Obrigado Nuno! Parabéns Tristão! Sorte António!

Domingo foi o dia. Também a hora!  Ao som do pasodoble ‘Forcados de Alcochete’ citava o último toiro Nuno Santana, forcado e cabo dos Amadores de Alcochete, homem de uma carreira avassaladora e grande figura entre os seus pares. Dizem que todos os seres humanos nascem com um talento, mas a sorte é descobri-lo e ter a capacidade de desenvolvê-lo desde cedo… O Nuno teve um talento nato para ser forcado desde os 13 anos e ao longo de 26 pegou toiros por essas arenas de Deus. Alcochete criou um menino que nasceu  forcado e despediu domingo um homem que é lenda. Poucos forcados como ele se conseguiram afirmar tão rapidamente no gosto dos próprios aficionados e ser reconhecido entre os seus pares. O Nuno foi, acima de tudo, um forcado de forcados, um espelho no qual muitos se olharam e ao qual muito poucos conseguiram alcançar. Obrigado Nuno por tudo que destes a esta nossa querida Festa!

O domingo, das Festas do Barrete Verde e das Salinas é dia de Concurso de Ganadarias, de praça cheia até as bandeiras, de convívio, de amizade, de forcados… É dia de Alcochete! Este ano dia 11 de Agosto foi isso tudo e muito mais. Foi também dia como já disse anteriormente da despedida de um grande, Nuno Santana, dia de António José Cardoso tomar o comando do grupo do seu coração, dia de grandes lides a cavalo, de uns quantos toiros bravos na arena e dia de uma explosão e de triunfo de um jovem cavaleiro, Tristão Ribeiro Telles.

Seis toiros a concurso disputando entre si os tradicionais prémios de apresentação e bravura, António José Cardoso e Estevão Augusto de Oliveira respectivamente. Foram jurados deste concurso os excelentíssimos senhores, António Barata Gomes, João Quintella e João Vasco Lucas.

Abriu praça um Silva, toiro grande, comprido, com cara e rematado por todos os lados. Foi um toiro encastado que veio de menos a mais, mas nunca rompeu. O de Murteira Grave foi o segundo, toiro justo de trapio para a corrida em si e quanto ao comportamento foi manso, reservado e por vezes até perigoso. De Conde de Murça foi a estampa lidada em terceiro lugar, toiro castanho, composto de cara, altivo de porte e proporcionado. Foi bravo de princípio ao fim da sua lide, teve recorrido, nobreza, mobilidade e classe nas suas acometidas ao cavalo e investidas aos capotes. O quarto foi um Passanha, grande, alto e com cara. Foi nobre mas não rompeu. O quinto foi de Vinhas, toiro bonito e muito dentro do que é o encaste Santa Coloma, cardeno de capa, grande e comprido. Foi um toiro com teclas, pediu as coisas bem feitas, teve casta e acabou por ser um bom toiro. Fechou a tarde um toiro de cinco anos de São Marcos, negro salpicado e corrido, toiro este também grande mas ao qual lhe faltou algo de cara. Toiro bravo e encastado, veio de mais a muito mais.

Decidiu o jurado que o Prémio de Bravura fosse para a ganadaria Conde Murça e o de Apresentação para a ganadaria Passanha.

João Moura Jr., sem precisar ser revolucionário ou mesmo reformador, mas tomando como referência estética o seu pai. João é um toureiro de facilidade espontânea, de inteligência e ao mesmo tempo, segurança em que quase todos os toiros lhe servem. É toureiro por instinto! E na tarde de domingo foi tudo isso. Teve um lote que não lhe deu facilidades e não o deixou fazer explodir o toureio que leva dentro e sente mas fez-nos desfrutar da sua maneira de como pensa o toureio e o toiro.

Diante do de Silva cravou os compridos com correcção para nos curtos lidar a preceito, escolher os terrenos adequados a um toiro que teve querenças e media no momento do ferro não rompendo para diante. Cravou uma série de curtos meritória que o público reconheceu e premiou com fortes ovações.

Com o quarto da tarde João voltou a estar correcto nos compridos, lidando bem e tentando abrir os caminhos a um toiro que mostrava nobreza mas que não rompia depois do ferro. Nos curtos a lidar e colocar o toiro teve a inteligência dos eleitos, deu-lhe tempo, esperou sempre pelo toiro e acreditou e uma grande actuação se viu na praça de Alcochete. Cravou três bons curtos rematando as sortes de maneira bonita. Duas mourinas a finalizar a sua actuação levaram as bancadas da bonita praça ao rubro.

Francisco Palha é a versão ou percepção do toureiro romântico. Tanto na mentalidade e modo de viver como nas suas lides. A técnica é necessária, mas só até certo ponto, o Francisco deixa um espaço para o sentimento nas suas actuações. E domingo isso ficou bem patente, houve uma interligação muito evidente entre técnica e sentimento e quando se conseguiu abandonar houve momentos de toureio a cavalo de uma beleza indescritível.

Diante do complicado Murteira Grave, Palha esteve bem nos compridos tentado perceber o toiro que se mostrou frio de saída. Nos curtos tentou interessar um oponente que fazia o papel do ausente mas quando podia ia para colher. Cravou com decisão e rematou as sortes com poderio.

O bonito cardeno de Vinhas pedia ofício para se lhe estar diante e foi essa a receita dada por Francisco. Bem nos compridos, cravando e lidando com autoridade. Nos curtos lidou e cravou em curto, porque assim o toiro o exigia. Pisou terrenos daqueles que queimam e cravou ferros fantásticos! Houve um par deles onde se esqueceu de onde estava e fez um toureio de abandono que chegou com força às bancadas. Grande lide!

Tristão Ribeiro Telles e o seu toureio são um arquétipo heróico que não se explica sem aquela promessa de glória que tem seu certificado de valor no culto popular. O Tristão quando as coisas lhe correm bem, é um toureiro, pela sua autoconfiança mágica e corajosa, que o transportam para uma glória incomparável e isso aconteceu domingo em Alcochete! É verdade que os seus colegas lhe deixaram o lote na hora do sorteio! Ele há dias assim! Diante do bravo de Murça, com a porta gaiola realizada disse ao que vinha, triunfar e triunfou! Mais um bom comprido se seguiu. Nos curtos aproveitou de cabo a rabo as qualidades do toiro, cravou grandes ferros, lidou com autoridade e rematou as sortes de uma forma que contagiam as bancadas que não lhe regatearam os aplausos. Boa lide!

Diante também do bravo sexto a explosão de alegria e de bom toureio fecharam uma tarde histórica para quem a viveu na praça de Alcochete. Bem nos compridos, novamente abriu a lide com uma grande porta gaiola, lidou e embarcou as acometidas do toiro no cavalo. Nos curtos os ferros foram emocionantes, tremendos, verdadeiros, cheios de valor, rematou as sortes soberbamente e pôs o público de pé em várias ocasiões.

Tarde de glória para os Amadores de Alcochete! Os forcados continuam dispostos a morrer neste cenário inédito de glória incerta que uma arena, e por isso, não esqueçamos, a sua arte de pegar toiros não só permanece intacta como, na incerteza, o heroísmo congénito da sua vocação, a mais pura de todas.

Abriu a tarde Manuel Pinto, o Manel é daqueles forcados que pela sua maneira de pegar me enchem a alma. E mais uma vez isso aconteceu nessa tarde em Alcochete. Quando cita, fala ao toiro, recua, recebe e se fecha de pernas e braços, este Pinto interpreta a arte de pegar, com pura fidelidade à sua verdade. Grande Pega à primeira tentativa!

João Maria Pinto saltou para a cara do segundo, o irmão mais novo desta saga de grandes forcados, outra pega grande à primeira tentativa. Citou, mandou na investida e fechou-se à córnea.

Nuno Santana no toiro de dizer adeus fez nesta pega o que sempre foi como forcado, citou tão devagar que até parecia que aquele momento nunca mais acabasse, tocavam os acordes da banda e corpo feito frente ao toiro mandou vir, recuando com toreria, fechou-se com a raça que sempre teve e o grupo ajudou de forma coesa. Grande pega e Alcochete de pé.

Para o quarto da tarde saltou o novo cabo António José Cardoso, também realizou uma grande pega à primeira tentativa, esteve templado a citar, recebeu com valor um toiro que vinha por cima, fechou com o grupo ajudar superiormente.

Henrique Teixeira Duarte foi o escolhido para pegar o quinto da tarde outra grande pega ao primeiro intento, bonito a citar, fechou-se à barbela com alma, as ajudas entraram a tempo e a sorte foi concretizada superiormente.~

Victor Marques foi o encarregue de fechar a tarde, tinha a tarefa de pegar o toiro e igualar o seus companheiros de grupo porque os outros cinco tinham sido pegados à primeira tentativa. Mas o Victor é um forcadão, à primeira tentativa realizou uma pega emocionante que voltou a levantar as bancadas da praça da sua terra.

Grande tarde de todos os ajudas que estiveram exemplares a desempenhar as suas funções.

Dirigiu a corrida Tiago Tavares, sendo médico veterinário Jorge Moreira da Silva.

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