Parabéns António! Olé Miguel Moura!

Ontem, 21 de Julho, Salvaterra prestou uma bonita homenagem pelo quadragésimo aniversário da alternativa de António Ribeiro Telles. Como o tempo voa. Vôo… Se a letra do famoso tango diz vinte anos não é nada, quarenta é o dobro de nada… Quarenta anos que valem muito, para analisar sem paixão nem preconceito a sua dimensão avassaladora e, consequentemente, a sua importância transcendental no toureio a cavalo. O António é um toureiro sem roteiro prévio, catecismo estudado, ganadarias escolhidas, a maior parte dos toiros que lidou acabaram por aceitar os dogmas que o António lhe impunha com a sua forma de tourear, lidando com uma sabedoria intuitiva. Com uma verdade tão sua! Foi homenageado pela empresa no centro da arena e nos corredores de uma das praças que o viu nascer como toureiro, pois foi ali que fez a sua apresentação em público. Foi descerrada uma lápide a assinalar a efeméride. Sendo calorosamente ovacionado pelo público presente que preenchia quase três quartos da bonita Praça de Toiros de Salvaterra.

Foram lidados seis toiros da ganadaria Vale de Sorraia, antigos Norberto. Os três primeiros mais terciados de tipo, melhores apresentados os restantes. Quanto ao comportamento, foi complicado o primeiro; O segundo veio de mais a menos, toiro de lide curta… Sonso e distraído o terceiro; O quarto veio a mais, foi encastado e teve durabilidade; Nobre, com mobilidade o quinto; Fechou praça o toiro da corrida, mesmo parco de forças, foi bravo e proporcionou o triunfo.

Do castanho “Limão” da noite de 21 de Julho de 1983 no Campo Pequeno marcado com ferro JR, toiro da alternativa pegado por Pedro Balé (ontem presente numa barreira) dos Amadores de Santarém, ao “Xaninha” Nº10 com o ferro DG de pelo cardeno, também ele pegado pelos scalabitanos desta vez por João Faro, passaram 40 anos… Ver um cavaleiro com a mesma disposição, entrega, valor, arte… Valeu a corrida. Teve neste toiro o Mestre da Torrinha que puxar pela veia de lidador como há 40 anos, o Sorraia tinha quês e porquês…Tal como o famoso Limão, coincidências. Cravou dois compridos, rematando as sortes. Nos curtos sovou e tentou desenganar o oponente que se mostrava remisso a acudir aos cites e quando fazia não ia de bons modos. Cravou os ferros da ordem com sabedoria, destaque para o segundo, bom ferro e posterior remate. Terminou a sua actuação junto aos curros entrando por dentro.

No quarto de nome “Ponteiro” Nº5, cravou dois bons compridos, lidando a preceito. Nos curtos houve António! Brega, remates toureiros, cites vibrantes, entrar em terrenos de compromisso e um par de ferros daqueles… Daqueles que são o reflexo destes quarenta anos, com a verdade por diante, chegando àquele sítio que só alguns conseguem, cravando de alto abaixo, ao estribo. O quinto foi tudo isso e um dizer que está cá por mais uns quantos anos se Deus quiser. Parabéns António e que venham mais 40!

Luís Rouxinol, colega de tantas tardes e noites de António, brindou-lhe a lide do seu primeiro. Andou bem nos compridos rematando bem as sortes, aproveitando as acometidas encastadas do Sorraia (Nº9). Nos curtos os dois primeiros foram de nota, saindo e levando o toiro depois da sorte embebido no cavalo. O toiro veio a menos e a lide também… um violino que não ficou e outro ferro de frente que não deixou o cavaleiro feliz. Rematou com um ferro de palmo. Embora autorizada a volta à arena, Luís somente agradeceu nos médios.

No quinto a lide foi das boas! Houve ligação, bom toureio a cavalo, bonitos e vibrantes remates montado o Douro, bons ferros, e a variedade que é característica no toureio do Luís. Cravou dois compridos de boa nota, nos curtos a série foi empolgante, aproveitou de cabo a rabo as virtudes do Sorraia (Nº2) e tapou-lhe os defeitos, cravando em curto e a preceito ferros marca da casa. Rematou a sua actuação com um bom par de bandarilhas e um ferro de palmo.

Miguel Moura também fazia parte do cartel, por direito próprio mas também em representação de outra família toureira, Os Mouras. Também o brinde do seu primeiro toiro foi dirigido a António. A temporada do Miguel tem sido um Caso. Por quase todas arenas que tem pisado podem se assinalar por triunfos e Salvaterra não foi menos. O terceiro da noite (Nº7) foi sonso e transmitia pouco as bancadas. Mesmo assim Miguel cravou dois bons compridos. Nos curtos deixou a ferragem da ordem com solvência, cumprindo a função.

No sexto chegou o triunfo redondo, o de Monforte aproveitou o bravo (Nº8), desfrutou e fez desfrutar os presentes, que se levantaram várias vezes durante a sua lide. Bem nos compridos, lidando e rematando as sortes. Nos curtos o segundo foi dos grandes momentos da temporada, o remate levando o toiro embebido no cavalo foi superior. Mais um par de ferros de excelente nota, os ladeios a duas pistas foram empolgantes, cheios de toreria. Dois palmos a rematar a sua obra, público de pé! Olé.

No capítulo das pegas Santarém e Ribatejo foram os encarregues de bater as palmas aos de Vale de Sorraia.

Pelo grupo de Santarém abriu a noite João Faro, numa boa pega à primeira tentativa. Bem a citar, receber e fechar. Bem o grupo a ajudar. Vasco Salazar, em noite de estreia pegou a primeira tentativa, marcando com eficiência todos os momentos da pega. Pedro Valério à segunda tentativa, com eficácia, bem o grupo a ajudar. Na primeira tentativa o toiro saiu solto e faltou ao forcado mandar mais na investida do cardeno.

Pelo grupo do Ribatejo abriu a noite numa grande pega à primeira tentativa André Laranjinha, mostrando valor e raça para lhe ficar na cara depois de suportar vários derrotes. Ricardo Regaleira pegou o quarto da noite numa boa pega à primeira tentativa. O sexto toiro não foi pegado por se ter lesionado ao ser colocado para pega.

Foi guardado um minuto de silêncio em memória do cavaleiro Rui Alexandre.

Dirigiu a corrida Manuel Gama, sendo médico veterinário José Luís Cruz.

 

Foto Destaque: Raul Caldeira

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