Montemor ganha a Barra de Ouro e Rouxinol Jr. Triunfa

Corriam os anos 60 quando João Lopes Fernandes, benemérito alentejano e grande aficionado, idealizou um dos marcos históricos da temporada portuguesa, A Barra de Ouro de Montemor para o melhor grupo em praça. Corrida que despertou sempre grande expectativa desde os seus inícios, contando sempre com grandes cartéis de toiros e toureiros e com os velhos rivais Santarém e Montemor de caras ou de cernelha a pegarem os exemplares apresentados naquela bonita arena alentejana.

Volvidos 61 a coisa não foi diferente, a empresa “Montemor é Praça Cheia”, para este dia 6 de Maio do ano 23 quis por em desafio duas famílias toureiras Moura e Rouxinol diante de seis toiros de Fernandes de Castro e forcados de Santarém e Montemor para lhe baterem as palmas. Corrida interessante para os que estiveram presentes nas bancadas que quase preencheram os três quartos da lotação.

Da herdade da Ervideira sairam rumo a Montemor seis rematados toiros variados de pelagens, quatro negros e dois carbonreos de comportamento desigual. O primeiro secou a boca por as dificuldades apresentadas a todos os que se lhe tiverem que por por diante. Toiro sempre a medir por cima, a esperar emplazado no momento do ferro e a meter a cara com brusquidão nos capotes. O segundo de início também se mostrou remisso aos enganos e cavalo, procurou tábuas mas teve laivos de casta acometendo depois do ferro com emoção. Com 605kg foi anunciado o negro terceiro e foi nobre, veio a mais com o decorrer da lide acabando por ser um bom toiro pela maior entrega apresentada. Carbonero de capa foi o quarto, o mais bem feito dos seis, toiro composto de cara, mais baixo que os irmãos e também ele rematado de carnes. Foi um toiro interessante, tinha as suas distâncias, acometia com emoção quando citado mais em curto e depois do ferro carregava com casta. O quinto, o primeiro dos destinados às lides a duo, foi um toiro que teve alguma mobilidade, pouca classe, acometeu sempre com a cara por cima quando citado mas que acabou por servir para a lide que lhe foi executada. A fechar praça saiu outro dos carboneros do lote e também destinado às lides a duo, possivelmente o melhor do lote apresentado por Fernandes de Castro, toiro sempre pronto e a vir a mais com o decorrer da lide. Bom toiro!

No silêncio de uma pega não cabem as mentiras, só sinceridade! Sábado em Montemor cada uma das pegas realizadas saiu da alma dos valentes que nessa tarde enfrentaram e desafiaram o Rei dos Campos da Ibéria, com nobreza e coragem.
Os Forcados Amadores de Santarém e Montemor citaram os Castros com uma alma nua e despida de qualquer pretexto. Um silêncio quase sagrado carregado de memórias invadiu aquela arena em cada tentativa. Muitos dos presentes certamente reviveram antigas corridas da Barra de Ouro, lembrando monumentais pegas ou algumas lágrimas choradas ao vento como diz o fado e os outros sentiram a maneira intimista de homem/toiro que se viveu e vive em cada tarde quando se pega um toiro.
Seis valentes com os pés bem assentes na arena citaram os oponentes. Transmitiram alegria e ambição, amizades genuínas, solidariedade, sorrisos, também alguma tristeza quando as coisas não correm da melhor forma. Ou seja, transmitiram muitas das virtudes deste povo que se chama Portugal.
Abriu praça o cabo dos Amadores de Santarém João Grave e por três vezes teve que lhe bater as palmas, o João é um forcado que é imutável diante das adversidades e mais uma vez o demostrou. O toiro foi sempre reservado durante a lide e na pega se é verdade que no momento da reunião não meteu mal a cara quando sentia o forcado derrotava com força. Na primeira tentativa o forcado não reuniu de forma perfeita e o toiro tirou o forcado num derrote, na segunda tentativa o toiro já não veio tão claro, partiu mas já a medir, boa reunião, e uma boa primeira de Lopo de Carvalho mas cá atrás faltou grupo para a sorte ser consumada. Com ajudas mais carregadas foi resolvido o problema.
Joaquim Grave saltou para a cara do terceiro da tarde, na primeira tentativa o forcado devia ter subido mais, para depois trazer o toiro toureado e evitar o derrote por cima deste no momento da reunião, na segunda tentativa corrigiu os defeitos apresentados na tentativa anterior e realizou uma boa pega de caras.
Para o quinto da tarde foi escolhido Francisco Cabaço um jovem forcado dos de Santarém. Foi lá quatro vezes mas que quatro tentativas! Ali houve a estética da emoção sempre presente, houve intensidade no que era feito, raça e galhardia. Citou com com garbo na primeira tentativa, o toiro partiu e o forcado reuniu, viagem até a cá atrás com alma para lhe ficar na cara, o grupo não fechou e a sorte acabou por não ser concretizada. Na segunda e terceira tentativas novamente o Francisco esteve enorme na cara do Castro, aguentando vários derrotes mas cá atrás faltaram as ajudas. Na quarta tentativa já com o grupo mais em cima foi realizada a pega.

Pelos Amadores de Montemor saltou para a praça Vasco Tello Ponce, batendo as palmas ao segundo da tarde e o que se viu foi a arte e a estética de uma pega, um hino ao bem pegar! Olé! O grupo encostado às tábuas, o Vasco cita com calma e garbo, avança até ao centro da arena mandando vir o toiro, recua na cara, fecha-se de pernas e braços, suportando um derrote para cima, o grupo ajuda coesamente, o rabejador Francisco Godinho de forma garbosa rebejou o de Castro e assim foi a pega da tarde. Público de pé.
Para o quarto da ordem Vasco Carolino à terceira tentativa. Na primeira tentativa o forcado citou de forma bonita com o grupo encostado às tabuas, recebeu bem mas cá atrás as ajudas não entraram a tempo, saído o forcado da cara num dos derrotes. Na segunda tentativa o forcado já não lhe subiu tanto, deixando vir o toiro, pareceu-me que não lhe mandou o suficiente na investida, não reunindo de forma perfeita acabando por sair. Na terceira tentativa já com as ajudas mais carregadas a sorte foi consumada.
José Maria Cortes Pena Monteiro foi o escolhido para fechar esta tarde, citou de largo, recuando quanto baste, sentou-se bem no momento de receber o toiro e foi realizada uma rija pega à primeira tentativa. destacar a grande primeira ajuda de seu irmão António Cortes Pena Monteiro, cabo dos Amadores de Montemor.

Reunidos os jurados, Pedro Maria Gomes, Vasco Pereira e Leonardo Mathias respectivos cabos dos Amadores de Lisboa, Vila Franca e Aposento da Moita foi anunciado o vencedor da Barra de Ouro de 2023. Os Amadores de Montemor foram os justos vencedores.

Na parte equestre duas famílias toureiras Moura e Rouxinol. João Moura foi a raça, valor e a sabedoria, lidar o primeiro da tarde não é para muitos… Rouxinol pai esteve novamente soberbo quanto a mim a dar a volta a uma tortilha que parecia quase impossível mas ele e o Douro fizeram quase do difícil fácil. Miguel Moura teve bons pormenores de brega, bonitos ladeios e alguns ferros de nota. Luís Rouxinol Jr. triunfou forte em terras de Montemor, grande lide. A duo Moura pai cravou um par de ferros de boa nota e os Rouxinóis fizeram vibrar as bancadas numa lide movimentada e de muita cumplicidade.

Abriu praça João Moura, que quis fazer uma sorte gaiola, o de Monforte vinha a por todas mas o toiro não acometeu e a sorte não foi realizada. Destaque para o bom segundo comprido. Nos curtos, João deu a volta a um toiro que no momento do ferro esperava uma barbaridade, mirando por cima e não arrancando para a sorte de maneira nenhuma, só a poder de muito engenho e sabedoria o cavaleiro conseguiu cravar. Lide sempre a tentar desenganar o oponente, tendo que lhe entrar pela cara a dentro, o público reconheceu o esforço e ovacionou com força Moura.
Luís Rouxinol com a ferragem comprida sentiu dificuldades em cravar ou os ferros não partiam ou a mão não andava acertada. Nos curtos deu gosto ver o de Pegões sovar o toiro, a dupla Rouxinol/Douro voltaram a ter uma comunhão perfeita, tentando que o Castro se interessasse pela lide. Citou em curto, chegando com arrojo à jurisdição do oponente cravando os ferros com a raça que lhe é característica, destaque maior para os segundo, terceiro e quarto da ordem este culminando um bonito remate em curto. Já com o toiro metido dentro do bolso cravou um bom par de bandarilhas a fechar a sua actuação.
Miguel Moura realizou uma grande sorte de gaiola, mais um comprido de boa nota se seguiu. Nos curtos bonitos foram os ladeios, os remates das sortes e um par de curtos com batida ao piton contrário, caso do segundo que foi emocionante. Mas a lide quanto a mim teve algumas intermitências, como algumas passagens em falso. Rematou a obra com um bom ferro de palmo.
Luís Rouxinol Jr. triunfou! Esteve bem na ferragem comprida cravando dois ferros de boa nota. Nos curtos entendeu o toiro na perfeição, lidou a cavalo mexendo bem no de Castro e cravou ferros de grande efeito. No terceiro, grande momento de bem tourear a cavalo, citou de largo, o toiro vinha a passo, o cavaleiro aguentou e num palmo de terreno cravou de alto a baixo, rematando de forma toureira. No quarto repetiu a dose e no sexto novamente Rouxinol Jr cravou um ferro genial, rematado de forma superior. Público de pé!
João e Miguel Moura lidaram o quinto da ordem a duo, lide com ritmo e a chegar às bancadas, destaque para o pai que cravou um par de ferros de grande nota recriando-se assim em bonitos momentos de toureio marca da casa Moura. Miguel andou ousado entrando no ressalto cravando também ele bons ferros, rematou Miguel a lide com palmo de belo efeito.
Luis pai e Luís Jr, fecharam esta tarde de Montemor no que ao toureio a cavalo diz respeito com uma grande lide a duo! Houve complicidade, toureria, movimento, ritmo, bons ferros e bonitos remates das sortes, o público ovacionou com força o visto na arena.

Dirigiu a corrida Agostinho Borges, sendo o veterinário Carlos Santana.

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