É de Monforte, chama-se Miguel Moura!

No mundo do toureio, nada mais há tão importante como ver numa arena um artista a gosto e com vontade de suscitar no público os mais diversos sentimentos. Ontem, 8 de setembro de 2023, na Praça de Toiros do Campo Pequeno, um toureiro fez da arena o palco de todas as suas emoções e as bancadas extravasaram a maior diversidade de sensações, que resultaram num aplauso em uníssono que parecia fazer estremecer as paredes da primeira praça do país.

A Praça de Toiros do Campo Pequeno registou ontem uma bonita moldura humana que preencheu mais de três quartos da sua lotação. Mais uma prova de que a tauromaquia está viva e goza de boa saúde. Foi esta a maior resposta que se pode dar a meia dúzia de indivíduos que se julgam os proprietários do monopólio da moral e tentam impor a todos as suas ideias.

A corrida de ontem em Lisboa resultou num êxito artístico, com boas atuações de todos os intervenientes, dando a todos aqueles que assistiam fora de Portugal através do OneToro TV uma feliz ideia do que é a tauromaquia em Portugal e da forma como a mesma se interpreta no nosso país.

A corrida teve início com um cortejo de gala à antiga portuguesa seguido de uma merecida homenagem a D. Álvaro Domecq e a seus sobrinhos António e Luís Domecq.

Da ganadaria António Charrua vieram para a primeira praça do país seis exemplares, bem-apresentados, denotando nalguns casos excesso de peso. Quanto ao comportamento foram díspares, mas de um modo geral cumpriram para o bom resultado do espetáculo. O primeiro da ordem, o mais pesado do festejo, foi nobre, teve alguma mobilidade, faltando transmissão. O segundo transmitiu mais que o anterior, teve mobilidade e foi um bom toiro. O ganadero foi premiado com volta ao ruedo. Mobilidade e humilhação teve o terceiro, ao qual faltaram as forças. O quarto não facilitou a tarefa ao toureiro. Com pouca mobilidade, teve transmissão no momento dos ferros. O quinto cumpriu, embora fosse algo distraído. O último foi reservado e com pouca mobilidade. Foi nobre.

Abriu praça o mais veterano cavaleiro do cartel, Luís Rouxinol. O cavaleiro de Pegões realizou uma grande lide, entendendo o toiro que teve por diante, templando ao máximo as investidas do nobre toiro de Charrua. Abriu a função com três ferros compridos, destacando-se o muito bom primeiro, batendo ao pitón contrário.  Na ferragem curta, montando o Douro, esteve em plano superior e deixou uma excelente série de ferros curtos estando soberbo na brega de preparação e remate das sortes. Cravou um excelente par de bandarilhas e terminou a função com um ferro de palmo de nota elevadíssima.

Pablo Hermoso de Mendoza deu lide ao segundo da ordem e esteve correto em toda a sua função, embora não atingindo um patamar de triunfo. Depois de cravar com correção a ferragem comprida, partiu para uma série de ferros curtos também primados pela correção, entrando de frente com o toiro. Esteve bem a lidar o toiro, chegando com força ao público que não lhe regateou aplausos.

Duarte Pinto realizou uma atuação de elevadíssimo nível, dentro do seu conceito clássico. Utilizando apenas uma montada, abriu a lide com dois bons compridos. Na ferragem curta, cravou uma série de ferros de extraordinária execução, dando distância ao toiro, entrando de frente e cravando a preceito resultando as reuniões cingidas. Esteve bem a lidar o toiro, destacando-se no remate das sortes. Lide bastante positiva de Duarte Pinto.

Transposto o equador do festejo, eis que entrou em praça Miguel Moura. Moralizado depois de um forte triunfo em Madrid, Miguel Moura chegou ao Campo Pequeno disposto a afirmar que é o grande triunfador desta temporada, sem desprimor pelos restantes. Perfilou-se em frente à porta dos curros, armou o braço e esperou a saída do imponente toiro da ganadaria Charrua. Com o toiro parado à saída dos curros, o Miguel esperou que o toiro arrancasse. Como o toiro não atacou, atacou o toureiro de frente cravando um ferro soberbo em sorte de gaiola. Olé! A música podia ter tocado. Deixou ainda outro ferro comprido de nota elevadíssima. Trocou de montada, colocou o toiro onde quis, deu distância e cravou um ferro curto batendo ao pitón contrário de nota elevadíssima. Outro igual se seguiu, trocou de montada, e depois o que se passou na arena do Campo Pequeno fica na história desta Temporada 2023 como uma das grandes lides da temporada, ou até mesmo a melhor… ladeios de nota elevadíssima e um bom ferro curto, a que se seguiu outro passando por dentro no seguimento do ladeio. Com um ferro de palmo na mão, levou o toiro embebido na garupa do cavalo para passar onde parecia não caber uma fina folha de papel deixando um ferro que fez levantar de imediato todo o público presente nas bancadas da praça de toiros da capital. Olé! A pedido do público cravou um último ferro de palmo que foi o perfeito rematar de uma obra artística marcante. No final da lide, deu duas aludidas voltas ao ruedo, com o Campo Pequeno de pé. Deixo apenas um reparo: por que razão não se abriu ontem a Porta Grande do Campo Pequeno para este toureiro? O que será necessário para abrir a Porta Grande? Não se terá aberto em anteriores ocasiões por menos que isto? Ontem era imperativo que Miguel Moura saísse em ombros da primeira praça do país!

Depois do arrebatador triunfo de Miguel Moura, teve a difícil tarefa de tourear após esse feito o cavaleiro Luís Rouxinol Jr. Mostrou que não vinha para assistir ao triunfo do companheiro e foi receber o toiro à porta dos curros, recebendo-o de boa forma. Cravou dois bons compridos. Na ferragem curta, montando o Jamaica esteve em bom plano, tendo apenas como ponto menos positivo um forte toque aquando da cravagem do terceiro curto, em virtude de ter arriscado ao máximo. Trocou de montada e com o Girassol deixou um bom ferro curto e dois extraordinários ferros de palmo muito bem rematados.

Guillermo Hermoso de Mendoza foi o encarregue de dar lide ao último toiro da corrida. Diante de um toiro com pouca mobilidade, o cavaleiro abriu a função cravando o primeiro ferro em sorte de gaiola, numa excelente execução. Em curtos, montando o Berlín, cravou uma boa série de ferros, tentando imprimir a brega ladeada com passagens por dentro que chegaram com força ao público. Trocou de montada e cravou três ferros corretos, rematados com piruetas bastante do agrado do público.

No capítulo das jaquetas de ramagens, estiveram em praça os Grupos de Forcados Amadores do Aposento da Moita e de Cascais.

Pelo Aposento da Moita, abriu praça o cabo Leonardo Mathias que brindou oportunamente à equipa da OneToro TV que transmitiu para todo o mundo as corridas da Feira Taurina de Lisboa. Consumou uma boa pega ao primeiro intento, contando com boa ajuda de todo o grupo. João Freitas aguentou o ensarilhar do toiro e concretizou uma grande pega à primeira tentativa ao terceiro toiro da noite. Fechou a atuação do Aposento da Moita Martim Cosme que concretizou uma pega corretíssima ao segundo intento.

Pelos Amadores de Cascais abriu a função Afonso Cruz consumou uma grande pega ao primeiro intento contando com uma excelente primeira ajuda. Diante do quarto da ordem, Rui Grilo concretizou aquela que foi a sua última pega. Na primeira tentativa acabou por não consumar após suportar alguns derrotes. Concretizou com mérito à segunda. Fechou a corrida Carlos Dias numa boa pega ao primeiro intento.

Foi guardado um minuto de silêncio em memória de Dona Ilda Salvador, mãe do cavaleiro Rui Salvador, falecida ontem.

A corrida foi dirigida por João Cantinho assessorado pelo médico-veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva. No cornetim esteve José Henriq

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