Fazia calor em Arronches e em todo o Alentejo mas calor. Sábado andávamos pela rua a meio da manhã e éramos assaltados por aqueles termômetros digitais (aqui por Évora) que mostravam a canícula que nos ia esperar durante a tarde o número fatídico: 40 e qualquer coisa, graus Celsius… Tarde em que os pássaros têm que abrir seus bicos antes de alguns caírem redondos das árvores… A noite na Forte Arronches era de verdadeiro calmeiro, o Concurso de Ganadarias que comemora o São João nesta bonita Vila Raiana voltou a encher de um público que se entrega ao bom e não perdoa o menos bom… E têm como ídolos maiores o Grupo de Forcados da sua Terra, há verdadeira devoção pelos rapazes das jaquetas das ramagens.
A concurso seis toiros, de seis ganadarias Alentejanas disputando entre si o Prémio Bravura e Apresentação. Abriu praça um toiro da ganadaria José Luís Vasconcellos e Souza D’Andrade, bem apresentado, negro entrepelado, bragado, corrido e rabicano, composto de cara, de saída prometeu, metendo bem a cara nos capotes mas cedo se orientou e foi complicado, tanto para o cavaleiro como para o forcado. Fez segundo um toiro de Ascenção Vaz, negro, descarado de cara, também de saída prometeu nos capotes mas… fez o papel do distraido para o cavalo, pela direita caçava de maneira descarada, outro toiro complicado. Negro, chorreado, listão foi o bonito e bravo Falé Filipe, sempre pronto, acometeu com alegria, teve nobreza. Foi um sério candidato a prémio. Da ganadaria da terra foi o de Francisco Romão Tenório, exemplar muito dentro do seu encaste tanto em apresentação como em comportamento. Era grande mas tinha bom tipo Foi nobre, teve bom tranco mas algumas querenças se bem é verdade que saía delas com facilidade, bom toiro. De Lampreia o quinto, foi um toiro frio, demasiado frio de saída, fez o papel do distraído, depois do primeiro comprido abriu qualquer coisa, deixou-se lidar. Fechou a noite um bom exemplar da ganadaria de São Marcos bem apresentado, nobre, sempre pronto, teve bom tranco e muita durabilidade.
Foram jurados do Concurso de Gandarias os próprios Ganaderos que decidiram que os dois prémios seriam para exemplar marcado com o Nº152 da Ganadaria de São Marcos, o conclave mostrou divisão de opiniões com a decisão do jurado…
Marcos Bastinhas é tudo vontade, entusiasmo, têm efervescência no seu toureio. Bastinhas dá-lhe igual a praça que pise, seja ela Lisboa, Évora ou Pinhanços. O de Elvas está sempre na sua onda, pronto para mexer com o público presente e Arronches foi mais uma vez testemunha disso. Diante do complicado primeiro cravou os compridos com solvência para nos curtos deixar três bandarilhas de boa nota, rematando bem as sortes, finalizou a sua lide com um palmito.
No quarto da ordem a lide foi à Bastinhas! Recebeu o de Tenório num palmo de terreno, cravou dois compridos a dar distâncias ao oponente. Com os curtos a variedade esteve presente, piruetas, ferros a aguentar até ao fim a acometida do toiro, remates exuberantes, um ferro de palmo e o tradicional par de bandarilhas a desmontar o cavalo no centro da arena, o público gostou do que viu e ovacionou com força esta actuação de Marcos.
Duarte Pinto teve um lote daqueles… Dois toiros muito complicados! Um toureiro deve ser sempre julgado, para o bem ou para o mal, com base no toiro que têm por diante e Duarte conseguiu dar a “volta a estas duas tortilhas” que compuseram o seu lote. Dois compridos a abrir a lide do de Ascenção Vaz, bem a lidar e tentar abrir os caminhos ao toiro… mas este não queria. Nos curtos, muita brega, muito mudar os terrenos ao oponente para conseguir cravar a ferragem da ordem com eficácia e mérito. Os presentes reconheceram o esforço, o querer agradar e aplaudiram o cavaleiro de Paço de Arcos.
O quinto saiu completamente alheado do que se passava na arena, via o cavalo mas não queria acometer, dois compridos a tentarem despertar o de Lampreia. Nos curtos o primeiro foi traseiro, o que fez com que o toiro despertasse e os quatro que se seguiram foram dos bons. Deu distâncias, entrou de frente, cravando de alto abaixo. Bregou com sabedoria, mudando os terrenos ao toiro para que este não ganhasse ainda mais querenças. Boa Lide!
A Miguel Moura deixaram-lhe a bola da sorte… Os dois toiros que lhe tocaram foram dos bons! Moura tira partido de toiros das mais variadas condições, no sábado como já escrevi foram de seda. Este cavaleiro têm uma espantosa calma e profundidade, é templado e tudo o que faz durante as suas lides tem ligação diante de qualquer oponente. Mais uma vez se viu isso em Arronches. No terceiro da noite os compridos teimaram em não partir duas ou três passagens e o ferro ficava pendurado, ficou um, Miguel percebeu a boa condição do toiro e só um de castigo lhe bastou. Nos curtos o primeiro é um grande curto, com batida e paradinha a esperar pelo toiro, de seguida a conjugação cavaleiro, cavalo e toiro não foi a melhor e o cavaleiro percebeu isso. Trocou de montada e partiu para uma grande lide que chegou com força às bancadas, ladeios exuberantes, remates toureiros e bons ferros foram o condimento da sua actuação, rematada com um grande palmo e posterior remate.
No sexto, o bom São Marcos entregou de bandeja o triunfo ao de Monforte e este aproveitou. Lide redonda, dois compridos de boa nota e quatro curtos marca da casa. Houve boa brega, mexeu no toiro com graça toureira, rematou as sortes de forma garbosa, a sua actuação chegou com força ao conclave que lhe tributou calorosas ovações. Rematou a lide com um grande ferro de palmo.
Com entusiasmo foram vividas as lides pelo bom público de Arronches e com devoção as pegas dos dois grupos vizinhos Amadores de Arronches e Académicos de Elvas. Silêncio durante os cites e uma explosão de alegria contagiante quando as sortes eram concretizadas .
Abriu praça Luís Sarrato, forcado com créditos firmados pelos da casa, teve que “dançar com a mais feia”, o de que fez primeiro não foi “pêra doce”, metido e com querenças acentuadas nos terrenos de dentro. Renitente a acometer ao forcado, medindo muito e quando sentia o forcado na cara derrotou com violência para o tirar. Três vezes teve o Luís que lhe bater as palmas para concretizar a pega.
Gonçalo Ludovino à segunda tentativa, um toiro que humilhava muito no momento da reunião o que dificultou de alguma maneira a labor do forcado, bem o grupo a ajudar.
João David Cunha numa grande pega à primeira tentativa, o toiro saiu de largo e com raça, o forcado aguentou a investida, bem fechado de pernas e braços na reunião, entrando o grupo a ajudar de forma coesa.
João Pedro Restolho foi o escolhido para pegar o primeiro do lote dos Académicos de Elvas, boa pega à primeira tentativa, bem a citar, reunir e o grupo ajudando como mandam as regras.
Paulo Mauricio numa boa pega à primeira tentativa, novamente bem o grupo a ajudar.
Fechou a noite Gonçalo Machado, numa grande pega à primeira tentativa, bonito a citar, receber e reunir, entrando bem o grupo para fechar a pega.
Dirigiu a corrida Marco Gomes, sendo o médico veterinário Tenório Guerra.