Os Sabores e os Saberes de um dia de Toiros e Romaria em Sousel

As romarias de segunda-feira de Páscoa são uma tradição secular em vários concelhos alentejanos, tendo em comum as cerimónias religiosas, o reencontro de famílias e amigos e as idas ao campo, num ritual onde se cruzam o sagrado e o profano. A religiosidade e a alegria de um povo, a sua predisposição para o convívio e a vontade em apreciar os seus sabores e manter os seus saberes mantém este dia único!

Sousel revive, pela Páscoa, uma das suas tradições populares mais antigas, a romaria em honra de Nossa Senhora do Carmo. Centenas de pessoas, entre os que ali residem, os filhos “da terra” que voltam e muitos forasteiros que, por esta ocasião rumam à Serra de São Miguel em busca do melhor sítio  para estenderem as suas toalhas e mesas e fazerem o piquenique.
Os momentos altos da romaria são a missa campal, seguida de procissão, finalizadas as cerimónias religiosas, começam os momentos de reencontro e celebração, pela meia tarde inicia-se a tradicional corrida de toiros, na Praça Pedro Louceiro, edificada nas imediações da capela que é considerada uma das mais antigas da Península Ibérica.
Com um esgotado a ornamentar as bilheteiras da catita Pedro Louceiro, começou uma corrida em que houve bons momentos de toureio a cavalo, um par de pegas emocionantes e uns quantos toiros a elevarem alto o nome da ganadaria. A empresa Pasto Alentejano, que se associou à Toiros com Arte/Ovação e Palmas na realização desta corrida, entregou da totalidade da receita aos Bombeiros de Sousel e à Santa Casa da Misericórdia, entregando a cada uma das instituições um cheque de 11 mil euros. Olé!
Da Herdade do Bonical foram lidados cinco toiros e um novilho (sobrero) com o ferro de São Marcos. Cinco negros e um sardo, bem apresentados, com destaque para os três últimos de bom comportamento, mobilidade, entrega e nobreza. Teve bom som o primeiro mas veio a menos. Mais complicados segundo e terceiro.
João Moura em Sousel esteve a gosto e transmitiu isso às bancadas realizando duas boas lides, destaque para a segunda. Cravou dois compridos ao seu primeiro, procurando abrir os caminhos ao toiro que lhe havia tocado em sorte, lidando com autoridade. Nos curtos houve bons momentos de toureio, cravou com destreza, evidenciando o seu conceito de toureio em cada ferro, destaque para o terceiro o momento alto desta boa lide. No quarto aproveitou as qualidades do sardo, cravando dois bons compridos. Com os curtos, bregou e ladeou, cravou grandes ferros, entusiasmou o conclave que o aclamou de forma carinhosa, rematou a lide com dois palmitos entrando em terrenos de compromisso.
Sónia Matias nesta tarde Sousel saboreou o triunfo e o carinho de um público que jubilou com o seu toureio. Correcta nos compridos que cravou ao difícil segundo, andou com desenvoltura nos curtos, limando as arestas que eram muitas do de São Marcos. Rematou a sua lide com dois violinos que foram muito do agrado dos presentes.
Lidou em sexto lugar o sobrero. O toiro titular foi devolvido aos currais por se ter lesionado durante a lide. Quis a empresa ofertar o público com a lide do sobrero. Lide de grande alegria, interação com o público que aplaudia com força o feito na arena.  Dois compridos correctos a abrir. Nos curtos aproveito a nobreza e mobilidade do novilho, cravando ferros de frente e violinos de boa nota.
O cavaleiro da terra Tiago Carreiras também saboreou o triunfo em terras de Sousel. Duas lides em que o cavaleiro cravou bons ferros, lidou e bregou com eficiência, rematando bem as sortes.
No mansote terceiro cravou dois compridos abrindo a função e tentando perceber o arrobado toiro. Nos curtos expôs e conseguiu “dar a volta a uma tortilha” nada clara. Bons foram os quatro últimos ferros da sua lide.
No quinto, por se ter corrido turno, houve euforia nas bancadas pela lide desenhada por Carreiras! O toiro foi bravo e o cavaleiro aproveitou de cabo a rabo as qualidades do de São Marcos. Cumpridor nos compridos, nos curtos houve ladeios exuberantes, bons ferros de frente e violinos que levantaram os público das bancadas.
Três grupos Alentejanos bateram as palmas aos toiros, que deram pegas exuberantes e rijas.
Abriu pelo grupo de São Manços Diogo Brejo, numa boa pega à primeira tentativa. Citou com garbo, fechou-se com decisão com o grupo a ajudar de forma coesa.
Alexandre Rocha realizou uma grande pega à primeira tentativa, bonito a citar, recebeu bem e aguentou derrotes com o toiro a entrar pelo grupo dentro.
Afonso Real, do grupo de Arronches, suportou vários derrotes nas duas primeiras tentativas saindo lesionado. Foi dobrado por Rodrigo Picão de Abreu que resolveu o problema a sesgo e com ajudas carregadas.
Rui Pina fechou a tarde por se ter corrido turno pelo grupo de Arronches numa grande pega à primeira tentativa, bem a citar, receber com o grupo a ajudar bem.
Pelo grupo de Alter do Chão abriu a função David Amaral numa boa pega à segunda tentativa, na primeira teve que suportar um par de derrotes saindo da cara do toiro.
Fechou a tarde para os de Alter Diogo Carvão numa boa pega à primeira tentativa, com o grupo a ajudar bem e o cara a fazer as coisas como mandam as regras.
No início da corrida foi guardado um minuto de silêncio em memória de um antigo bandarilheiro da terra, peço desculpa de não referir o nome mas não me foi possível perceber o nome anunciado pela megafonia da praça.
Dirigiu a corrida Marco Gomes, sendo o médico veterinário João Pedro Candeias.

Artigos Similares

Destaques