O futuro andou pelo Cartaxo

A Praça de Toiros do Cartaxo abriu as suas portas mais uma vez nesta época 2017, a 16 de Junho numa corrida mista anunciada como o Cartel do Futuro, numa bela noite, apetecivelmente quente. Para enfrentar os dois astados de Canas Vigouroux e os quatro de Fontembro, todos com 3 anos mas bem apresentados na generalidade e com pesos a rondar os 500Kg, estiveram os cavaleiros Miguel Moura e Luís Rouxinol Jr. para além do matador Manuel Dias Gomes e do Grupo de Forcados Amadores do Cartaxo, capitaneado por Bernardo Campino. O público presente acabou por preencher pouco mais de 1/3 de praça, parco prémio para quem acredita em proporcionar cartéis de oportunidade a valores emergentes do nosso panorama taurino. Num aparte e não querendo imiscuir-me em “terrenos” alheios, talvez fosse de bom e respeitoso tom ter sido evocado um minuto de silêncio em memória do antigo cavaleiro de alternativa, José de Athayde, recentemente falecido. Tal não ocorreu.

Miguel Moura

Muito correto na sua primeira lide, infelizmente não conseguiu confirmar, já que lhe calhou a “fava” da noite para a sua segunda atuação.

O cavaleiro Miguel Moura abriu praça frente a um jabonero de Canas Vigouroux, com um peso talvez um pouco abaixo dos anunciados 500 Kg. A pouca cara e alguma carência de poder inerentes foram compensados com alguma voluntariedade com que respondeu ao castigo nos 2 bons compridos iniciais do cavaleiro. Após Miguel Moura trocar de montada, o novilho já se refugiava em tábuas o que impediu o remate condigno da sorte no curto inicial e forçou o cavaleiro a tentar levar o oponente para outros terrenos numa já mais esforçada brega que mesmo assim não atraía o interesse do novilho mas cujo labor foi premiado com música. Nova troca de montada e Miguel Moura acabou por subir o nível da lide com um excelente 4º curto onde após uma preparação cuidada, cravou numa boa sorte frontal e rematou com um artístico adorno, ladeando na cara do oponente. O palmito com que finalizou a lide foi o corolário de uma atuação positiva que agradou ao público e extraiu o que de melhor este novilho possuía. Volta no final.

A iniciar a 2ª parte da corrida, Miguel Moura após brindar ao pai do seu alternante desta noite, o cavaleiro Luís Rouxinol, recebeu o preto de Fontembro e o positivo que esta lide teve…praticamente acabou logo ali. O novilho de pelagem preta tinha alguma presença, atrever-me-ia a dizer que seria quase o maior da corrida em tamanho, mas foi inegavelmente o maior em mansidão. Miguel Moura fez o possível e o impossível para retirar o oponente das tábuas, mas se conseguia sacar algum esboço de investida nos inevitáveis, persistentes e por vezes bastante arriscados sesgos com que tentava atrair o interesse deste manso “perdido”, logo de seguida não o conseguia fixar em nenhum terreno mais propício a qualquer tentativa de brega e evitar novo regresso a tábuas. Foi neste ritmo com um ou outro toque pelo meio que lá conseguiu cravar a ferragem da ordem, abandonando a arena com alguma desilusão por tão triste fado lhe ter tocado em sorte. Volta no final.

Luís Rouxinol Jr.

Teve ao dispor o melhor novilho da noite e soube tirar partido do facto, com uma atuação bastante positiva nessa sua segunda lide.

O segundo novilho da noite tinha pelagem preta, boa presença e era oriundo da ganadaria de Canas Vigouroux. Foi recebido pelo jovem Luís Rouxinol Jr. que cravou 3 compridos de boa nota, sendo que após este ultimo ferro já teve de responder a algum adiantamento do oponente. Escutou música e trocou de montada. O novilho já elegera os médios como terreno de eleição e aos poucos foi perdendo algum fulgor nas investidas, sendo que conforme respondia à esforçada brega imposta por Rouxinol Jr. também do mesmo modo não perdia uma oportunidade para se adiantar à cravagem o que obrigava o jovem Rouxinol a abrir um pouco mais as sortes. Finalizou a esforçada lide com um palmito mas sem evitar um ligeiro toque que não retirou o mérito de ter contornado de modo eficaz as complicações que o novilho lhe impôs nesta atuação inicial. Volta no final.

Luís Rouxinol Jr. recebeu o quinto novilho da noite, um preto acabanado de Fontembro com boa presença, ligeiramente selado e que entrou com investidas de qualidade a responder aos cites de largo que o jovem cavaleiro aproveitou para cravar dois bons compridos. Rouxinol Jr. trocou de montada, o novilho continuou a mostrar matéria para ser aproveitada e ao som de musica, o cavaleiro de Pegões aproveitou para se recrear com uma lide de muito boa nota conseguindo excelentes sortes frontais sem enganos e com uma cravagem homogénea, adornando a lide com uma brega alegre e bem cuidada com apogeu no quinto curto, a aguentar de frente a investida franca do novilho, a cravar ao estribo de modo superior e a rematar a sorte seguindo as regras clássicas do toureio a cavalo. Rouxinol Jr. teve ao dispor o novilho que mais qualidade para ser lidado demonstrou nesta noite e soube aproveitar bastante bem essa mais-valia que o oponente lhe proporcionou. Volta no final.

Manuel Dias Gomes

O matador não “rompeu” nesta noite, apesar de esforçado e de ter aproveitado parcialmente alguma da curta matéria que lhe foi disponibilizada.

O único matador em praça recebeu o terceiro novilho da noite, pertencente à ganadaria de Fontembro, um bonito colorau de córnea bem aberta, com verónicas a “aliviar” numa atitude de mera avaliação das condições de investida do oponente. O tércio de bandarilhas foi muito aplaudido, com João Oliveira a cravar dois belos pares na noite em que prestava prova para bandarilheiro profissional e o seu irmão Joaquim Oliveira a não ficar atrás com um outro excelente par. Na lide de muleta, Manuel Dias Gomes teve um oponente com “andamento” a mais que certamente um toque de puya poderia suavizar retirando a brusquidão patenteada que inviabilizava maior proximidade, apesar da investida pronta ser favorável. O colorau ainda foi colaborante nas corretas séries de derechazos que Manuel Dias Gomes ensaiou, não resultando tanto a tentativa de obter iguais séries de naturais na zona dos médios já que o novilho cedo se esquivou a estes terrenos. Nesta altura, Dias Gomes tentou com relativo sucesso séries de passes pela direita em terrenos que o novilho adotou em tábuas quando já demonstrava um nítido desinteresse pela peleia, tendo a lide sido entretanto abreviada. Volta no final.

Para o último novilho da noite, um preto bem composto de Fontembro, com menos poder e brusquidão que o novilho da lide inicial, Manuel Dias Gomes recebeu-o com um bom quite de Verónicas bem correspondidas. Ensaiou entretanto um quite de meias chicuelinas e o novilho cedo lhe inutilizou o capote na meia chicuelina inicial mas o matador não se intimidou e finalizou a série, que resultou, com um bonito remate a uma mão. O tércio de bandarilhas resume-se a um excelente par do bandarilheiro João Ferreira. O tércio de muleta foi iniciado com boas séries de passes pela direita com o matador a reduzir as distâncias gradualmente aproveitando algumas boas condições de investida que o novilho ainda apresentava. Seguiram-se duas séries de naturais com alguns bons passes correndo a mão e escutou-se musica. O novilho já perdia a voluntariedade inicialmente apresentada e recolheu-se em tábuas, tendo Manuel Dias Gomes ainda tentado alguns passes que não trouxeram nada de novo a esta lide, apenas demonstrando uma atitude esforçada de conseguir retirar algo mais a este novilho que apesar de ter mostrado alguma chama na metade inicial da lide, foi-se entretanto ofuscando na sua fraca qualidade. Volta no final.

Grupo de Forcados Amadores do Cartaxo

Apresentaram-se em solitário na praça da sua terra e maioritariamente não complicaram a tarefa nas pegas obtendo uma noite positiva, com exceção para o seu terceiro, onde houve mais vontade do que “cabeça”.

Para pegar o primeiro novilho da noite foi para a cara o forcado Miguel Afonso que esteve tecnicamente correto nesta pega. Efetuou um cite pausado, mandou nos terrenos adequados, aguentou o suficiente, recuou no momento certo e embarbelou-se bem numa viagem até às tábuas onde as terceiras ajudas estiveram corretas e fecharam com sucesso esta primeira intervenção da noite. Volta no final.

A segunda pega da noite esteve a cargo do forcado da cara Iúri Tristão. O novilho não facilitou no momento da verdade, o forcado teve de o “ir buscar” a tábuas já praticamente em terrenos de compromisso, aguentou uma reunião endurecida pelo facto de não ter conseguido recuar o suficiente para a suavizar e ingloriamente acabou por sair já num segundo derrote para cima, essencialmente por não se ter fechado de pernas mas onde se notou que o cara acreditou mais do que os ajudas. Na 2ª tentativa, tudo muito igual, nos mesmos terrenos e com a mesma dureza, mas aqui o forcado já fechado de braços e pernas, encheu a cara ao novilho e ajudado por um grupo que demonstrou coesão, consumou bem uma pega dura com nota positiva. Volta no final.

A terceira atuação da noite do grupo acabou por ser a menos conseguida da noite. O cara escalado para esta pega foi o forcado Bruno Rodrigues e o novilho, o já referido manso de Fontembro que complicou a lide do cavaleiro, logo, seria legítimo prever que também estaria disposto a complicar a pega. Na verdade o novilho saiu bem de tábuas ao mando do forcado que até aí esteve correto, recuou o suficiente mas recebeu mal o oponente, “encolhendo-se” na reunião o que foi fatal já que o novilho com a visão completamente descoberta foi sacudindo um forcado da cara completamente descomposto que apesar de tudo ainda teve moral para se tentar voltar a compor na córnea mas sem sucesso, acabando derrotado nos médios. Nesta tentativa, o 1º ajuda teve de ser retirado para a enfermaria nitidamente maltratado e o cara, lesionado, teve de ser substituído. Saltou para a cara o forcado Duarte Campino. O grupo nesta altura não teve discernimento a analisar a situação, precipitando-se, formou a quarteio inicialmente e posteriormente totalmente a sesgo, permitiu uma infinidade de lances e avisos com o capote a retirar cada vez mais a investida ao novilho. Obviamente não está em causa o valor dos forcados que acabaram por agarrar o novilho numa pega à 2ª tentativa esforçada, com o cara bem fechado e com o resto do grupo empenhado a ajudar bem, mas totalmente desprovida de brilho pela falta de calma demonstrada e ajudando a criar um problema que ainda não o era. Arestas de “juventude” por limar. O diretor não atribuiu volta ao forcado.

A quarta e ultima atuação da noite do grupo do Cartaxo, teve na cara o forcado Fábio Beijinho que esteve correto no cite, carregou e recuou bem, fechando-se com eficácia na córnea do oponente, aguentando no alto uma viagem onde o novilho fugiu ligeiramente ao grupo mas onde as terceiras ajudas voltaram a ser preponderantes, recuperando bem e ajudando com sucesso em mais uma boa pega que encerrou de modo positivo esta atuação. Volta no final.

Esta corrida foi dirigida com acerto e decisões de critério coerente pelo diretor de corrida Sr. Lourenço Luzio, assessorado pelo veterinário, Dr. José Luís Cruz.

Artigos Similares

Destaques