O Montijo prestou homenagem a um Profeta do Toureio: João Moura 

Ontem, 28 de Julho de 2023 a empresa Tertúlia Óbvia, quis prestar uma mais que justa homenagem na arena Amadeu Augusto dos Santos a um Profeta do Toureio, João Moura, pelos seus 45 anos de Alternativa. O tempo corre veloz à medida que vão correndo os anos da árvore da vida… O tempo é a essência, o contador de passos da nossa existência e a existência de João António Romão de Moura nas arenas pode ser contada, lembrada, escrita, cantada, como um Profeta do Toureio a cavalo.

Um cartel bonito, quatro artistas (João Moura pai e filho, Luís Rouxinol pai e filho) que tem por patrimônio principal a capacidade de criar beleza frente ao risco, que é a mais sublime das belezas. E isso ontem ficou bem patente na arena do Montijo, onde os artistas atuaram perante uma boa casa de público.

João Moura marcou a história da tauromaquia ao longo dos anos com um caráter único e incopiável, o João faz parte do idílico elenco dos gênios. O seu toureio é impregnado de Imaginação? Improvisação? Inspiração? É tudo isso e muito mais… É um toureiro fora de catálogo, com receita própria. Incrível e ao mesmo tempo admirável.. A riqueza da sua experiência, dentro e fora das arenas, manifesta-a desde o repouso, a sapiência em entender os toiros, no detalhe mais genial, na valentia, no desejo de ser o melhor, tudo isto têm sido o suporte inabalável da sua proverbial forma de entender a arte de tourear. Todos estes anos tem sido a sinfonia, a harmonia que surge com a conjunção de dois corpos vivos, um toiro e um toureiro. Produzindo obras irrepetíveis e só ao alcance de muito poucos… Não será fácil nascer outro com tantas qualidades para praticar com tanta genialidade a arte de bem tourear a cavalo. Rivalizando figuras do inicio da sua carreira, com figuras do seu tempo e com novos valores ao longo destas décadas, até atingir a longevidade máxima na linha da frente como figura que o foi, é e será.

Foram lidados seis toiros de capa jabonera de Canas Vigouroux, bem apresentados, bonitos de tipo e com cara condigna para uma praça de primeira como é a do Montijo. Todos eles mostram nobreza, mobilidade e qualidade para que a noite fosse de triunfo para todos os cavaleiros. A ganadera Maria Canas Vigouroux deu volta merecida no sexto toiro pelo conjunto do curro apresentado. O que abriu praça e o quinto foram os mais reservados, mas mesmo assim não causaram problemas de maior. Nobre e um bocadinho a menos no final da lide o terceiro; Bons segundo e sexto; Bravo o quarto, mobilidade, raça, a vir a mais e a meter de maravilha a cara nos capotes.

João Moura no primeiro da noite e lidou com suavidade, aplicando aquele ritmo dos artistas que se envolvem na própria obra, numa obra de décadas, refletidas na lide deste de Canas. Mostrou as suas credenciais de poder, sabedoria e autoestima à flor da pele foi ” El Niño Moura”! Dono de uma bagagem invejável, feita ao longo dos anos e moldada pela experiência. Lide, templada e ligada, limando defeitos do oponente, escolhendo os terrenos na perfeição, cravou grandes ferros, bregando, lidando e ladeando de forma subtil, alcançou um elevado ponto emocional no público, por uma perfeita comunhão que alcançaram toiro e toureiro. Grande lide!

Luís Rouxinol mais uma vez mostrou a sua faceta de lidiador assentado e valente. O Luís é daqueles toureiros que o toiro seja branco ou preto, cárdeno ou berrendo tem que investir. O de ontem era branco e foi dos bons… Trouxe a raça de um toureiro em plena madurez e que se viu a gosto, desfrutou e fez desfrutar os presentes. O que aconteceu ontem insere-se justamente naquele fundo de excepcionalidade que justifica a dispensa de explicações… O segundo comprido foi soberbo! Nos curtos, cravou, rematou, lidou com supremacia. Rematou a sua lide com a marca da casa, um par de bandarilhas e um palmo. Público de pé!

João Moura Jr. impõe força e energia em cada uma das suas lides em que os toiros não transmitem o suficiente para fazer sobressair o seu toureio, ontem foi o caso… O João neste momento tem um sítio invejável, tem a difícil qualidade de encontrar toiro em todos os sítios, de tudo o que faz diante um toiro parecer fácil… Têm a difícil qualidade de tornar difícil o fácil… A  lide foi milimétrica, ajustada, precisa, bonita, templada, erguendo bem alto o estandarte da sua dinastia toureira. Um paradigma de bem tourear a cavalo! Correcto nos compridos, recortou-se de forma soberba. Nas bandarilhas, esteve preciso de praça a praça e depois mais em curto, saindo da cara do toiro num palmo de terreno. Ladeou a duas pistas e rematou as sortes com toreria.

Luís Rouxinol Jr. mais uma vez foi poderoso, dominador, corajoso, valente! o Luís como sempre vêm a por todas, mais na sua praça e o triunfo foi dos grandes. Diante do bravo quarto houve aquilo de que sem emoção não há arte que valha a pena, e sem arte não há emoção que cresça. Ou seja, houve a beleza da harmonia exercida de um toureiro diante de um bravo! O público com o visto e realizado na arena retribuiu com ovações cerradas e sinceras. Recebeu na porta dos sustos o de Canas, levando o toiro embebido no cavalo num exuberante “recibo”. Cravou a preceito os compridos, nos curtos houve a verdade, pureza, emoção e toureio bonito nas sortes que executou diante do toiro. Rematando bem os ferros e novamente surgindo bons momentos de toureio a cavalo.

Duas lides a duo a finalizar a corrida. Mouras e Rouxinois! Se me dão licença os mais novos e sem ofensas… gostei mais dos pais. Pela ousadia demonstrada!

Moura pai é um sábio disto e mais uma vez mais naquela lide isso ficou provado. Bem a cravar, lidar, entrando em terrenos de compromisso tanto quando ele teve a primazia de ser o primeiro a entrar ao toiro ou quando entrou no ressalto depois do João filho ter sido o primeiro a cravar. O João mais novo como sempre seguro cravou grandes ferros. Houve ladeios e recortes a gosto, terminaram a sua actuação com dois palmitos que levantaram as bancadas.

A família Rouxinol diante do bom sexto armou taco… Andaram muito ligados pai e filho mas o Luís pai parecia um miúdo que começa… parecendo surpreender por vezes o Luís mais novo tal foi a ousadia com que entrava pelo toiro dentro, cravando ferros muito bons. Talvez o Luís filho tenha querido surpreender o pai no fim da sua lide pelo que tinha visto… cravando um bom par de bandarilhas, rematou o mais velho com um bom palmito. Público de pé!

Três grupos em praça para enfrentarem o desafio dos jaboneros de Canas: Tertúlia Tauromáquica do Montijo, Cascais e Monforte.

Abriu a noite, Pedro Tavares à segunda tentativa, subindo ao toiro, recebendo com firmeza e o grupo a ajudar bem.

Diogo Filipe saltou para a pega do quarto da noite mas saiu magoado na segunda tentativa, sendo dobrado por João Paulo Marques que com eficiência resolveu bem à sua primeira tentativa.

Afonso Cruz, à quarta tentativa, o forcado mostrou sempre vontade e garra de lhe ficar na cara, à terceira tentativa o grupo fechou mas os forcados não deram com validada esta pega e mais uma vez lhe bateram as palmas, resolvendo como disse ao quarto intento.

Carlos Dias à segunda tentativa, toiro duro e a entrar forte, derrotando cá atrás, saído o forcado da cara na primeira  tentativa. Voltou o Carlos a bater as palmas a este imponente Canas e a pega foi valorosa, suportou com ganas a violência da investida do toiro, bem o primeiro ajuda e foi assim concretizada a pega da noite.

Nuno Toureiro à segunda tentativa, toiro com pouca força, dificultando a reunião do forcado da cara na primeira tentativa. Mais em curto e trazendo mais o toiro foi consumada a sorte.

Gonçalo Parreira bem à primeira tentativa, com o grupo a ajudar de forma coesa.

Foi homenageado pela empresa o antigo bandarilheiro Luís Peixinho.

Foi também guardado um minuto de silêncio por Claudio Pereira, forcado do Real de Moura recentemente falecido.

Dirigiu a corrida Tiago Tavares, sendo o médico veterinário José Luís Cruz.

Artigos Similares

Destaques