A Palha Blanco relicário de forcados de Vila Franca

A bonita Palha Blanco foi ontem 26 de Março um verdadeiro relicário de Forcados e uma catedral do Toureio em Portugal! Uma centena de forcados de cinta, jaqueta e barrete, sete nomes maiores da arte de Marialva, “invadiram literalmente” aquela mítica arena de passado, presente e futuro! Tanto nas homenagens, cortesias e durante o espectáculo propriamente dito em que foram vividos momentos que nos ficarão na memória dos presentes que encheram três quartos da praça.

A Festa é feita de solidariedade, respeito mútuo e entreajuda e os lucros deste acontecimento reverterão a favor da Casa-Museu dos Forcados de Vila Franca. Algumas personalidades do Mundo da Política, da diplomacia e figuras vivas da Vila também se quiseram associar a este acontecimento, casos da Vice-Presidente da Assembleia da República Maria da Luz Rosinha, o Presidente da Câmara Fernando Paulo, a embaixadora de Espanha Marta Betanzos Rios, a Presidente do Clube Taurino Vilafranquense Fátima Nalhas, a madrinha do Grupo Maria José Garcia e a própria empresa Tauroleve na pessoa de Ricardo Levezinho homenageando todos os artistas.

Foram lidados sete toiros e novilhos da ganadaria Paulo Caetano, variados de capa, o primeiro um bonito berrendo em negro, o segundo negro bragado, corrido, o sexto um colorado, sendo os restantes negros. Quanto ao comportamento foram nobres, tiveram mobilidade, recorrido, durabilidade, meteram bem a cara nos capotes, humilhando,  indo largos e uns quantos bravos. Justamente foi concedida a volta ao ganadero, o cavaleiro Paulo Caetano, tendo este sido representado pelo seu filho João Moura Caetano no que fechou praça.

A tarde era de comemoração dos 90 anos do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca e com eles foram vividos dos momentos mais emotivos da tarde, ver antigas glórias vestidas de forcado novamente já é bonito mas voltar a ver essas mesmas glórias ajudar, rabejar e bater as palmas aos toiros é emocionante, pelo menos para mim. Abriu a tarde o actual cabo, Vasco Pereira que fez tudo bem feito, desde o cite, o trazer o toiro toureado, reunião, para se fechar à córnea, o grupo ajudou bem e foi realizada a primeira da tarde, teve esta pega um momento alto no seu remate, Carlos Teles “Caló” a rabejar, saindo da cara do toiro de forma toureira. Para o segundo da tarde saltou o antigo cabo, Vasco Dotti, na primeira tentativa o toiro fez um estranho no momento da reunião o que fez com que o forcado não se tivesse fechado de forma correcta saindo num derrote. Na segunda tentativa fez uma grande pega, fechado à barbela, com o grupo a ajudar bem. Novamente a rabejar um dos antigos António Inácio “Necas”.  Jorge Faria, também ele antigo cabo, demostrou que quem sabe nunca esquece! Soberbo à primeira tentativa, bem a citar, trouxe o toiro toureado até onde quis, fechou-se à barbela, com o grupo de forma coesa a fechar este bonito momento da tarde. Novamente um antigo cabo foi o escolhido para pegar o quarto da ordem, Ricardo Castelo, esteve simplesmente perfeito! Citou com graça, recebeu com galhardia à barbela, o toiro empregado no forcado caiu mas em nada desmereceu o momento vivido. O mítico Carlos Teles “Caló” bateu as palmas ao quinto, na primeira tentativa um forte derrote tirou o forcado da cara. Na segunda novamente com a decisão que sempre lhe foi característica pegou este toiro da ganadaria de Paulo Caetano. Outro grande foi escolhido para pegar o sexto, Ricardo Patusco, esteve brilhante! Deu distâncias, citou com garbo, recebeu perfeito, fechando-se de pernas e braços, outra grande sorte de caras à primeira tentativa, grande primeira ajuda de Diogo Duarte. Fechou a tarde outro nome maior da forcadagem, Mário Rui de seu nome. Citou com autoridade, recebeu com perfeição para se fechar de pernas e braços noutro momento para recordar desta tarde. Glória e Honra aos forcados desta terra de Vila Franca. Obrigado por fazerem grande esta nossa Festa!

Nas lides a cavalo como já em cima escrevi sete nomes que dispensam apresentações e que nos últimos mais de quarenta anos têm escrito por essas arenas do Mundo páginas de Glória do toureio a cavalo. João Moura no ano que comemora 45 anos de alternativa esteve à Moura. Recebeu de forma toureira o bonito e nobre berrendo, cravou dois compridos de nota, destaque para a maneira como lidou antes de cravar o segundo. Nos curtos a lide teve grandes momentos de toureio, a destacar aquele terceiro ferro em que citou de largo, alegrou a investida ao toiro, partiu de forma toureira e quando o teve debaixo do braço cravou no alto do morrilho. Lide com bonitos apontamentos de brega e bons remates evidenciando o toureiro que é.

Paulo Caetano que reapareceu neste festival, voltou a vibrar e a fazer vibrar os que tiveram oportunidade de o ver. Recebeu o bravo negro corrido, de forma sublime, em curto, recortando-se na cara do oponete. Cravou um par de compridos, destaque maior para o primeiro. Nos curtos a lide foi pausada, levou o toiro da sua ganadaria embebido no cavalo de forma suave, grande foi o primeiro curto e bonito o remate. Os ladeios com que mexeu no toiro tiverem sabor e os restantes ferros o saber dos grandes. Houve pelo meio ajustados recortes na cara do oponente.

António Ribeiro Telles, no ano que comemora 40 anos de alternativa, abriu esta temporada nesta praça que é marco da sua carreira. O primeiro comprido foi de grande nota, rematando o mesmo com o sabor e a graça que tem o seu toureio. Outro grande comprido se seguiu, citando de largo para a querença natural do toiro. Nos curtos houve algumas passagens em falso mas também bons pormenores de toureio, lidou e rematou as sortes como é seu apanágio. Destaque maior para o segundo curto desde a maneira como preparou o nobre Caetano, cravou e rematou a sorte.

Rui Salvador num ano atípico para a sua carreira, já que será a sua única aparição em praça nesta temporada teve uma grande lide na Palha Blanco. Viu-se o cavaleiro de Tomar a gosto, a querer desfrutar do feito e quando assim é regra geral os presentes também gozam do visto. O primeiro comprido foi de nota, levando depois a bonita acometida do novilho no remate de forma toureira. Nos curtos lidou com subtileza, cravou com a raça que lhe são características, e rematou bem os ferros. O terceiro teve aquele momento de improviso marca Salvador, levando o toiro toureado, deixando onde quis, recortando-se e partindo para cravar um bonito curto. Rui, cá os esperamos para comemorar os seus 40 anos de alternativa em 2024.

Para o quinto da ordem Luís Rouxinol, toureiro que nesta arena já fez grandes feitos na sua obra como cavaleiro. Bem a receber o oponente, um dos menos claros do lote saído da herdade das Esquilas, deu vantagens, o novilho arrancou com força mas o ferro não ficou, pena porque podia ter sido um dos momentos da tarde. Cravou um segundo comprido com batida de boa nota. Nos curtos imprimiu toureria ao que fez montando o Douro, levando o de Caetano cosido ao cavalo na brega, cravando uma série de três curtos de nota. Já com outra montada cravou um grande ferro ao estribo de alto abaixo. Rematou a lide com um par de bandarilhas da primeira vez, só ficou uma bandarilha. Voltou o de Pegões a repetir a sorte e no centro da arena cravou com raça um grande par a duas mãos.

João Salgueiro esteve genial nos compridos! Se o primeiro teimou em não partir, o de Valada puxou de galões e cravou o ferro da tarde, de largo citou cravando num palmo de terreno, Olé! Nos curtos a lide teve o improviso dos eleitos, houve pormenores, gestos e ferros à Salgueiro. O segundo foi dos bons, seguido de um bonito remate. O terceiro foi de extremo arrojo, citou de largo, entrou em terrenos de compromisso e cravou, pena o toque a sair da sorte, a imperfeição faz parte dos grandes artistas. Cravou outro bom ferro mais em curto, rematando assim esta sua lide.

Fechou o Festival Marcos Bastinhas que simplesmente meteu os presentes em ebulição! Recebeu na porta dos curros o nobre que fechou a parte e desde aí partiu para uma lide empolgante. Cravou dois compridos, citou de largo, deixou vir o toiro e cravou de forma vibrante, rematando e abrindo os caminhos ao oponente. Nos curtos, bom nos curtos veio a explosão! O primeiro foi preparado de forma sublime, depois citou de largo, encurtou distâncias e cravou um grande ferro, rematando com piruetas. Mais uns quantos curtos e remates das sortes de boa nota e com o público entregado à sua actuação cravou um par de bandarilhas, seguindo-se o desmontar do cavalo e agradecer no centro da arena. Vila Franca de pé!

Uma nota em especial pela forma como lidaram de capote os bandarilheiros João Prates “Belmonte” e João Pedro Silva.

Foi guardado um minuto de silêncio em memória de um antigo forcado de Vila Franca e pelo comendador Rui Nabeiro.

Dirigiu a corrida Lara Oliveira sendo o veterinário Jorge Moreira da Silva.

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