A Praça de Toiros José Mestre Batista em Reguengos de Monsaraz recebeu ontem a sua tradicional corrida do 15 de agosto, que de há dois anos para cá a empresa Toiros & Tauromaquia decidiu passar a ser noturna, o que em muito beneficia o conforto dos aficionados pelo imenso calor que se faz sentir no Alentejo durante estes dias de verão.
Ontem as bancadas da Mestre Batista registaram uma bonita lotação de 3/4 fortes de um público que, na sua maioria, estava ali para apoiar os Amadores de Monsaraz, na corrida em que comemoraram 20 anos da sua fundação e na qual se despediu das arenas um grande forcado e cabo do grupo, Ricardo Cardoso, que passou a chefia do grupo a um jovem que promete ser um dos grandes da sua geração, João Tiago Ramalho!
O Grupo de Forcados Amadores de Monsaraz propôs-se a enfrentar seis toiros de Eng. Luís Rocha, uma divisa bastante importante para o grupo. E o desafio foi superado com distinção! Abriu praça naquela que foi a sua última pega o cabo que se despediu, Ricardo Cardoso. Não recebeu da melhor maneira no intento inicial, acabando por concretizar com bastante mérito à segunda tentativa. Seguiu-se o emotivo momento da passagem de testemunho, dando no final o Ricardo uma última volta à arena acompanhado por todo o seu grupo, estando fardados antigos e atuais elementos. O segundo da corrida coube, como não podia deixar de ser, ao nóvel cabo do grupo, João Tiago Ramalho. Teve de bater as palmas a um toiro que não se empregou na lide, não conseguindo suportar na primeira tentativa os violentos derrotes junto às tábuas. À segunda esteve bem e contou com uma boa ajuda do grupo para consumar ao segundo intento. Foi bonito ver a felicidade estampada no rosto deste jovem forcado aquando da volta ao ruedo. David Rodrigues, antigo cabo do grupo, bateu as palmas ao terceiro toiro da ordem e consumou a pega ao primeiro intento. A quarta pega foi consumada com mérito à primeira tentativa por David Silva. André Mendes concretizou com muito mérito à segunda tentativa, depois de não ter conseguido suportar os derrotes junto às tábuas. A última pega da noite foi concretizada à primeira tentativa por Miguel Valido.
Foram lidados nesta noite seis toiros da ganadaria Eng. Luís Rocha, de apresentação condizente com a categoria do tauródromo, mais justo de trapio o terceiro da ordem. Quanto ao comportamento na generalidade serviram ao espetáculo, não dificultando em demasia as atuações dos artistas. Denotaram nalguns casos falta de força.
Abriu praça o Maestro João Moura. Enfrentou-se com um exemplar nobre e disponível, embora escasso de força. Desenvolveu uma atuação que não resultou em pleno, tendo alguns momentos irregulares, alternando passagens em falso com alguns ferros que não ficaram. O último da série de ferros curtos foi o melhor da função, resultando numa reunião cingida.
Seguiu-se a lide de João Moura Caetano. O exemplar que lhe tocou em sorte adiantou-se à montada de início, dificultando a ferragem comprida. Em seguida, os capotazos foram evidentemente excessivos, a ponto de tirarem qualquer potabilidade que o toiro podia ter. Lide sem qualquer história, com demasiadas passagens em falso e com o público a protestar com o visto na arena.
Para lidar o terceiro da ordem, um toiro justo de trapio e que desde cedo mostrou alguma crença em tábuas, mas que foi a mais com o decorrer da função, acabando por colaborar com a função e ser pronto para os ferros, faltando-lhe apenas alguma transmissão, entrou em praça Manuel Telles Bastos. Deixou três compridos de boa nota, para nos curtos dar primazia de investida ao oponente, aguentando e cravando com muitíssimo mérito uma bonita série de ferros. Teve o mérito de dar sempre vantagens ao oponente. Excelente lide de Manuel Telles Bastos, que incompreensivelmente não chegou com a força merecida às bancadas, mostrando que grande parte do público prefere o espetacular, em detrimento do bem feito.
Transposto o equador do festejo, entrou em praça o rejoneador mexicano Emiliano Gamero, que se enfrentou com um oponente algo escasso de forças, mas que mostrou vontade de investir e mobilidade. Gamero recebeu bem o toiro, aguentando a investida inicial do toiro. Nos curtos, chegou ao público a brega ladeada de bonito efeito, embora a ferragem nem sempre tenha sido cravada de forma cingida. Terminou com um bom ferro em sorte de violino. No final da atuação, apeou-se do cavalo longe da porta de saída do mesmo, um número que o público aplaudiu, embora, caso o toiro tivesse saído solto do capote do bandarilheiro (o que por pouco não aconteceu), poderia ter comprometido o cavalo. Uma situação a repensar dado que não é a primeira vez que acontece.
Diz o ditado que “no hay quinto malo” e hoje o quinto foi realmente o melhor toiro da corrida. Toiro voluntarioso, com mobilidade e muita vontade de investir. Abriu cedo a boca e quando se lhe acabaram as forças, restou-lhe a bravura para continuar a investir. No final foi merecedor de lenço azul, que premiou com volta ao ruedo o representante da ganadaria. David Gomes recebeu-o de forma emotiva à porta gaiola. Realizou uma excelente lide, com princípio, meio e fim, revelando ser merecedor de mais oportunidades em cartéis de competição. Bregou com qualidade e cravou uma excelente série de ferros, aproveitando da melhor forma a condição do oponente. Já com o toiro mais parado, deixou um violino e um ferro de palmo, terminando a função com um bom par de bandarilhas.
Fechou a noite Paco Velásquez, que recebeu de boa forma o colaborante toiro que fechou praça. Está bem montado e desenvolveu uma lide que chegou ao público, num toureio de cercanias onde se destacaram bonitos ferros curtos e cingidos remates. Trocou de montada e deixou um bom ferro sobressaindo no cite que o público aplaudiu bastante. Terminou a função com um bom par de bandarilhas, após dois pares (um de bandarilhas e um de palmos) que não ficaram.
A corrida foi dirigida por Domingos Jeremias assessorado pelo médico-veterinário Dr. Carlos Santana.