Crónica Santarém | “… e a chuva não bate assim!”

MONUMENTAL PRAÇA CELESTINO GRAÇA

1ª Corrida da Feira Nac. da Agricultura

CORRIDA da CAP 2023

CONCURSO DE GANADARIAS – Manuel Veiga, Vinhas, Manuel Coimbra, Dr. Antonio Silva, Murteira Grave e Veiga Teixeira.

Cartel: Rui Fernandes, João Moura Jr e João Ribeiro Telles

Forcados: Amadores de Santarém (João Grave) e Montemor (António Pena Monteiro)

Directora de Corrida: Ana Pimenta e assessorada pelo Dr José Luis Cruz

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Esta crónica poderia bem começar por: “ foi numa soalheira tarde de Junho e com muito calor…”, pois poderia, seria o mais natural até, mas a verdade é que assim não foi, ou melhor, podemos deixar o calor (relativo) e acrescentar chuva à equação.

Não é que seja novidade, mas a verdade é que é muito pouco usual termos chuva a estragar as corridas da Feira.

Mas enfim, nada que o Homem possa controlar sendo que a chuva acabou por condicionar e marcar grande parte da corrida.

Como nota prévia; quero dar os parabéns a todos os artistas envolvidos por terem abnegadamente aceite as condições adversas que o clima os brindou, tendo contornado com maior ou menor dificuldade os normais obstáculos que a chuva coloca, sem nunca se terem refugiado no comodismo que a situação poderia induzir.

Também uma palavra de agradecimento à “Sector 9” por não ter caído na tentação de adiar/anular a corrida, quando estariam cerca de 7000 pessoas à espera de assistir ao espectáculo.

Mas vamos à corrida!

Santarém teve desde sempre corridas icónicas.

No meu tempo, eram as da Radio Renascença – quem não se lembra do António Sala e da amiga Olga ??? -, as corridas da Olá Semanário, Corridas TV, etc etc e obviamente a da CAP.

Se juntarmos o enorme prestígio que a Confederação de Agricultores goza no meio com um cartel rematado como este, então temos todos os ingredientes para o sucesso

Este ano, a da CAP, tinha como aliciantes o facto de ser um concurso de ganadarias; o duelo eterno dos forcados de Santarém e Montemor e assim como um desafio entre 3 cavaleiros de maior postim em Portugal.

A corrida iniciou-se à hora marcada – 17h.

A normal e enfadonha forma clássica das cortesias foi alterada e deu lugar a outro tipo de cortesias mais leve, menos demorada e mais dinâmica. E por mim era optimo que assim se mantivesse!

Infelizmente podemos mesmo abreviar porque o tema “chuva” assim o obriga.

A chuva condicionou a lide dos 2 toiros de Rui Fernandes e os 1ºs toiros de Moura Jr e de João Telles, ou seja; choveu até ao 4º toiro e só a partir daí é que se conseguiu ver os artistas com as suas prestações normalizadas.

1º – Rui Fernandes

Toiro: Manuel Veiga (550 kg)

Foi precisamente neste toiro que mais choveu (e chovia copiosamente), tendo Rui Fernandes feito aquilo que lhe foi possível fazer e tirar, a um bonito toiro de Veiga. Cravou com correcção

Para pegar o 1º da corrida, saltou à Praça o centenário Grupo de Santarém, que por intermédio do seu forcado Salvador Ribeiro d´Almeida, efectuou pausadamente, uma rija pega à 1ª tentativa, com um toiro tardo de investida, a vir com a cara alta, secundado por uma eficiente 1ª ajuda do recém-nubente Pedro Dias Ferreira, que o acompanhou na viagem até à entrada dos restantes ajudas que fecharam na perfeição.

2º – João Moura Jr

Toiro: Vinhas (635 kg)

Mesmo com a lide condicionada, num ambiente atípico, com a maior parte do publico recolhido nas amplas galerias da Praça, João esforçou-se em sacar ao mais pesado da corrida a lide possível nestas condições. Andou regular, destacando-se o 4º e último ferro de muito boa nota.

Pelo Grupo de Montemor, o António Pena Monteiro escolheu o forcado Francisco Borges, que com a eficácia e experiência reconhecida, pegou bem ao 1º intento, com uma valorosa 1ª ajuda do seu Cabo e com os restantes ajudas a reagirem prontamente.

3º – João Ribeiro Telles

Toiro: Manuel Coimbra (490 kg)

O “Ginja”, tal como os anteriores cavaleiros, toureou à chuva este seu toiro e mesmo com o risco redobrado por essa condição, não virou a cara ao desafio e mesmo andando em “velocidade de cruzeiro”, cravou com a habitual correcção, destacando eu o 2º curto desta lide.

Para a pega deste 3º da tarde, escolheu João Grave o forcado Caetano Gallego.

O Caetano, caminhou serenamente desde cá detrás, deixou-se ver bem pelo toiro, carregou e mandou vir quando entendeu. O toiro arrancou alegre, pronto e mesmo ensarilhando quase aos seus pés, o forcado aguentou e fechou-se correctamente, com mais uma eficiente e perfeita 1ª ajuda, com os restantes ajudas lestos a ajudarem.

Ao intervalo, a Associação Sector 9, utilizando o som da Praça, emitiu um agradecimento a todos os presentes em Praça, que sujeitando-se à chuva, nunca desistiram da corrida.

4º – Rui Fernandes

Toiro: Dr António Silva (590 kg)

O Rui foi o único dos 3 cavaleiros que toureou os 2 toiros sempre à chuva e como se isso não fosse suficientemente condicionante, teve neste pela frente, um toiro desinteressado, apático e nada cooperante. Tentou dar a “volta á tortilha”, esforçado, mas a verdade é que ter um toiro constantemente a passo e sem chispa, prejudicou-lhe claramente a sua prestação, ainda que trocando 2 vezes de cavalo nos curtos, não conseguiu alcançar o sucesso que obviamente almejava.

Destaco o 2º curto, quando lhe conseguiu sacar uma investida digna desse nome

Para a pega do 4º toiro da corrida, saltou á Praça o Grupo de Montemor e desta vez o escolhido foi o experiente Vasco Ponce

Na 1ª tentativa, o Vasco aguentou uns derrotes altos muito violentos e sai num derrote fatal para baixo sem que o Grupo conseguisse ajudar.

Na 2ª tentativa, o mesmo tipo de 1º derrote alto mas desta feita defendeu-se com um corno não tendo o forcado conseguido fechar-se.

Na 3º tentativa e com as ajudas já carregadas, concluiu a pega com a eficácia que estes momentos requerem.

5º – João Moura Jr

Toiro: Murteira Grave (535 kg)

Há um ditado taurino espanhol que nos lembra “ … no hay quinto malo” e efectivamente assim foi em Santarém.

O “nº 15” que saiu da Galeana, o 5º toiro, foi mesmo considerado o melhor  da corrida, premiado e escolhido pela Associação que gere os desígnios da Celestino Graça.

Tendo Moura Jr, um oponente desta qualidade pela frente, já sem chuva e com o regresso da banda aos seus lugares habituais, a corrida mudou claramente de compasso. Veio o brilho que tardava aparecer!

Num toiro sempre disponível para investir, a fixar-se onde o cavaleiro o punha, a andar quando era necessário, o Senhor das Arengozinhas luziu-se em boas e pormenorizadas preparações, muito toureiro, perfeito na cravagem. Destaco eu 2º, o 3º, o 4º (pena o engancho no remate) e a “mourina” (nos curtos).

Para pegar este toiro, o João Grave escolheu o jovem forcado Francisco Cabaço

O Francisco começou o seu cite de largo e foi-se aproximando do toiro.

Após um primeiro sinal que se ia arrancar e sem que tal sucedesse, Francisco carrega o “15” que arranca e despacha-o com um derrote para cima, sem que o tivesse conseguido aguentar.

Mudança de terrenos (para dentro), concretiza à 2ª tentativa, numa pega tecnicamente perfeita.

Volta para cavaleiro e forcado

6º – João Ribeiro Telles

Toiro: Veiga Teixeira (630 kg)

Se não há “quinto malo” este 6º toiro do Pedrogão, não se ficou atrás.

Gostei francamente de tudo o que vi nele.

O João iniciou o seu mester com uma porta-gaiola, trazendo o toiro na garupa do cavalo o tempo que quis e sem nunca que este se desligasse.

Colocou os ferros compridos da ordem sem nada de relevo.

De seguida e após a troca habitual de cavalo, colocou 6 ferros curtos neste toiro e achei que todos eles foram devidos e merecedores dos aplausos que recolheu.

Citou de largo, citou de curto, deu todas as vantagens, toureou, rematou, divertiu-se e fez-nos divertir.

Destaco o 2º, o 3º e o 5º ferro.

Para a pega do Teixeira, escolheu o Tó Pena o seu irmão Zé Maria.

Caso não saibam, quer o António Pena Monteiro, quer o Zé Maria são Scalabitanos e este momento foi obviamente muito especial para ambos; um irmão a pegar de caras e outro a dar-lhe 1ªs ajudas na Praça da cidade que os viu nascer. Espectacular mesmo! Olé para vocês !!!

A pega entretanto, começou lá atrás, num cite longo, tranquilo, sem precipitações.

Após ter carregado, e com uma investida rápida, o Teixeira deu-lhe uns derrotes duros e o Zé acabou por sair, com o Tó Pena manifestamente inferiorizado.

Pega concluída à 2ª tentativa, com uma óptima prestação de todos os ajudas

Como concurso que era e já foi referido, foi distinguido o toiro do Dr Joaquim Grave que levou para a Galeana o prémio de melhor toiro.

Quanto ao triunfador, não vou eleger nenhum.

Melhor; elejo todos os artistas e os presentes em Praça, que resilientemente aguentaram a perigosa e desagradável chuva que persistiu desde o 1º ao 4º toiro.

Até Sábado

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