O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita

04.10.2020 

Praça de Touros Palha Blanco, Vila Franca de Xira, 1.ª Corrida de Feira (Mista) 

Cavaleiros: 

António Ribeiro Telles,

António Telles (filho)

Matadores: 

David Fandilla El Fandi

João Silva, Juanito

Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, capitaneados por Vasco Pereira 

Ganadarias: 

Dois de Vale de Sorraia e um Ribeiro Telles, para a lide a cavalo

Calejo Pires, para a lide a pé.

Lotação esgotada

Direção da Exma. Sra. Lara Oliveira.

Há dias que em que todos os fatores que se possam conjugar para correr mal, efetivamente se conjugam e o resultado é, espectavelmente, catastrófico.

Começamos pela substituição repentina do Matador inicialmente anunciado, Sebastian Castella, face à sua inesperada e lamentável (para a tauromaquia) retirada.

Envolta a polémica da sua substituição e discutível justiça ou injustiça nas opções, a empresa decidiu não por um, mas por dois substitutos, passando a corrida de seis para sete touros.

O problema da substituição de toureiros deu lugar à substituição de touros para a lide a pé, recusados por falta de peso à hora do sorteio, com pouco tempo e sem a corrida idealizada, é embarcada nova corrida da mesma casa ganadera para a função.

O espetáculo que contou com casa esgotada começou com a lide a cavalo de Pai e filho, primeiro e segundo touros, ambos anunciados como Vale de Sorraia, mas o segundo para além de castanho, ferrado com a marca Ribeiro Telles, até a divisa deste ferro exibia, mas saiu como Sorraia.

Muito profissionalismo de ambos os Cavaleiros, mostrando o seu conceito e a Escola da Torrinha, não se pode dizer que tenha havido êxito ou triunfo, mas sim demonstração, como é apanágio, de profissionalismo e respeito pelo público.

Passo já para o quinto, lidado por António Telles Pai, também de Vale de Sorraia, na mesma linha e comportamento do primeiro, constantemente emparelhados, com mobilidade, mas sem nada de realçar.

O Grupo da Terra, Vila Frana de Xira pegou os touros lidados a cavalo, às segunda, terceira e primeira tentativas, por Luís Valença, Diogo Conde e João Matos, atuações sem complicações, bem ajudados pelo grupo quando entravam por ele, ou levavam os touros recuando, as tentativas goradas deveram-se sobretudo a algum desacerto nas reuniões.

Agradecimento para todos nos médios, juntamente com os Cavaleiros, à exceção de Diogo Conde que, honradamente, recusou.

Mudámos para a parte apeada e a tarde não só não melhorou, como veio a pique, a temperatura ia baixando, a paciência também e só o que aumentava era o número de horas que ali estávamos sentados nas bancas, três horas e trinta de espetáculo, já com as novas condicionantes, se calha a haver voltas como “antigamente” e homenagens antes e depois da corrida, possivelmente teríamos que encomendar comida take-away para enganar a fome e reconfortar a alma.

A corrida enxertada de Calejo Pires não quis investir, foi perigosa em bandarilhas, desafinando quadrilhas, ordem de lide e organização, tudo o que podia correr mal, correu, até na recolha onde teimosamente se recusavam a entrar nos currais, tendo que inventar-se outros circuitos, pela porta de cavalos, pela trincheira, depois voltando à arena.

Fandi teve um primeiro, jabonero, impossível, soltando a cara e violentando-se por ambos os pitons, sem recorrido e sem fundo, o jabonero não quis investir. Ficou a entrega em bandarilhas, onde nunca defrauda.

Agradeceu do burladero

Juanito esteve sempre disposto e contrariando a tarde que caía a olhos vistos, em luz, calor e resultado artístico, nunca atirou a toalha ao chão e sempre que podia, quer em quites quer na sua lide, tirou o pouco sumo que ali havia para espremer.

Tércio de quites desorganizado, descalçado e desordenado e depois una faena onde fica uma tanda pelo piton direito em que o touro se deixou.

Chamada aos médios.

Fandi no sexto melhorou em bandarilhas mas não passou disso, problemas na muleta, touro rachado e querendo fugir.

O sétimo e depois de quase três horas das cortesias foi um calvário em bandarilhas, pior que o primeiro de Juanito, pares tirados do bolso de trás e colocados no cachaço, touro tapado e perigoso e a lide de muleta não diferenciou muito, pese embora todo o empenho, paciência e profissionalismo de Juanito.

Não houve triunfos por falta de matéria prima e quiçá pelo titulo apocalíptico desta crónica, o que havia para correr mal, correu.

Fica a entrega, respeito e seriedade dos artistas, como se tivessem uma corrida de triunfo gordo, só que não. Entrega esta reconhecida pelo público que pacientemente e fintando o frio e tédio como podia, heroicamente se manteve tolerante até ao final.

Sorte que acabou pelas 20h30, ainda deu para chegar a casa e não ter que mandar vir Uber eats.

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