Carta Aberta a Hélder Milheiro

Crónica

Caro Hélder,

Estão na moda as cartas abertas e eu, como ser que gosta de estar bem com o mundo, adiro hoje a esta moda que tem a enorme virtude de me facilitar o correr da mão. Junto-me à moda já tarde, já “a toiro passado”, mas sempre fui um “late adopter” das tendências. Ainda nem os tablets me convenceram, assim como as trotinetes eléctricas que agora tanto vemos por Lisboa. Mas não nos desviemos e voltemos ao que interessa. Dizia eu,

Caro Hélder,

Estão na moda as cartas abertas e eu, como ser que gosta de estar bem com o mundo, adiro hoje a esta moda para lhe agradecer. Podia ficar-me por aqui mesmo. Pelo “obrigado”, porque quando é sincero o “obrigado” e do tamanho daquele que lhe quero dizer, nem fazem falta mais palavras. O que está a mais só estraga. Fosse esta carta só para si e nela só se veria escrito “obrigado”. Peço desculpa, o obrigado que lhe quero escrever não merece a minúscula inicial. É um “Obrigado”, assim como este, maiúsculo.

Eventualmente calcule ao que se deve a minha gratidão, eventualmente estejam os leitores a fazer o mesmo exercício e, eventualmente, até não estejam longe da verdade. Mas é muito mais do que calculam aquilo que hoje agradeço.

Não é apenas a impressionante vitória recente (no parlamento e fora dele) que aqui me traz. Não é a força social da “Festa”, que parecemos ter recuperado e que acreditávamos extinta. É mais do que isso. Hoje agradeço-lhe a bravura. Desculpe. A Bravura, maiúscula. A Bravura com que enfrenta quem tanto nos acossa, ainda que nunca derribe. E não derriba, entre outros, por sua causa, pela determinação com que os enfrenta, tantas vezes em silêncio, sem alarido, mas com preparação inexcedível, com crença absoluta no poder da razão e das palavras com crença absoluta no poder da verdade, que é como os bravos combatem a mentira. Obrigado por essa sua (nossa) luta incansável! Obrigado por essa Bravura!

Mas sabe, o que na verdade me trouxe a esta folha foi um valor que, tendo a mesma valia da bravura, é ainda mais raro do que esta. Hoje, mais do que tudo, quero agradecer-lhe a Nobreza. E se a bravura lhe assoma ao enfrentar os de fora, a Nobreza nota-se-lha quando encara os de dentro. Os que tantas vezes não crêem, os que tantas vezes desprezam, os que tantas vezes maldizem. Eu, que sou até de emoções mornas, não teria o mesmo tempêro, a mesma serenidade, enfim, a mesma Nobreza para manter tudo tão recto, quando à volta tantos se entortam. Perdoemos-lhes. A falta de espinha permite-lhes acrobacias na seriedade.

É essa Nobreza que o distingue, ainda mais, neste nosso meio de comunicados, de desmentidos, de intrigas baratas e esgrimistas de dignidades postiças. É essa Nobreza que o faz estar a tona deste meio que se afoga em ofensas, em disputas de quintal e em peneiras que escorrem como areia das mãos. É essa sensatez, essa resistência e dignidade que me trazem aqui hoje. Essa capacidade de ainda não ter dito “bardamerda p’ra esta gente”, e de ainda aqui estar connosco e por nós, a lutar contra quem deve, a lutar pelo que interessa. Obrigado por essa Nobreza. Obrigado a sério! Obrigado por tudo! Obrigado por estar connosco!

Duarte Palha

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