Local: Elvas
Data: 27 de Setembro de 2019
Cavaleiros: João Moura, Paulo Caetano, António Ribeiro Telles, Rui Salvador, Luís Rouxinol, Diego Ventura e Marcos Bastinhas
Forcados: Grupos de Forcados Amadores de Évora e Académicos de Elvas
Ganadaria: Herdeiros Varela Crujo (6) e Maria Guiomar Cortes Moura (1)
Uma mini feira taurina muito bem concebida, naquela que foi a primeira feira de São Mateus em Elvas sem Joaquim Bastinhas, esse figurão da tauromaquia, que ficará sempre recordado no mundo taurino pelo famoso par de bandarilhas com que rematava as lides e pela simpatia e à vontade que tinha com o público, companheiros de profissão, forcados e demais intervenientes na festa dos toiros.
Nesta que foi a 2ª corrida da feira, formaram cartel de luxo os nomes mais sonantes do panorama taurino nas últimas décadas em Portugal, juntando-se a eles a maior figura do rejoneio Diego Ventura e Marcos Bastinhas, após uma encerrona triunfal.
Os toiros pertenceram à ganadaria Herdeiros de Varela Crujo (6) e Maria Guiomar Cortes Moura (1) tendo os toiros de Varela Crujo comportamento semelhante, com airosas saídas dos curros transmitindo no início de lide e indo a menos durante a lide, denotando alguma mansidão. Sem estarem grandes, estavam rematados, tinham apresentação e mobilidade. O toiro de Maria Guiomar Cortes Moura esteve com peso e apresentação semelhante aos restantes, foi suave e constante ao longo da lide.
Abriu praça o toureiro que testemunhou a alternativa de Joaquim Bastinhas. E que forma de iniciar a lide teve João Moura, um brinde aos céus pelo seu companheiro e uma porta gaiola vibrante, resultando num dos grandes aplausos da noite. Citando de praça a praça, o cavaleiro de Monforte esteve inspirado e entusiasmou o público de Elvas com ferros de grande nível em terrenos apertados. Com muito saber e arte, compreendeu o toiro da melhor forma e conseguiu uma das lides da noite. Olé João Moura!
A 2ª lide coube ao cavaleiro já retirado Paulo Caetano, que também foi habitual companheiro de Joaquim Bastinhas nos melhores cartéis e melhores praças durante muitas temporadas. Paulo Caetano enfrentou um toiro da ganadaria Maria Guiomar Cortes Moura. Não teve a saída impetuosa dos Varela Crujo, mantendo em toda a lide o comportamento suave e templado do toiro murube, sem apertar na saída como os restantes toiros esta noite, mas permitindo ao toureiro andar a gosto, colocar a ferragem com correção. Muito temple e classe na preparação e remate das sortes.
Para a terceira lide entrou em praça António Ribeiro Telles, outro grande cavaleiro da geração de Joaquim Bastinhas, e tal como aconteceu com João Moura, o cavaleiro da torrinha também quis dar tudo nesta noite de homenagem e foi receber o toiro à porta dos curros. O toiro saiu à arena de forma impetuosa, perseguindo a montada com muita velocidade, levando o público a mais um grande aplauso na forma como conseguiu parar o toiro. A lide começou com bons ferros mas o toiro de Varela Crujo foi perdendo a chama inicial e acabou por mansear, criando muitas dificuldades ao experiente António Ribeiro Telles que foi resolvendo os problemas sem conseguir voltar ao nível com que iniciou a lide.
Rui Salvador entrou em praça para brindar o seu companheiro de muitas tardes, tendo lidado da forma possível mais um toiro que teve maior raça inicial e que foi indo a menos ao longo da lide. Mesmo assim, o cavaleiro de Tomar conseguiu entrar em terrenos apertados e cravar ferros curtos de bom nível.
Luís Rouxinol também não poderia faltar a esta homenagem, sendo o cavaleiro da geração seguinte que conseguiu maior destaque, bebendo muito da figura de Joaquim Bastinhas, sendo também um cavaleiro muito conceituado pela raça, disponibilidade, simpatia e destreza na colocação do par de bandarilhas. Em Elvas não teve a matéria prima desejada para levantar as bancadas, mas conseguiu bons momentos com o vistoso cavalo Douro.
Para lidar o sexto toiro, e pela primeira vez em Elvas, Diego Ventura que também não quis deixar de estar presente para homenagear tamanha figura do toureio como foi o cavaleiro elvense Joaquim Bastinhas. Veio a Elvas mostrar porque é o cavaleiro com maior destaque nos dias de hoje e iniciou faena com uma porta gaiola, partindo para uma faena cheia de recursos, com ferros emocionantes com batida ao pitón contrário, violinos com batida ao pitón contrário e no remate das sortes executou também ajustadas piruetas que deixaram o público de Elvas rendido. Quis rematar a lide com um par de bandarilhas sem cabeçada com o cavalo Dólar, mas o toiro, tais como os restantes Varela Crujo, veio a menos e criou algumas dificuldades para a colocação do par. Mesmo assim após algumas passagens em falso o par ficou e foi ainda buscar outro para colocar na primeira passagem, terminando sobre muito forte aplauso numa praça que esteve esta noite completamente lotada.
Mais um momento emotivo foi a entrada em praça do Marcos Bastinhas para a lide do 7º toiro da noite. Chamou à arena os companheiros de cartel, desmontando-se e realizando um bonito brinde pela grande homenagem conseguida. Dirigiu-se depois para a porta dos curros para mostrar que a noite ainda não tinha terminado e recebeu o toiro com grande nível, dobrando-se bem com ele. Cravou 2 bons ferros compridos, aproveitando a investida inicial dos Varela Crujos. O inicio de lide nos curtos manteve a mesma toada, dando vantagens ao toiro e cravando ferros com verdade, mas o toiro começou a perder aquele ímpeto inicial e o Marcos conseguiu superar essa falta de toiro mostrando uma variabilidade de recursos, como já o tinha feito na semana anterior na sua grande encerrona, com uma mourina e terminando com 2 pares de bandarilhas.
Para as pegas, GFA Évora e GFA Académicos de Elvas, os dois grupos que têm nos últimos anos partilhado cartel na feira de São Mateus, estando ambos em bom nível, destacando-se as três pegas que foram consumadas à 1ª tentativa, onde os forcados da cara estiveram exímios, mostrando muita arte, temple e segurança.
Abriu praça pelos Amadores de Évora o forcado João Madeira numa boa pega à 1ª tentativa. Citou com calma, mandou no toiro, recuou com arte e encheu a cara do toiro na reunião para uma bonita e segura pega, ajudando o grupo muito bem.
Para o 2º toiro foi à cara o forcado António Machado dos Académicos de Elvas para mais uma boa pega. Um forcado jovem mas já muito experiente e muito seguro. Citou com o temple e tranquilidade habitual, um toiro que custou a fixar-se com o forcado. Teve uma reunião difícil mas com braços de ferro não saiu da cara do toiro e aguentou uma viagem onde o toiro foi sempre com a cara por baixo, dificultando a ação dos ajudas.
O 3º toiro foi pegado pelo eborense Ricardo Sousa. Na primeira tentativa teve que ir até terrenos apertados e não se conseguiu sacar frente a um toiro que enserilhou na viagem. Na segunda tentativa teve que voltar a pisar terrenos de compromisso, mas mostrou maior segurança e conseguiu uma pega muito meritória.
Saltou à praça após a lide do quarto, o forcado Paulo Barradas Maurício, vestindo a jaqueta dos Amadores Académicos de Elvas. Fez um emotivo brinde ao Ivan Nabeiro, cabo fundador do grupo e filho do homenageado Joaquim Bastinhas. Citou com temple, soube mandar no toiro, conseguiu uma boa reunião e trancou-se com braços de ferro aguentando um forte derrote e recebendo depois uma boa primeira ajuda, fechando o resto do grupo com coesão.
Pelos amadores de Évora, para o 5ª toiro da noite, foi escolhido pelo cabo João Pedro Oliveira mais um forcado experiente. José Maria Caeiro não conseguiu uma boa reunião na 1ª tentativa e saiu antes do grupo poder ajudar. Na 2ª tentativa foi diferente, conseguindo encher a cara ao toiro e fechando-se à cornea com muita segurança, sendo bem ajudado por todo o grupo.
O terceiro toiro dos forcados Elvas coube ao forcado com maior antiguidade no grupo. O Gonçalo Machado citou com o seu estilo inconfundível, mas na 1ª tentativa não reuniu bem, caindo forcado e toiro, com a queda acabou por se esticar, brigou e acabou por voltar a ficar na cara do toiro, mas teve brio e não deu a pega como consumada. Na 2ª tentativa não se dobrou na reunião e saiu com aparato por cima da cara do toiro, consumando à 3ª tentativa já com as ajudas mais em cima.
Para o último toiro foi escolhido o forcado dos amadores de Évora Luís Januário, que teve o bonito gesto de convidar o grupo de Elvas para partilhar a pega, sendo executada por 4 elementos de cada grupo. Infelizmente as coisas não correram bem ao Luís, saindo inanimado na sua 2ª tentativa após violento derrote. Foi dobrado pelo experiente forcado Manuel Rovisco, que pegou na sua primeira tentativa, em curto e com o grupo já sem dar espaços.
Foi uma noite memorável, faltou alguma bravura aos toiros que saíram à arena, mas todos os intervenientes estiveram em bom nível, destacando-se João Moura e Diego Ventura pelo grande nível em que se exibiram e a forma como souberam contornar as dificuldades criadas pelos toiros.
Uma homenagem bonita e mais que merecida para um ícone da cidade de Elvas e da tauromaquia portuguesa, uma figura marcante que não será esquecida, tendo a lotação do Coliseu de Elvas sido insuficiente para tantos quantos queriam estar presentes nesta noite especial em que foi lembrado o Maestro Joaquim Bastinhas.