António, uma sinfonia de bom toureio, nos 70 anos dos Vinhas

O mote da 5ª de abono realizada ontem na praça de toiros do Campo Pequeno, foram os 70 anos da ganadaria Vinhas e foi bonita a homenagem que a empresa prestou à família dos fundadores Manuel e Mário Vinhas na arena da capital, como bonita foi também a ovação do público presente. Também quis a empresa palmas e ovações distinguir o Aposento do Barrete Verde de Alcochete pelos seus 55 anos de fundação. Boa noite de toiros em que o público não aderiu como o esperado a esta corrida.
Da herdade do Zambujal vieram seis toiros, variados de capa: Jirões, luceros, calçados, bragados e meanos, cardenos, um regalo para a vista… Toiros grandes e arrobados não de muita cara como é característica dos Santa Coloma, que na generalidade foram nobres, tiveram mobilidade e não complicaram a vida aos toureiros.
O primeiro teve classe e recorrido, mas acabou por não se ver de todo porque as forças não abundavam. O segundo para mim foi o toiro da corrida, foi pronto, repetidor, teve as suas distâncias, bravo. O terceiro eram uma estampa, um cardeno claro com cara, derramou pela arena do Campo Pequeno classe e nobreza mas a par do primeiro as forças condicionam de certa forma o seu recorrido. O quarto teve mobilidade, alegria, veio a mais e proporcionou o triunfo. O quinto também limitado de forças andou sempre humilhado, não teve a alegria dos irmãos mas gostava de ter visto esse toiro em todo o seu esplendor físico. O sexto foi o mais complicado do lote, carita a meia altura, pouco recorrido e sabia o que deixava atrás.
António Ribeiro Telles veio a Lisboa para triunfar e triunfou forte no quarto! O António no primeiro deixou pinceladas de bom toureio mas a lide acabou por não romper de todo. No quarto o “quadro” foi completo… Ver tourear o António  torna-se uma ressonância magnética, combinando o exterior com o interior, o invisível com o palpável, sugerindo ao aficionado que a seu toureio é todo leveza, bom gosto, beleza, sabedoria… É tudo isso que se encontra numa sinfonia de Schubert onde toda a música “callada” do toureio surge e a arte acontece, contornando as dificuldades do toiro e torna as mesmas em virtudes. O António têm o poder de com as suas lides de cátedra causar no público uma sensação de que o que se está a ver é algo mágico. A lide foi emocionante!  Os toureiros têm que nos produzir emoções e sentimentos nas bancadas, porque a criatividade é intrinsecamente humana. Uma das missão das corridas de é demonstrar claramente a compreensão da vida e da morte e isso ontem aconteceu na arena da Catedral do Toureio a Cavalo por parte do Mestre António. O ferros ao estribo, preparação dos mesmos, a lide que receita aos toiros e os remates… Bom se vos escrevo de ferros e remates, o último e o remate do mesmo ficarão na história do toureio do António. Antológico o momento vivido!
Francisco Palha, teve ontem uma lide genial no primeiro do seu lote mas o público não respondeu como devia… A lide foi quanto a mim a melhor se não a melhor do Francisco em Lisboa. Ontem houve uma comunhão perfeita entre toiro e toureiro, os compridos foram perfeitos, nos curtos foi ajustado distâncias e aconteceu o toureio. A lide emocionou me duplamente pela beleza plástica e estética com que executou as sortes mas também como se foi adequado às características do bravo que tinha por diante, nunca tentando tirar virtudes ao toiro, tentado sempre sim mostrar as mesmas. Os ferros foram de nota, os remate tiveram toreria e a lide foi de altos quilates. A forma como recebeu o quinto também devia ter sido de expulsão por parte do público presente mas… A sorte de gaiola foi perfeita, o remate foi simplesmente magnífico, o segundo comprido de génio. Novamente a sua lide foi um compêndio de generosidade templando as suaves investidas do Vinhas, deixando o toiro tomar a iniciativa e realizando uma boa lide, com bonitos ferros que acabaram por não transmitir muito às bancadas pelas escassez de força do toiro.
Na parte a pé voltava António João Ferreira ao Campo Pequena depois da forte colhida do ano passado e a sua passagem por Lisboa foi agradável. Recebeu os toiros por veronicas, no seu segundo a pés juntos que fizeram os ‘olés’ com força no Campo Pequeno. Na faena de muleta do seu primeiro aproveitou as investidas humilhadas e com classe do toiro no primeiro muletazo e depois tinha que de certa forma ajudar o mesmo no seguimento da tanda, as forças não abundavam e o toiro começava a ficar curto e a protestar, acabando por não romper a faena. Mesmo assim as tandas tanto em redondo como por naturais tiveram bom traço. No sexto teve que tirar de poderio para tentar meter na muleta o bonito luzero que fechava praça. As tandas tiveram que ser curtas por que o toiro não tinha muito recorrido, sempre com querença na porta dos curros por sinal onde acabou a lide com o toiro aí a mostrar todas as dificuldades…
Bom desempenho da sua quadrilha com destaque para o João Oliveira e João Ferreira nas bandarilhas.
No capítulo das pegas a noite não foi de todo feliz para os dois grupos… Aposento do Barrete Verde e Alter do Chão.
Abriu praça Diogo Amaro, que depois de um violento derrote caiu de má maneira e saiu inanimado da arena. Para a dobra saltou Bruno Amaro que com eficácia resolveu à primeira tentativa com ajudas mais carregadas. O quarto da noite foi pegado por João Amandio à primeira tentativa, numa pega exuberante, com viagem longa em que as ajudas entraram junto às tábuas resultado felizmente a pega.
Pelos Amadores de Alter a noite não foi brilhante… Ambos os toiros pegados à quarta tentativa. Filipe Ribeiro em todas as tentativas não teve reuniões perfeitas sendo atropelado pelo toiro nas três primeiras, na quarta o grupo abafou e foi realizada uma pega com pouco brilho. Para o quinto saltou João Galhofas que por três vezes foi desfeiteado pelo toiro, também as reuniões não foram perfeitas e as ajudas não entraram a tempo. Foi dobrado por João Moreno.
O ganadero foi chamado à arena no quarto toiro, tendo sido representado pelo Maioral da ganadaria Francisco Honrado.
Dirigiu a corrida João Cantinho e foi o veterinário João Moreira da Silva.

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