O método não é recente nem inovador, na Grécia Antiga já se representava, Alexandre O Grande foi antecipadamente “reformado” com semelhante procedimento, o próprio Sócrates, não, não é o amigo do Carlos Santos Silva, dele provou, e o Império Romano do mesmo se foi usando para fazer politica.
Deixando de parte a metáfora, actualmente a politica não proíbe, veta, abule, extingue, mas cria mecanismos que o vão fazendo lentamente.
Se não é pela forma de decreto, inteligentemente, deva escrever-se, faz-se de outra maneira, vai-se injectando pequenas doses, não letais e periódicas de veneno (voltámos à metáfora) e a morte quase que se torna natural.
O aumento do IVA para o espectáculo tauromáquico e a venda da Praça de Touros do Campo Pequeno são, no meu entender, a utilização do velho método do envenenamento lento.
Pretende-se acabar com o espectáculo tauromáquico, com todos os argumentos que sobejamente já conhecemos, mas ainda existem, ainda…alguns defensores e por isso a muralha vai-se mantendo inexpugnável, por enquanto.
Muda a estratégia e em vez de assalto faz-se cerco, desgastando e matando por dentro.
Definir um imposto para TODOS os espectáculos culturais e outro imposto para o espectáculo tauromáquico é inconstitucional, isso também sabemos, mas no fim do dia pouco importará, ou muito me engano ou o Presidente da República, com poder de veto, deixará passar esta medida discriminatória negativa, assim nos habituou, a agradar gregos e troianos, pelo que não penso que tome posição contra desta vez.
Partindo de que será um dado adquirido e uma medida a aplicar, o aumento do IVA representa um desincentivo ao espectáculo, o Estado permite que se faça, tudo bem, mas castiga com carga fiscal: façam-no, mas paguem caro por isso.
Os promotores e intervenientes pensarão duas vezes, se a actividade já é, de per si , cara e com rendimentos baixíssimos, então com um IVA a 23% imagine-se.
No mesmo caminho vai a venda da Praça de Touros do Campo Pequeno.
O até agora único interessado e proponente comprador já veio afirmar que o seu negócio é outro que não as corridas de touros, afirmação muito legitima e que faz todo o sentido, se o core business é outro, seguramente mais lucrativo e com menos riscos, porquê mudar para algo que não conhece, que não lhe interessa, mas que sabe que tem fraco retorno.
Descontextualizou-se ou não a sua afirmação, mas não deixa de ter razão e também não fechou as portas à realização de espectáculos tauromáquicos na Praça de Touros do Campo Pequeno.
Não será é ele ou os seus sócios a promove-los, prevê-se que adjudiquem datas a promotores interessados.
O que eu temo é que os preços cobrados por essas datas sejam insustentáveis, juntando aos custos da montagem do espectáculo, esses já por nós conhecidos, fique incomportável promover uma corrida de touros naquela praça, a não ser que apareça um mecenas, um filantropo magnata sem cuidar do dinheiro que possa suportar a coisa, vejo o quadro muito negro.
Os empresários e promotores de corridas de touros acabarão por se desinteressar e as corridas por ir desaparecendo, caminhando para uma morte natural, lenta, definhando com o passo do tempo.
A nossa tauromaquia ficará circunscrita e proscrita à província, às poucas autarquias ainda tolerantes, uma vez que as manifestamente apoiantes já são uma raridade, os grandes centros e metrópoles rechaçam a corrida para o mundo rural.
Mundo rural que tanto defendemos e que nele poderemos perecer, atolados, presos nas suas areias movediças que nos puxam lentamente para um fim.
Tal como a administração de veneno em doses não letais muito pequenas, periódicas, usada desde os tempos antigos, tal como o aumento do IVA para o espectáculo, também esta solução acabará por ir matando primeiro a vontade de fazer e depois o próprio espectáculo, de morte disfarçada de natural, como na Tragédia Grega.
Bernardo Salgueiro Patinhas, Évora (ainda taurina) 06.02.2020