Manifesto anti isto como está

Crónica

Publicamos hoje novamente um interessante artigo da autoria de Duarte Palha, publicado em 1 de janeiro de 2019

 

Cuidado senhores que um dia ainda a gente se levanta e dá cabo disto como está. Vira tudo do avesso para deixar tudo direito, e a festa volta a ser servida em pratos limpos e travessas brilhantes, como se fazia dantes nos jantares sérios.

Ainda vos vamos descobrir as carecas, que não é um capachinho que as disfarça, nem a laca em demasia, nem a tinta rasca de cabeleireiro de esquina. E eis que, carecas à vista, se gritará por fim,

– O bobo vai nu!

Que não é Rei meus senhores, que para o Rei ir nu é preciso haver Rei e este bando de capachinhosos não chega sequer a pajem!

Morte às babosas! Aos bois que correm como eu ando aos domingos de ressaca! E como me pesam os domingos de ressaca! E como pesam esses bois horrendos, que se deixam apenas estar, inertes e gordos, enxotando moscas, sem ponta de nada que meta medo, sem ponta de nada que meta respeito, sem ponta de nada. Sem pontas.

Que fujam (mas para longe) os temerosos, como lhes fugiu a coragem do meio das pernas à nascença taurina! Que se apeiem e nunca mais se montem para não nos matar de maçada. Vão para a praia aos domingos! Vão ao Colombo, vão à Serra da Estrela, vão a Sintra – que riqueza! – mas deixem-nos estar inquietos! Se é para abrir o quarteio dessa maneira, abram-no mais cedo e não vençam sequer o piton à porta praça!

Que se calem os charlatães de beira bar! De cotovelo apoiado e lata na mão, pegando toiros infinitos! Mais de 100, mais de 1000! E que grandes eram “ohhhh!” E como batiam “valha-me Deus, e os 40 ajudas que foram precisos para parar aquele demónio!” E enquanto fanfarram com bombos no peito, até se esquecem que ser forcado não é ser um, até se esquecem de como se farda e até se esquecem dos valores, que até acham ser aquilo que à socapa se mete em bolso alheio.

Fora com os gordos lambuzadores que esta mesa já vai pobre! Já lá vai o tempo do bife à marrar(e). Agora serve-se frango assado, e os gordos lambuzadores vão-se enchendo (uma perna aqui, uma comissão ali, um favorzinho acolá) mastigando-nos a afición feita puré, e vão guardando a seriedade em tupperwares, pensando que ninguém dá por isso, para depois a comer mais tarde. Abaixo estas bestas ofegantes que comem de boca aberta e no fim, transbordantes e vaidosas, ainda arrotam alto para se fazer ouvir.

Cautela senhores que não esquecemos do que vemos. Cautela senhores que não esquecemos quem são. Cautela que qualquer dia ainda calham a estar dentro de praça. Cautela que qualquer dia ainda toca para o toiro. Cautela que, qualquer dia, ainda armamos uma toirada!

 

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