Moura Jr triunfa em noite de saudade e tributo a Cassiano

As Festas em Honra de Nossa Senhora do Carmo, revestem-se de um cunho religioso, mas também pagão e têm lugar durante cinco dias. São um misto de festa, de emoção, alegria, mas também de profunda e sentida fé. As festas em Honra de Nossa Senhora do Carmo em Moura são, talvez, a maior manifestação de fé deste povo alentejano, sendo domingo o dia forte em que uma solene procissão percorre as ruas da cidade Moura e à noite a sua praça de toiros se enche para celebrar a festa brava.
Este ano a empresa apresentava um cartel para dia 16 de Julho rematado por todos os lados, que se vestiu infelizmente de um lado emocional acrescido pela morte de Cláudio Pereira “Cassiano”, no passado 4 de Julho.
Praça completamente cheia de certo modo também para acompanhar o grupo Real de Moura neste momento difícil que vivem.
As mortes, são todas elas, uma evidência incontestável de uma realidade: a consequência inevitável da vida. No entanto, as circunstâncias e vicissitudes também contam… Quando a morte é prevista , anunciada no tempo, a chegada – dentro da dor que pode acarretar – é, digamos, mais suportável; mas quando nos surpreende com um golpe brutal, quando nos sacode com uma bofetada insolente, a marca que deixa nas nossas cabeças não se apaga facilmente.
O Cassiano era um homem afável. Um tipo único! Um espécime humano que por onde passava deixava a sua marca, a sua maneira de viver não tinha curvas, cantos e recantos, de personalidade forte, aparentemente impenetrável. Ele era um homem próximo e gentil, com um tratamento fácil. No mundo dos toiros envergou a jaqueta das ramagens em dois grupos de forcados Granja mas foi no Real de Moura onde se afirmou e foi um dos melhores do seu tempo e possivelmente de muitos tempos…
No início da corrida foi guardado um minuto de silêncio, uma evocação que se encheu de tristeza e saudade, onde as lembranças que se acumularam durante uma vida percorreram a cabeça de muitos dos presentes em especial de antigos e actuais do seu grupo e de muitos dos amigos que marcavam presença. Durante o intervalo foi descerrado um memorial em homenagem ao Cláudio. Todos os cavaleiros homenagearam e brindaram as suas lides em memória deste grande forcado que nos deixou recentemente, também o grupo de Évora o fez. O seu grupo deixou-lhe o seu lugar vazio nas cortesias, transportando o cabo Valter Rico a sua jaqueta. Emoção à flor da pele!
Foram lidados seis toiros da ganadaria Condessa de Sobral, bem apresentados, rematados, variados de capa e compostos de cara. Nobre e com som o primeiro; Encastado e a vir a mais o segundo; Distraído e a menos o terceiro; Com mobilidade e raça o quarto; Bravo o quinto; O sexto foi o toiro mais complicado dos seis, sendo reservado no seu comportamento nunca se empregou durante a lide.
António Ribeiro Telles envergando uma casaca negra, certamente em sinal de luto pelo “Cassiano”, lidou o “colorado” primeiro da noite, deixando na arena de Moura momentos marca da casa e da sua maneira de tourear. Cravou os compridos com desenvoltura, bregando a preceito, abrindo os caminhos ao seu oponente. Nos curtos viu-se o António a gosto, levando o toiro embebido no cavalo, cravando uma boa série de curtos, rematados de forma bonita, destaque para a preparação, a maneira de cravar e posterior remate do quarto ferro.
Negro bragado e corrido corrido foi o seu segundo, novamente o cavaleiro da Torrinha andou bem nos compridos, lidando e toureando a cavalo. Nos curtos houve apontamentos de com toureio. Rematou a sua lide com um ferro por dentro e em curto, visto que o toiro já tinha vindo a menos e tinha alguma querença em tábuas.
João Moura Jr. triunfou forte na Velha Salúquia! O segundo da noite um bonito castanho bragado e corrido foi adversário ideal para a lide realizada. Viu-se um Moura a gosto e quando os toureiros estão a gosto o que realizam numa arena contagia as bancadas. Nesta lide houve profundidade, temple e ligação em tudo o que foi realizado. Cravou dois bons compridos rematando os mesmos de forma toureira. Nos curtos a lide foi redonda, os ladeios foram o ponto de ligação para a preparação das sortes, os ferros cravados tiveram emoção e verdade, destaque maior para segundo e quarto, havendo nos remates grandes momentos de toureio a cavalo. Rematou a lide com um grande ferro de palmo. Público de pé!
No quinto da noite houve um golpe retumbante de bom toureio naquela arena e ninguém ficou indiferente, houve triunfo grande! Um toureiro abandonado naqueles momentos mágicos davam a impressão de que, das milhares de almas que estavam na praça, era ele, o criador da obra, quem mais desfrutava do momento. Houve naquela lide variedade de repertório, capacidade de improvisação e toureio caro… Superior nos compridos, cravando a preceito e rematados toureiramente. Nos curtos os ladeios a preparar e a rematar as sortes, foram bestiais. Citou de praça a praça, encurtou terrenos e com um vertiginoso valor cavalo e cavaleiro deixavam o ferro num palmo de terreno. O quarto ferro foi daqueles que ficam gravados na memória de uma pessoa. Olé! Público de pé.
Andrés Romero, sabe o que é triunfar em Moura, o público tem um carinho especial e vê-se este rejoneador a gosto quando pisa aquela arena. Sorteou de longe o pior lote da corrida mas mesmo assim deixou a essência do seu toureio naquela noite. Duas lides variadas e esforçadas a tentar agradar os presentes. No negro terceiro cravou dois compridos a abrir a função. Nos curtos  esteve seguro e certeiro a cravar, bregando e rematando as sortes com solvência.
O castanho que fechou a noite foi um toiro que pediu muitas contas… Revervado e a medir sempre. Romero mostrou disposição para lhe dar a volta. Tentou fazer uma porta gaiola que acabou por não ficar, o toiro saiu distraído e não acometeu ao cavalo. De boa nota o segundo comprido, lidando com firmeza o de Condessa de Sobral. Os curtos foram cravados com valentia, entrado nos terrenos do toiro, houve bons apontamentos de brega e bonitos remates das sortes. Destaque maior para quarto curto, onde num palmo de terreno, citou e cravou. Moura reconheceu o esforço de Romero aplaudindo o realizado.
Se a noite foi de emoções fortes, nas pegas então… O Cassiano esteve sempre presente… Houve um misto de tristeza, melancolia, nostalgia, superação, garra, valor e amizade. Houve aquela saudade que transportou muitos dos presentes a uma data, um lugar, uma situação, uma sensação a um tempo incontrolável que deixou marcas inesquecíveis na vida de cada um.
Abriu a noite o novo cabo do Grupo de Forcados Amadores de Évora José Maria Caeiro, numa brilhante pega à primeira tentativa, bem ajudado pelo grupo.
Para o terceiro da noite saltou Miguel Direito, duas tentativas duras, com o toiro a entrar forte e derrotar para baixo quando sentia o toiro na cara, na segunda tentativa o forcado aguentou uma enormidade os derrotes do Condessa. Com as ajudas mais carregadas a pega foi concretizada à terceira tentativa.
Ricardo Sousa pegou o quinto da noite à segunda tentativa numa boa pega, com o grupo a ajudar de maneira coesa.
Pelo Real de Moura abriu a noite Valter Rico, enorme à segunda tentativa…  Público de pé! Na volta à arena a jaqueta do Cassiano foi levada pelo Valter… a emoção vivida foi indescritível.
Rui Ameixa superior à primeira tentativa, com o grupo ajudar bem, na pega da noite.
Fechou a noite Gonçalo Caeiro numa rija pega à terceira tentativa. Nas duas primeiras o toiro derrotou com violência e despejava o forcado da cara. De ressaltar a grande primeira ajuda dada.
Havia dois prémios em disputa, melhor pega e melhor grupo. Decidiram os jurados que a melhor pega foi a realizada ao quarto toiro da noite por Rui Ameixa e o melhor grupo o Real de Moura. O cabo do Real de Moura, Valter Rico, pediu a palavra e num gesto grande entregou o troféu de melhor grupo aos de Évora.
Dirigiu a corrida Agostinho Borges, sendo médico veterinário Carlos Santana.
Foto destaque: Redes sociais do cavaleiro

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