A Primeira ninguém esquece

Crónica

De nada vale a pena questionarem e lamentarem a nossa presença neste espaço tão sério de Informação Taurina. Como podemos nós, esses arruaceiros da festa, esses selvagens do humor ordinário, esses malfeitores de jaqueta rameada, terem um espaço só seu num site tão distinto como este? Pois. Nós perguntámos o mesmo quando nos convidaram e ainda estamos à espera da resposta. O que é certo é que agora a desgraça já está feita e como devem supor a avença já foi creditada na nossa conta. Não há volta a dar. Pelo menos até que nos despeçam, o que é bem provável que aconteça, já hoje, depois de terminarmos este primeiro artigo.

Na verdade não percebemos por que razão mostram tanta relutância em relação à nossa presença aqui. Afinal somos lavadinhos e mais importante que tudo o resto: não damos erros ortográficos. E bem sabeis que não dar erros ortográficos como tantos outros é coisa rara por aí.

E claro, convém esclarecer que estes nossos escritos refletem apenas e unicamente a nossa opinião, sendo da nossa inteira responsabilidade e nada tendo a ver com o restante. Se quiserem processar alguém, será o nosso cabo, esse ilustre demónio desconhecido.

Ao contratar-nos, o nosso diretor só nos disse “sejam livres que nem um toiro no campo!”, e nós, depois de lhe agradecermos os cornos, vamos cumprir à risca o que ele nos pediu…

Para comprovar a nossa isenção e para provar que não temos mesmo vergonha na cara, vamos dedicar este primeiro número, imaginem só, ao sogro do nosso diretor: O avô da Heidi.

Tínhamos de começar por algum lado, não? Então por que não começar logo com os da casa?

Sim. Isto é um teste. Então, pensem lá connosco: Se nós desancarmos uma pessoa que é praticamente pai do nosso patrão e não formos despedidos, é bem possível que nos aguentemos por aqui durante mais algum tempo. Certo?

Pois cá vai.

Lourenço Luzio é um grande homem. Não, não sucumbimos à piada fácil. Reformulemos então, para que não nos acusem de usarmos trocadilhos baixos: Lourenço Luzio, para além de gordo, é um grande homem. E o peso lá interessa para alguma coisa quando se é um grande homem? Não. Nada. Antes um grande homem com cem quilos do que um grande homem com vinte e cinco.

Interessa-nos apenas o caráter demonstrado ao longo de toda a sua carreira, pautada por profissionalismo, cordialidade, conhecimento, discernimento  e, acima  de tudo, pelos lencinhos mais engomados de entre todos os membros da Associação de Diretores de Corridas. (Isso existe?) É um regalo para os olhos vê-lo sacar do lencinho branco para meter a banda a tocar. Cá para mim, ele tem tanto orgulho na goma do seu lencinho que muitas vezes, mesmo que o artista não mereça, ele faz questão de nos envergonhar ostentando o dito, que tem o vinco mais engomado do que a opa do Papa Francisco. Mas pelo menos o Sr. Lourenço tem uma desculpa para ter dado música aquele paspalho daquele cavaleiro… tudo para mostrar às meninas casadoiras das bancadas como se engoma um lencinho como deve de ser.

Se vai levar porrada por causa disso? Provavelmente. Se até aqui no site do próprio genro vai levar porrada se o fizer? Provavelmente, pois este é um site de verdade e da verdade. Mas o que também é verdade é, a acontecer isso, o mais certo será o nosso patrão passar a dormir no sofá lá de casa ou nunca mais ser convidado pelo sogro para as suas famosas patuscadas com direito a bife do lombo mal passado e três rodelas de chouriço alentejano enfiado em metade de um pão de Mafra.

Ou se calhar não.  

É aqui, neste ponto, que se distinguem as pessoas verdadeiramente inteligentes das outras. As pessoas inteligentes são aquelas que erram mas que conseguem admitir os seus erros, lamentando-os, questionando-os mas nunca os rejeitando. Aprendendo com eles, certamente. Nesta arte dos toiros, mais propriamente nesta tarefa difícil de regulamentar uma arte, haverá sempre um grande espaço para o erro que, apesar de tentar ser evitado, é provável que ocorra. Afinal, arte e sensibilidade muitas vezes não se coadunam com regras, por mais que isso custe. Ainda mais quando, para ajudar à festa, temos de contar com um toiro inquieto e uns quantos humanos poucos dados à inteligência.

As pessoas e os artistas têm de começar a relevar as opiniões dos outros. São opiniões. Apenas isso. Cada um com a sua.  Obviamente que haverá termos técnicos que os mais entendidos poderão julgar, mas ainda assim haverão com certeza diversas apreciações técnicas para a mesmas interpretações. Respeito. É uma questão de respeito.

Se até nós, que não percebemos nada disto, conseguimos chegar a essa conclusão, será que os doutores, engenheiros e arquitetos do reino não se resignam de uma vez por todas à honestidade da isenção? Ah, esperem lá. Se calhar eles não têm mais do que a quarta classe.

Pois.

Nós congratulamo-nos em haver agora um espaço sério como este, onde a verdade de cada um é o fundamental, rejeitando-se aquela verdade fabricada nos bastidores. Congratulamo-nos ainda mais por termos a honra de fazer parte deste projeto e só por isso aceitámos este convite. Se bem que nos dá muito jeito os cem contos mensais que nos pagam aqui para pagarmos as prestações da restauração da Zundapp.

Somos honestos, sim, mas se nos pagarem o dobro daquilo que nos pagam agora, começamos por aí a escrever maravilhas duns e doutros. Ora, podemos ser honestos mas não podemos ser parvos…

Pois agora podem voltar a ralhar, bradar aos céus, acender velas ao santinhos e lamentar a nossa contratação, que já não há nada que vos valha! Aguentem-se, que nós chegámos… e agora sim, é que isto vai começar a aquecer.

Com um abraço do tamanho do mundo,

O Cabo do GFAPR

(E pronto. Era agora aqui, nesta altura, que éramos despedidos. A ver vamos… o telefone ainda não tocou. Pode ser isso um bom presságio? Ou estará o nosso diretor atracado a metade de um pão de Mafra com três rodelas de chouriço?)

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