Victorino Martín: “Sou o primeiro animalista praticante”

No dia em que abriram a temporada 2018 de Las Ventas, Victorino Martín e a filha, Pilar, deram uma entrevista ao site espanhol La Razón, na qual falaram do falecido Victorino Martín, do feminismo e da tauromaquia.

 “O meu pai deu-nos muito, seria um acto de egoísmo brutal pedir mais”, disse Victorino Martín. “Viveu 88 anos e os seus últimos dias também foram felizes e tranquilos.Viajámos muito e falávamos todos os dias. Antes, quando usar o telefone era mais barato a partir das dez da noite, aproveitávamos e às vezes tínhamos passado o dia juntos”, recorda. A filha, Pilar, também relembra o avô com saudade: “Fui com ele a todos sítios desde que era pequena, mas gosto de o recordar há uns anos, quando tinha vitalidade, com o seu génio e o seu riso”.

Pai e filha falaram também do papel da mulher actualmente, referindo-se ao trabalho que Pilar faz na ganadaria. “Sempre me senti respeitada. Creio que não ligam tanto ao sexo como à pessoa, a como tu demonstras ser profissional e pessoalmente.” Victorino também considera que a participação feminina é importante: “No século passado já se dizia que nos primeiros dez anos do século XXI a mulher iria aceder aos cargos de responsabilidade. Aqui vive-se com normalidade. É importante que assim seja porque as mulheres contribuem com coisas que os homens não vêem e vice-versa”.

Na altura de tomar decisões, tentam sempre chegar a um consenso. “É dar e receber, como na vida. Umas vezes cede um, outras vezes cede o outro”, explica Pilar. “Somos pessoas e gerações distintas; o mesmo acontecia com o meu pai”, diz Victorino.

 

 

A ganadaria Victorino Martín existe desde os anos 60 e é muito conceituada. “Pedem-nos excelência. Creio que o nosso caso é um pouco diferente, porque nas nossas corridas vão ver o toiro e nas outras vão ver o toureiro. Por isso, se não se está à altura, somos criticados”, garante Victorino, adiantando que muitos toureiros se sentem nervosos por terem de lidar um dos seus toiros.

O ganadeiro falou ainda da tauromaquia e das críticas que são feitas a esta actividade. “Sou o primeiro animalista praticante e peço que se respeite. Creio que querem impor um tipo de sociedade que não é viável. Os animais têm de estar organizados e há que respeitá-los. O mundo evoluiu muito, mas o homem construiu a sua relação com os animais ao longo dos séculos. Os animais não têm direitos nem obrigações, não há que maltratá-los, não há que fazer as coisas de qualquer maneira, mas este planeta é como é. Disse um amigo meu que por trás de cada prato de comida há uma morte. Para o prato de legumes é preciso matar a toupeira que come os vegetais e o passarinho que come as frutas. Se o homem não tivesse organizado o mundo, dando a cada animal a sua utilidade, não poderia comer. Pelo contrário, teria de fugir para não ser devorado por um urso, leão ou lobo.”

Para explicar a essência da tauromaquia, Victorino vai às suas origens. “A derradeira definição de corrida de toiros é ‘ritual de sacrifício’. Num ritual matamos aquilo que mais amamos. Lidam-se 10% dos animais que temos na herdade; é como um ritual para que o resto viva. Por cada toiro que é lidado, dez vivem aqui. Em casa, as vacas morrem de idade. As vacas leiteiras, quando alcançam a sua produção máxima e decaem, são eliminadas e o bezerro é morto ao fim de pouco mais de um ano. E são necessários para nos alimentar. A tauromaquia é uma representação real da vida, e a vida tem essa parte sangrenta”

 

 

 

Fotografia: IDEAL

 

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