apresentação digna de um Concurso de Ganadarias, saindo da porta dos curros com pata. O cavaleiro Francisco Palha demorou um pouco até encontrar terrenos para cravar o primeiro ferro comprido, sendo que o toiro após o ferro mostrou um sinal escandaloso de mansidão, saindo diretamente para tábuas após o ferro. Voltou a mostrar o mesmo comportamento nos ferros seguintes, com uma nítida crença na porta dos cavalos. Apesar desse sinal de mansidão, o toiro tinha pata e arrancava-se para o cavalo, dando boas reuniões e ferros emotivos. Francisco Palha entendeu o toiro dando-lhe uma lide em crescente, com uma boa série de ferro curtos, com destaque para o 2º a favor da crença do toiro.

Para a pega o forcado escolhido foi Pedro Sousa que tropeçou a recuar após uma arrancada com muita pata do Canas. Ainda conseguiu reunir algo descomposto, mas não teve a ajuda do grupo e saiu. O toiro voltou a arrancar com muita velocidade e o forcado à 2ª conseguiu uma boa reunião e teve atrás um grupo coeso, com destaque para a dura primeira ajuda.

No terceiro toiro da tarde começou a bronca. Bem sabemos que o toiro de Miura tem uma morfologia muito peculiar, alto de agulhas, comprido e muitas vezes escorrido, mas o Miura que esta tarde saiu à praça teve uma apresentação abaixo do expectável, era mais pequeno que o habitual e com muito pouca cara, originando um coro de assobios durante toda a lide. Impensável apresentação para um concurso de ganadarias.

Andrés Romero não teve neste toiro qualquer hipótese de sucesso pelo ambiente vivido, era uma lide desde início condenada ao insucesso, que nem teve direito a música. O toiro andou pelo centro da praça como é apanágio na ganadaria, teve pouco interesse em investir ao cavalo, mostrando outra vontade quando via o capote. Foi uma lide sem história, que iniciou nas bancadas um sentimento de expectativas logradas para com o maior interesse da corrida, que era a competitividade entre ganadarias luso-espanholas.

Para a pega foi escolhido o forcado Fernando Montoya por Santarém, tendo o toiro arrancado solto para o forcado e ensarilhado na viagem, passando ao lado do forcado no momento da reunião. Na 2ª tentativa o Miura voltou a mostrar génio, não deixou que o forcado mandasse, arrancou quando quis e investiu com o pitón direito à frente na reunião, no entanto o forcado teve garra e conseguiu fechar-se, com o grupo a fechar corretamente, perante um Miura que nunca deveria ter saído à arena de Salvaterra de Magos.

Para o início da 2ª parte apareceu o melhor toiro e a melhor lide. O toiro Veiga Teixeira era uma estampa, com 550kg, bem rematado e com muita mobilidade. Antonio Ribeiro Telles teve uma lide alegre e ritmada, começando com 2 bons compridos a um toiro sempre em crescendo ao longo da lide. Nos curtos desenhou bem as sortes, com boas reuniões e ferros cravados ao estribo, rematando com emoção frente a um toiro que perseguia a montada com ímpeto, transmitindo muita emoção para as bancadas. O consagrado cavaleiro sentiu-se a gosto perante um toiro tão exigente, incómodo e bravo, prolongando a lide para um sexto ferro curto que causou alguns apuros ao cavaleiro, mas que não deitou por terra a grande lide feita até aí.

Para a pega foi chamado o forcado João Prates dos Amadores de Coruche que já tinha brilhado na corrida anterior em Vila Franca e que mostrou uma enorme segurança esta tarde perante o Veiga Teixeira. Cite calmo, a mandar no toiro e a encher-lhe a cara na reunião com uma viagem dura e com o grupo a ajudar bem.

O 5º toiro era o mais esperado pelo público. O Dolores Aguirre nas fotos parecia uma estampa de toiro e na balança acusou 670kg. Saída atribulada, pois tinha tanta cara que nem cabia na porta dos curros, e quando conseguiu sair à arena viu-se que estava lesionado, com problemas de coordenação. Uma desilusão, porque era realmente uma estampa de toiro.

O último toiro era de António Silva e tinha também demasiado peso, acusando 680kg na balança e saindo à arena também lesionado, o que provocou mais uma desilusão nas bancadas. A empresa teve depois um gesto correto e de saudar ao disponibilizar 2 sobreros muito bem apresentados de Veiga Teixeira e António Silva para as duas últimas lides, sendo que o regulamento apenas exige a saída de 1 sobrero para praças de 2ª categoria.

Calhou o Veiga Teixeira ao Francisco Palha, que teve pela frente mais um bom toiro vindo da Herdade do Pedrógão, realizando uma agradável lide com sortes bem desenhadas. Para pegar este toiro foi escolhido o carismático forcado do grupo de Santarém Ruben Giovety Silva realizando uma pega muito vistosa com o toiro a fazer a viagem com a cara sempre por alto e com o grupo a ajudar meritoriamente.

O último sobrero da ganadaria de António Silva foi um manso para o qual o triunfador da última feira de Sevilha não teve argumentos, resultando a lide numa constante tentativa de colocação de ferros com muitos toques e passagens em falso. Andrés Romero, um dia depois de cortar uma orelha em Madrid, teve uma tarde para esquecer em Salvaterra de Magos.

Esta última pega foi mais uma vez brilhantemente executada, desta vez por António Tomás, com uma enorme 2ª ajuda de José João Cavaco que esteve sempre com o forcado da cara até conseguirem fechar a pega, que chegou às tábuas, rodou e continuou a derrotar até todo o grupo conseguir fechar.

Como dizem Nuestros hermanos, tarde de expectativa é tarde de desilusão e foi o que aconteceu, quer com os toiros vindos de Espanha, quer com a actuação do rejoneador Andrés Romero. A corrida acabou por ter bons momentos graças aos dois toiros de Veiga Teixeira e às boas atuações de António Ribeiro Telles e Francisco Palha. Destaque grande também para as prestações dos dois Grupos de Forcados em praça que estiveram enormes, com grandes pegas.

No final, perante apenas 4 toiros a concurso, os prémios de apresentação e bravura foram entregues ao toiro de Veiga Teixeira com concordância de todo o público presente.

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