Em pleno século XXI, neste país à beira mar plantado, é trivial seguir a moda e esta é ser a favor de causas, causas estas em defesa das minorias desprotegidas, desfavorecidas e outros adjetivos, todavia, quando toca aos “animais” essas tais feras bravias, as opiniões dividem-se e não é fácil encontrar um grupo de Valentes e destemidos que enquadrados numa “Comissão Taurina” elegeram como principal objetivo, reconstruir a praça de toiros de Paio Pires, um “Pueblo” às portas de Lisboa, constituído, fundamentalmente, por gente do Alentejo que em tempos buscou uma vida melhor, junto de uma grande indústria, que era a Siderúgia Nacional, principal fábrica do aço e Portugal no século passado.
Esta gente, solidificou raízes e construiu uma praça de toiros que foi inaugurada em Setembro de 1976, mas que por ironia do destino, não vingou e a passagem do tempo se encarregou de ir corroendo as infraestruturas de um tauródromo que teimou em resistir à passagem dos anos, mas que nos dias de hoje e graças a esta “Comissão Taurina”, encabeçada por gente aficcionada, vai renascer e segundo as previsões e os orçamentos, em 2018, voltará a ter o resplendor de tempos de outrora.
Mas, para que o bichinho da afición, não desapareça, esta “Comissão Taurina”, tem vindo anualmente a organizar vários festejos, onde a festa brava é rei e senhora e por isso merece destaque a corrida de toiros levada a efeito este ano de 2017 , mais concretamente na sexta feira 4 de Agosto do corrente ano, com a participação dos cavaleiros de alternativa, António Ribeiro Telles e Ana Batista, o cavaleiro praticante Francisco Núncio e o cavaleiro amador António Telles Jr, frente a reses de Lopes Branco, que foram pegadas pelos Grupos de Forcados Amadores de Lisboa, Amadores do Montijo e da Póvoa de S. Miguel, capitaneados respetivamente por Pedro Maria Gomes, Ricardo Figueiredo e André Batista.
O festejo teve inicio à hora marcada, 21h30, com cerca de três quartos da lotação da praça, preenchida, sem que antes das cortesias a comissão organizadora, prestasse homenagem a um dos participante na corrida inaugural, da praça de Paio Pires, há quarenta e um anos atrás, essa figura ímpar da tauromaquia nacional que dá pelo nome de Ricardo Chibanga, por sinal proprietário do tauródromo portátil, onde se iria dar o festejo, dirigido pelo Delegado Manuel Gama, coadjuvado pelo médico veterinário Dr. Carlos Santos.
As reses lidadas, enviadas dos campos de Coruche, pelos Herdº de Lopes Brancos, estavam demasiado terciadas e deram jogo regular com a excepção da saída em segundo lugar para Ana Batista, que por decisão da Direção do espectáculo, apenas levou três ferros e recolheu aos Currais (camion), sem ser pegada, por não apresentar condições físicas para o prosseguimento da lide, não tendo sido substituida.
António Ribeiro Telles, abriu a função, frente a um adversário, com pouco trapio, no entanto, o Ginete da Torrinha, deu importância à contenda e tal como nos grandes tauródromos o profissionalismo, veio ao de cima e a lide foi em crescendo, cravando três compridos em tiras bem cingidas e cinco curtos ao som de musica, com o publico na mão. No seu segundo, o quarto da ordem, António Telles, voltou a estar em plano de figura, cravando a ferragem, como mandam as regras, desenvolvendo uma lide sempre num plano de apoteose, com o publico entregue ao que se passava na arena. No final de ambas as lides deu volta acompanhado dos forcados de turno.
A segunda figura do cartel a cavaleira de Salvaterra de Magos Ana Batista, apenas, teve luzimento no seu segundo oponente, já que no primeiro, por decisão da direção da corrida apenas, cravou dois compridos e um curto, sendo o murlaco, devolvido aos currais sem ser pegado, por manifesta debilidade, não tendo sido substituído, por imperativos regulamentares. No seu segundo, quinto da ordem, Ana colocou toda a mestria em jogo e conseguiu um saboroso triunfo, desenvolvendo um toureio fácil, frontal e com ferros de bonito efeito, no final deu volta, bastante aplaudida na companhia do forcado.
Das Alcáçovas, vinha um cavaleiro praticante que carrega um apelido de enorme peso, Francisco Núncio, apenas com um opositor, para mostrar o que sabe e pode, e em nossa opinião, pelo que fez em campo, pode bastante, certo na cravagem, inteligente na eleição dos terrenos e seguro nos tempos de lide, um jovem com futuro, assim as empresas o entendam e Deus o ajude, no final deu volta com o publico rendido, à sua brilhante prestação.
Das terras do Biscaínho, mais concretamente da Torrinha, o seu mais novel representante, António Telles Jr, filho de António Ribeiro Telles e neto de Mestre David Ribeiro Telles, e diga-se que foi com grande espectativa que se aguardava a sua participação, no festejo, e para grandes espectativas, grandes desempenhos, assim se pode classificar a lide do jovem António, e permitam-me que à parte de todo o labor desenvolvido, com a preocupação de fazer as coisas bem feitas, não vá o Mestre ralhar, quer no domínio da montada, quer na escolha da mesma, face às dificuldades do novilho que se adiantava uma barbaridade, a raça de um miúdo que ao falhar um ferros, coisa desculpável, num jovem em inicio de carreira, vem à teia e pede novo ferro, para com a certeza dos que sabem o que fazem, emendar a mão e deixar o ferro em “su sitio” e quanto não bastasse, já com o triunfo não mão, muda de montada e deixa um ferro de palmo, com o prenuncio de que vamos ter mais um cavaleiro da Torrinha, com a escola e a classe que certamente, Mestre David, lá de cima se estará a orgulhar.
No capitulo da pegas, os Grupos de Forcados Amadores de Lisboa, Montijo e Póvoa de S. Miguel, não tiveram dificuldades em resolver a papeleta, assim por Lisboa foram solistas, Vitor Epífâneo, que à primeira tentativa, citou com elegância, carregou e reuniu, como mandam as regras e Renato Avelar, que à terceira tentativa levou de vencida um adversário, que queria mais presença que braço.
Pelos Amadores do Montijo, Gonçalo Costa e João Caçueto, resolveram com facilidade, ao primeiro intento, as adversidades que os pupilos de Lopes Branco lhe colocaram.
As Amadores da Póvoa de S. Miguel, apenas pegaram um toiro, uma vez que ao segundo da ordem, a direção da corrida, não autorizou a pega, por manifesta debilidade da rês, seguindo a ordem de lide. Assim, Ruben Torrado, consumou ao primeiro intento, após uma reunião, pouco conseguida, tapada por uma primeira ajuda eficiente.
Havia em disputa, dois trofeus, um para a melhor lide a cavalo e um para a melhor pega, sendo que a melhor lide foi atribuída a António Ribeiro Telles e a melhor pega a Vitor Epifâneo, dos Amadores de Lisboa.
Paio Pires 04 de Agosto de 2017