Moura intuição; Bastinhas intensidade; Brito Paes irreverência

O casario branco, o lado genuíno e autêntico das suas gentes, as varinas com o seu traje e o sotaque característico são a Nazaré. Uma terra cheia de tradições, tem a história de um povo singular, uma cultura própria e desigual. A Nazaré é um mundo de coisas… as suas barracas coloridas, a encantadora e selvagem Praia do Norte, onde se formam as famosas ondas gigantes de 30 metros, natureza, um mar imenso e a força do oceano enchem o coração de todos que ali vivem e que ali vão. Tem na sua Praça de Toiros do Sítio um dos seus ex libris máximos! Onde um público fiel à sua própria identidade, generoso, apaixonado e filantrópico que lá vai e teima em encher cada noite de toiros aquele bonito taurodromo e ontem 22 de Julho do ano 23 voltou a ser assim. Casa cheia para assistir à primeira grande corrida da temporada na Nazaré, designada a dos Triunfadores.

Foram lidados seis toiros de quatro anos da ganadaria de António Raul Brito Paes, bem apresentados na generalidade, sendo o segundo da ordem o mais basto de tipo. Quanto ao comportamento, “houve de tudo como na farmácia”… Não foi fácil o primeiro, teve mobilidade mas não foi claro tanto a perseguir o cavalo ou quando acometeu para o ferro. O segundo foi o de pior condição dos seis, reservado, nunca rompeu; O terceiro, teve acometidas explosivas ao cavalo, perseguia com emoção e a par do quarto foi o que melhor meteu a cara nos capotes. Bravo foi o quarto, bonito de tipo, teve durabilidade, acometidas encastadas mas ao mesmo tempo enclassadas ao cavalo e investiu por direito e humilhado aos capotes. Os netos do ganadero  António Raul Brito Paes deram justa volta à praça; O quinto nos capotes não o vi claro mas no cavalo foi templado e proporcionou o triunfo; Fechou a noite um imponente toiro, dissemelhante durante a lide, por vezes parecia que queria romper a bravo, como por vezes se reservava no centro da arena.

Vimos ontem na Praça do Sítio um Moura Jr., seguro, claro, “cuajado” e profundo. Na lide do seu primeiro, houve uma interligação e engenho precisos com um toiro pouco claro… Cravou dois compridos e lidou bem o de Brito Paes tentando interessá-lo na lide. Os curtos foram cravados com solvência, rematou as sortes, lidando a preceito. Finalizou a sua actuação com um grande ferro de palmo. No quarto da ordem o João aproveitou a nobreza e a bravura do toiro e realizou em grande actuação na Nazaré, dizendo estou aqui. Lide magnífica, intuitiva, artística, com serena coragem e técnica impecável. Recebeu o toiro de forma bonita e em curto recriando-se a gosto com o cavalo. Cravou dois grandes compridos, rematados de forma toureira. Nos curtos abriu o livro Mourista e receitou um lide marca da casa. Ladeios ousados, levando a brava investida do Brito Paes, cravou bons ferros de poder a poder, escolhendo com inteligência os terrenos do toiro, rematando as sortes em curto levando o oponente prendido ao cavalo, para depois se lhe recortar na cara. A preparação do quarto ferro da sua actuação foi um dos momentos altos da noite! levou o toiro embebido no cavalo até onde quis, fazendo um recorte por dentro para o colocar, cravando depois superiormente. Os dois últimos ferros foram cravados com cites em curto aguentado o cavalo e cavaleiro uma enormidade com valor, para num palmo de terreno cravar e de seguida os rematar de forma toureira.

Marcos Bastinhas e a Nazaré forjaram um casamento indissolúvel, perfeito e absolutamente refratário a qualquer dogmatismo… O cavaleiro de Elvas sabe atrair a atenção daquele público tão heterogêneo, explosivo e generoso e triunfa com força quase sempre que pisa aquela arena. Ontem no quinto não foi excepção!  No primeiro do seu lote, porfiou diante de um toiro complicado, cravou dois compridos com solvência. Nos curtos houve piruetas e recortes que fizeram as delícias dos presentes, cravando a ferragem da ordem com desenvoltura. Terminou a sua actuação com um violino e um ferro de palmo. No quinto veio a explosão, cavaleiro e público entregues! Bom foi o segundo comprido e o remate que se seguiu. Na ferragem curta cravou três grandes ferros com batida templada que puseram o conclave de pé, rematando os mesmos com piruetas passagens pela cara e ladeios. Um palmo de boa nota, um par de bandarilhas marca da casa e posterior desmontar do cavalo. Júbilo dos presentes a aclamar um dos seus maiores heróis!

Joaquim Brito Paes foi a irreverência da juventude! Tem na Nazaré um dos seus “Portos de Abrigo” maiores, desfruta e é acarinhado de forma genuína por aquelas gentes. Tem argumentos e a ambição para alcançar o objetivo dessa aventura de ser figura do toureio e ontem na lide do terceiro da noite isso ficou bem provado. Teve solvência nos compridos, interpretando as acometidas do toiro com o ferro de seu pai da melhor maneira. Nos curtos houve técnica, uma elegância estudada, risco, valor e ousadia nos quiebros que receitou ao toiro, entrando o público em verdadeira ebulição com os ferros que cravou. No sexto da noite não andou acertado de mão nos compridos… Mas lidou com inteligência o toiro, que se mostrava algo frio. Na ferragem curta cravou os ferros novamente com ousadia, lidou a preceito tentando abrir os caminhos ao oponente, remantando as sortes. Interagiu com o público, de forma audaz… não lhe regateando estes as palmas.

Nas pegas três Grupos de Forcados firmados e com provas dadas por essas arenas de Deus: São Manços, Amadores da Chamusca e Caldas da Rainha em ano de comemoração dos 30 anos da sua fundação.

Abriu a noite o Manuel Trindade por parte dos alentejanos, forcado que se tem vindo a afirmar tarde em tarde, de noite em noite cada vez que bate as palmas a um toiro. Citou de maneira superior, recuou o suficiente, para se fechar de pernas e braços, entrou de forma coesa o grupo e foi assim realizada a pega da noite à primeira. Pedro Pontes, saltou para a pegar o quarto, forcado forjado em mil uma batalhas… Este de Brito Paes até lhe deve ter parecido pouca coisa… Calmo a citar, mandou na investida, recebeu de forma magnífica para se fechar à primeira tentativa noutra grande pega.

Pelos Amadores da Chamusca, Francisco Rocha foi o escolhido para pegar um toiro que não se antevia fácil… Mas o forcado fez tudo como mandam as regras, enchendo-lhe a cara no momento da reunião, bem o grupo a ajudar, sendo assim consumada a sorte à primeira tentativa. O quinto da noite não se mostrou claro nos capotes e na pega confirmou… João Narciso à terceira tentativa com ajudas mais carregadas. Nas duas primeiras o toiro quando sentia o forcado por perto começava a derrotar o que dificultou em certa medida a reunião, desferindo depois derrotes violentos.

Martim Graciosa pelos Amadores das Caldas, à primeira tentativa, não teve a reunião mais perfeita mas sim a alma e os braços para concretizar a sorte. Bem o grupo a ajudar. Fechou a noite Salvador Serrenho à segunda tentativa, na primeira não mandou o suficiente na investida do toiro, o que lhe dificultou a reunião. Na segunda tentativa corrigiu o erro e consumou a pega.

Dirigiu a corrida Ana Pimenta, sendo médico veterinário José Luís Cruz.

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