Honrar a Memória, Honrando uma Jaqueta…

Honrar a Memória, Honrando uma Jaqueta…Praça de Toiros de Alcochete, 16 de Agosto de 2017… Nos 15 anos da partida do Ricardo Silva “Pitó”, este fez-se acompanhar na sua barreira de céu do igualmente eterno Hélder Antoño, para juntos, mais uma vez, verem como os seus Grupos continuam a honrar a sua memória, em cada toiro pegado e ajudado com a classe, a técnica e a valentia reservadas somente aos eleitos…

Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, Grupo de Forcados Amadores de Alcochete… Duas histórias marcadas por um “obrigado”, um “até sempre” e um “nunca mais”… O eterno agradecimento aos dois companheiros caídos, pelo derradeiro e máximo exemplo de entrega às suas jaquetas e à arte de pegar toiros, o constante sentimento da presença passada, presente e futura, em cada fardamento, em cada salto à Praça e o inimaginável peso desse “nunca mais”: dar tudo de si para dar tudo ao outro, aguentar o embate e a colhida para que nunca a tragédia se repita e, em último caso, paradoxalmente, dar a sua própria vida para esse “nunca mais”… Conseguem imaginar-se nessa posição? Acham que seriam capazes de bater as palmas e ajudar um toiro após um brinde ao céu? Aguentariam envergar a farda, tarde após tarde, noite após noite, tão dolorosamente conscientes do preço que poderiam pagar?… Forcados de Vila Franca, Forcados de Alcochete, quanta Grandeza!

Lá em cima, o “Pitó” esperava e o Rui Godinho brindou… Com calma e temple, demasiados até (sim, é possível) e o bruto perdeu-se na viagem face ao pronunciado recuar do Forcado, esquecendo a nobreza de responder ao suave convite. À segunda, a inteligência, avançando terrenos e não consentindo más intenções, com o primeiro ajuda Bruno Tavares, perfeito e todo entrega: “obrigado”… Diogo Timóteo, ao Grupo de Vila Franca e ao “seu” Helder, de coração cheio a ver o raio partir na sua direcção, sem medos, porque atrás de si latiam outros dois corações de gigante, João Rei e Diogo Toorn, lembrando o “nunca mais”… David Moreira “Canário”, raça e intuição de campino, inteligência e arte de toureiro, 570 ribombantes quilos, recebidos com perfeição e delicadeza improváveis. Na viagem vertiginosa até à brigada do “nunca mais” já se lhe desenhava na mente o “obrigado” que logo diria aos colegas, que estava certo, não o iriam deixar passar… Pedro Gil, experiente, de sobreaviso, frente ao sem aviso da partida do “comboio”, poderosíssimo a receber e mais um “obrigado” e “nunca mais” personificados no fabuloso João Rei… Nova partida sem aviso e a toda a carga, Francisco Faria, não tão experiente, mas muito, muito valente, quase de estaca, com braços e coração e um grande agradecimento ao abraço amigo e entregue do primeiro ajuda Tiago Oliveira “Salsa” e dos restantes companheiros…Gonçalo Catalão, franzino e corolário perfeito, última lição da noite, porque os toiros não se pegam com força, mas sim com a alma e a entrega de um grupo de oito homens, ajudados, nesta noite e sempre pelos companheiros que por eles velam “lá em cima”…

Do restante da corrida, perdoem-me mas não me vou alongar. Hoje e tantas vezes merecem os Forcados o devido protagonismo. Casa praticamente esagotada, que viu sair pela “porta dos sustos” um curro de toiros de impecável presença de Varela Crujo, com comportamentos sérios, tanto nos mais nobres como nos mais reservados e difíceis, a pedirem a todo o momento que as coisas lhes fossem feitas na perfeição, o que nem sempre aconteceu por parte dos ginetes actuantes. Reflexo disso, o facto de tanto Luís Rouxinol, como João Telles Jr. apenas terem dado uma volta à Praça, respectivamente no segundo e primeiro dos seus lotes. Pablo Hermoso de Mendoza, por sua vez, não conseguiu desenvolver de todo o seu toureio em plano de “rejoneador”, andando bastante centrado, é certo, sobretudo na lide do seu segundo, mas sem perfeição nos momentos da cravagem, afinal de contas o essencial da “Arte de Marialva”. Os Varela Crujo tiveram mobilidade agressiva e encastada e com semelhante material tornam-se mais difíceis os tradicionais “artifícios” que tanto encantam as bancadas… Dizia uma Sra. atrás de mim que tinha vindo ver a “Tóráda” e se impressionou muito com o tamanho e poder dos “bois”: “Pois com o andamento deste é difícil o “espanhol” fazer o que quer!” Ah, a maravilhosa sabedoria popular…

No site do Grupo de Forcados de Vila Franca, reza o seguinte excerto, relativo ao saudoso “Pitó”: “Entendemos a sua mensagem, viverá para sempre na nossa memória”. Estou certo que o mesmo sentirão os seus companheiros de Alcochete em relação ao Hélder Antonõ e talvez pela força e sentido dessa mensagem estes sejam, provavelmente, os dois melhores Grupos de Forcados da actualidade.

Praça de Toiros de Alcochete, Praça de Toiros de Vila Franca, qualquer Praça de Toiros… Dois Grupos de Forcados que sentem no mais fundo de si que só honrando a Jaqueta se honra a Memória dos seus heróis caídos… E vice-versa. Muito obrigado a todos!

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