Não vou fazer uma crónica clássica da corrida, esmiuçada, pesada e fastidiosa, até porque a esta hora todos os comuns sites taurinos e colegas cronistas já o fizeram anteriormente! Aquilo que pretendo é passar-vos o que de melhor saltou de Santarém e que não foi só – quanto a mim – o sucesso artístico da corrida.
Santarém vivia e desde que foram apresentados publicamente os carteis da Monumental, num mundo à parte. Voltava-se a falar em corridas todos os dias, voltava-se a falar em cartéis, apostava-se na lotação que a 1ª corrida iria ter mas fundamentalmente replicava-se as palavras “eu vou”. E foi esta nova dinâmica imposta pela Assoc. Praça Maior que levou as pessoas a dizer “Eu vou. Também vais ???”.
Quando há alguns meses atrás escrevi uma crónica acerca do marasmo taurino em que se encontrava a nossa Monumental, do seu abandono e da tristeza dos aficionados Scalabitanos por estarmos assim a ser tratados, não imaginei que a resposta fosse assim tão brutal…tão explicita e espectacularmente brutal.
Já lá vão uns pares de meses desde que me apresentaram o projecto “Praça Maior” e de pronto senti que tinha tudo para ser um enorme sucesso; a dinâmica, a organização, o objectivo, os conceitos, a publicidade, a imagem, política de preços e as pessoas. Sim as pessoas que são a Praça Maior. Esses “8 magnificos”que arrancaram para um trabalhoso sucesso. E que sucesso!
Quando cheguei à Monumental por volta das 15h50, não queria acreditar no que via…um mar de gente à volta e uns larguíssimos metros de fila para a compra de bilhetes de última hora. Uma coisa à antiga e para mim o primeiro grande impacto da tarde! Palavra que me emocionei.
Um ambiente extraordinário, tudo gente extraordinária, de todo o lado, de Portugal lés-a-lés, tudo em uníssono, tudo a respirar tauromaquia e fundamentalmente, tudo alegre por terem voltado os toiros a Santarém.
A corrida começou às 16h00 conforme o anunciado e isto independentemente da organização saber que ainda estariam centenas de pessoas a quererem entrar. Por mim “Olé”. Os horários são para cumprir.
Cavaleiros: João Moura, António Ribeiro Telles e Francisco Palha
Forcados: de Santarém e Vila Franca de Xira
Toiros: 5 toiros de Cunhal Patrício e um de António Veiga Teixeira
Espectadores: 8822 (lotação actual 11480)
Director de corrida: Marco Cardoso (estreia na sua terra natal)
No inicio da corrida, foi prestada homenagem com um minuto de silêncio a; João Franco, Joaquim Bastinhas, César Marinho, Emilio e Duarte Chaparreiro.
João Moura
- 1º Toiro- Cunhal Patrício de 490 kg – corniaberto, bragado
Saiu o 1º ao João António, um toiro reservado, chato, desinteressado e que não deu luzimento à actuação do ginete de Monforte.
Moura esteve correcto, empenhado, cumpriu na ferragem e sem toques nos cavalos, mas efectivamente foi uma lide sensaborona, tendo em conta as condições apresentadas pelo toiro.
Abriu praça o GFAS com o forcado Scalabitano Fernando Montoya que na 1ª – e derradeira – tentativa e não tendo o toiro alterado o seu comportamento, viu-se na necessidade de o ir buscar às tábuas, pisando-lhe (excessivamente a meu vêr) os terrenos o que resultou num duro “bilhete”. Saiu inanimado para o hospital, tendo sido dobrado pelo eficiente Giovety que o pegou à 1ª tentativa. Conheço bem o Fernando e sei bem o que lhe custou não ter concluído esta pega na sua Praça. Deu volta João Moura e seus subalternos.
- 4º toiro – António Veiga Teixeira de 560 kg – bisco, negro
No 4º da ordem, João Moura teve mais e diferente matéria prima.
Apesar da deficiente córnea, o de Pedrogão era um toirasso. Sério, mais móvel que o seu 1º toiro e a pedir meças.
Moura esteve impecável na preparação e cravagem dos ferros, ressaltando o 1º e o 3º curto da ordem. Terminou a lide com um palmito.
Relembro que João Moura, tirou a sua alternativa à 41 anos, na Monumental Praça Celestino Graça, local de culto para os verdeiros Mouristas.
Ainda bem João que veio a Santarém. A nossa cidade e aficcion agradecem a sua presença.
Pegou este toiro, o Grupo de Vila Franca por intermédio do forcado Rui Godinho, que irrepreensivelmente despachou o Teixeira à 1ª tentativa, com o grupo a corresponder com acerto.
António Ribeiro Telles
- 2º toiro – Cunhal Patricio de 470 kg- e tal como o primeiro, corniaberto e quase gémeo de comportamento.
O maestro da Torrinha recebeu o toiro com uma porta-gaiola, andou correctíssimo mas o toiro a partir do 3º curto deixou de andar, dificultando a partir daí a o labor do cavaleiro de Vª Franca. Destaco o 2º e o 4º curto da ordem.
Abriu praça pelo GFAVFX o seu cabo Vasco Pereira, que na 1ª tentativa e com o toiro a afocinhar com o forcado no chão, acabou por sair no limite da pega. Concluiu a sua tarefa à 2º tentativa, com o toiro a empurrar até ás 3ª ajudas. Bem o grupo a fechar. Volta para o cavaleiro e forcado
- 5º toiro – Cunhal Patricio de 585 kg
Um toiro de irrepreensível apresentação, bravo e interessado.
António Telles esteve de gala neste toiro. Tirou tudo o que podia dele e a verdade é que o “Levito” cooperou em quase todos os ferros, acudindo de longe, de perto e sempre que a sua presença se tinha que sentir. À recolha, foi premiado com palmas e o público a pedir volta à Praça. Não deu o toiro deu o ganadeiro Sr José Romeiras. No hay quinto malo!
Ressalto o extraordinário cavalo Alcochete e os 2º, 3º e 4º curto da ordem, este dedicado a Carlos Empis.
Mas o António é mais que um exímio cavaleiro. O António é um verdadeiro maestro, um artista com uma sensibilidade inenarrável; tudo é classe, arte pura. Parabéns
Para a pega saltou o forcado de Santarém, Francisco Graciosa que à 1ª tentativa e com o toiro a arrancar assim que o forcado o chamou cá de trás, concluiu com nota máxima a actuação do mais antigo grupo de forcados do Mundo. Enorme, gigante 1ª ajuda do Cabo interino José Fialho que justificou e pela 2ª vez na tarde, a chamada do 1º ajuda à praça. Olé para o Francisco e para o Zé Fialho.
Francisco Palha
- 3º Toiro – Cunhal Patricio – 570 kg
Francisco Palha veio a Santarém como tendo sido aos olhos de muitos, o triunfador da temporada passada e pelo que vi no Domingo, justamente. O Palha é uma máquina !
Recebeu o seu 1º toiro da ordem com uma larguíssima, espectacular e brilhantemente conseguida porta-gaiola e a lide deste toiro foi sempre em crescendo com curtos espectaculares.
Destaco os 2 compridos, o 1º, o 3º e 4º curto da ordem e com uma cravagem irrepreensível, o ginete Vila-franquense recriou-se com “ferros ao estribo” e empolgantes cites de praça-a-praça.
Pegou António Taurino pelos de Santarém à segunda tentativa.
Foi pena não ter ficado à 1ª, mas a 2ª e derradeira tentativa foi para mim uma pega irrepreensível, perfeita, ficando mais uma vez provado que à segundas melhores que primeiras! Chamada do 1º ajuda Manuel Lopo de Carvalho à Praça. Volta para os 2 forcados (cara e 1º ajuda)e cavaleiro
- 6 º toiro – Cunhal Patrício – 510 kg
Mais uma entrada-furacão. Mais uma porta-gaiola de praça-a-praça extraordinária e publico no bolso. Aliás, na esteira da lide do seu primeiro toiro, todos pensamos ser difícil imaginar-se que a actuação pudesse crescer mais. Pois enganamo-nos!
Foi novamente uma lide de antologia, tudo bem feito, em que a preparação e colocação esmerada sucediam-se de ferro para ferro. Ressalto o 1º comprido, o 1º, 3º, 4º e 5º curto da ordem. Francisco Palha foi para mim o merecido triunfador. Sem espinhas.
Pegou o último toiro da corrida, Francisco Faria pelos de Vila Franca à 3ª tentativa, sem que antes o forcado da cara tenha desmaiado (na 2ª tentativa), tenha sido recolhido e transportado para a enfermaria da Praça. Quando o grupo se preparava para o substituir, Faria “fugiu” da enfermaria, agarrou no barrete e fez-se ao toiro com uma vontade indomável de lá ficar. E assim foi. Pega dura onde os ajudas estiveram menos bem. Volta apenas para o cavaleiro
Ao intervalo, foi efectuada pela Associação, a justa homenagem a João Moura pelos 41º anos de alternativa.
A organização substitui os monocórdicos vendedores de queijadas, rajás e bebidas frescas, por rapaziada nova e simpática, que levavam até às bancadas, imperial fresquinha, salgados vários, pães com chouriço, caixas de Celestes (bolo típico de Santarém), Arrepiados e as clássicas queijadas. Serviço 5*****
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