Azambuja – 8 de Outubro de 2023, 17 horas – Corrida Mista, de Homenagem a Lourenço Luzio. Cavaleiros: Ana Batista, João Moura Caetano, Andrés Romero, Parreirita Cigano, Manuel Oliveira e Diogo Oliveira; Matador: António João Ferreira; Forcados: Amadores de Azambuja, do Clube Taurino Alenquerense e do Cartaxo; Ganadarias: João Ramalho, São Torcato (lide a pé) e Gregório Oliveira (7.º); Director de Corrida: Marco Cardoso; Médico Veterinário: Dr. José Luís da Cruz; Tempo: Quente e ensolarado; Público: Meia casa forte.
Lourenço Luzio é, para além de um bom amigo e pessoa que muito estimo e considero, uma figura incontornável na Tauromaquia ribatejana, pelo que foi inteiramente justa e merecida a homenagem que a empresa “Ovação & Palmas” e a Associação “A Poisada do Campino” lhe prestaram no pretérito domingo, à qual se associaram diversas entidades autárquicas e associativas. Também o público, que no limite aqui poderia representar os aficionados portugueses, correspondeu satisfatoriamente, tendo em conta que a tarde excessivamente quente mais convidava a uma jornada balnear e o cartel, embora digno e respeitável, não tinha assim tantos atractivos.
Lourenço Luzio, que está a viver uma fase difícil da sua saúde, destacou-se como um dos mais valorosos e competentes forcados dos Amadores de Azambuja, Grupo que integrou por diversas temporadas, evidenciando sempre a sua imensa paixão pela festa brava. Em sua casa instalou uma bonita Tertúlia, na qual levou a efeito diversos colóquios taurinos e que serve de ponto de encontro de muitos amigos e aficionados durante a tradicional e centenária Feira de Maio.
Na sua querida Vila de Azambuja, Lourenço Luzio ajudou a constituir a Associação Cultural “A Poisada do Campino”, em cujo âmbito funcionou também uma prestigiada Escola de Toureio, onde se formaram alguns toureiros de prata que ostentam as suas faculdades técnicas e artísticas pelas nossas praças. Na Associação Cultural “A Poisada do Campino”, onde se exaltam as tradições ribatejanas relacionadas com a criação do cavalo e do toiro de lide, em cujo âmbito pontifica a figura célebre do Campino, Lourenço Luzio tem exercido destacados cargos directivos, integrando na actualidade o respectivo Conselho Fiscal.
Senhor de uma vasta cultura taurina e aficionado dos sete costados, Lourenço Luzio integrou até há bem pouco tempo o quadro dos Delegados Técnicos da IGAC – directores de corrida – onde patenteou a solidez dos seus conhecimentos e a ponderação das suas atitudes, pelo que facilmente se destacou entre os seus pares, pelo reconhecimento do seu mérito, tendo merecido a simpatia e o apreço dos aficionados, que sempre o respeitaram no exercício de tão relevantes funções.
Os toiros de João Ramalho estavam bem-apresentados, dentro do tipo da ganadaria, e cumpriram na generalidade, permitindo a quem teve de os enfrentar desincumbir-se galhardamente dos seus compromissos, pois se é verdade que não houve nenhum toiro bravo, não é menos certo que não saiu à arena azambujense nenhum toiro manso perdido. O toiro de Gregório de Oliveira, bonito jabonero, também cumpriu, outro tanto se podendo dizer em relação ao toiro de São Torcato, lidado pelo matador escalabitano António João Ferreira.
Ana Batista andou em bom plano, fiel ao seu estilo de toureio, desenhando correctamente as sortes frontais e à tira, colocando vistosa ferragem, sobretudo a curta, em que doseou mais o andamento da sua montada e se recreou na preparação das sortes e nos adornos com que as rematou. Esteve bem, como que a dar boas indicações para a próxima corrida em Salvaterra de Magos.
João Moura Caetano está um toureiro maduro, cultivando o seu estilo ortodoxo q.b., citando de frente, a dar a primazia de investida ao seu oponente, e consentindo no centro da reunião o repouso necessário para colocar emotiva ferragem. Um ou outro equívoco nos terrenos resultou em ligeiros toques na montada, mas sem, contudo, deslustrar sobremaneira a sua bonita função, brindada ao homenageado.
Andrés Romero esteve igual a si próprio, o que agrada a muito boa gente e não é tão apreciado por outros tantos. Convenhamos que a sua concepção de toureio mexe com o público, que vibra com as suas abordagens ao toiro, porém, para mim, tourear é outra coisa. Não poderei exigir a um rejoneador espanhol que faça aquilo que também muitos cavaleiros de casaca e tricórnio não fazem, pois, os tempos de cada sorte são fundamentais e Romero não os cumpre na maioria dos casos, exagerando nas passagens em falso e nas sortes engarupadas. Teve o azar de lhe haver tocado o toiro menos colaborante, mas, mesmo assim o povo gostou e aplaudiu.
Após um extenso intervalo para a homenagem a Lourenço Luzio, primeiro no interior da praça e depois na arena, e para o alisamento da arena, perfilou-se o matador António João Ferreira para lidar o bonito toiro de São Torcato. E que bem que o fez, sem rubricar uma faena memorável, mas fez tudo bem feito, ajustando as distâncias e os terrenos, submetendo o hastado em lances vistosos e elegantes, que o conclave aplaudiu. Após o tércio de bandarilhas, superiormente protagonizado por João Oliveira, António João Ferreira desenvolveu uma interessante faena, brindada a Lourenço Luzio, rubricando poderosas tandas por ambas as mãos, diversificando o reportório de passes e de adornos que constituíram uma agradável lide. Muito bem.
Parreirita Cigano enfrentou mais um toiro de João Ramalho que serviu bem, o que permitiu ao valoroso marialva desenvolver uma lide interessante, ainda que com altos e baixos, pois nem sempre a abordagem aos terrenos do toiro e as reuniões foram bem definidas, o que sempre deslustra o labor do cavaleiro. Parreirita privilegia os cites frontais e a colocação da ferragem em sortes ao estribo, para o que evidencia valor e arte, porém, estas sortes são mais difíceis de consumar, pois exigem a conjugação de factores a que por vezes o toureiro é alheio. Apesar de tudo o balanço da actuação do cavaleiro do Cartaxo é francamente positivo.
Manuel Oliveira tem vindo a evoluir no seu toureio, em que pretende desenvolver um estilo mais clássico, embora nem sempre o consiga fazer, pelo que se nota uma certa irregularidade, alternando aspectos muito positivos com outros menos satisfatórios. A intuição que transparece na forma como se movimenta na arena, escolhendo bem os terrenos, acabará por lhe permitir alcandorar-se a um plano técnico e artístico muito interessante, porém antevê-se ainda muito trabalho pela frente.
Diogo Oliveira é um cavaleiro praticante a quem já apreciámos boas actuações, embora se constate que é necessário muito trabalho para se impor neste universo tão competitivo. Tal como o cavaleiro que o antecedeu, também se nota uma certa inconstância, pelo que o inverno que se avizinha haverá de lhe proporcionar evoluir dentro da sua linha de toureio. Culminou a sua actuação com um vistoso ferro de “violino” e teve o bom senso de não acolher os pedidos do público para que cravasse mais um ferro, pois dificilmente conseguiria fazer melhor.
Os três Grupos de Forcados em praça solveram de forma mais ou menos fácil os respectivos compromissos, pois os toiros são saíram complicados e os forcados tiveram o condão de não tornar difícil o que até pareceu fácil.
Pelos Amadores de Azambuja foram solistas Ruben Branco, que consumou pega fácil ao segundo intento, e Hugo Fazenda, que concretizou a pega da tarde, ao primeiro intento, tendo conquistado o troféu em disputa; Pelos Amadores da Tertúlia Tauromáquica Alenquerense foram à cara Diogo Faustino, em pega fácil à primeira tentativa, e André Maçarico, que consumou boa pega à segunda; e pelos Amadores do Cartaxo, Vasco Campino rubricou uma boa pega ao primeiro intento, e José Oliveira apenas consumou a sua sorte à terceira tentativa, porém esteve enorme na segunda tentativa na qual foi ingloriamente desfeiteado.
Boa intervenção dos bandarilheiros e dos peões de brega e direcção correcta de Marco Cardoso. Para reflexão de quem de direito fica a referência à duração da corrida – cerca de quatro horas! Não há pachorra…