Neste 14 de Agosto de 2017 pelas 10 da noite, sob uma temperatura amena de noite de verão, a praça de toiros “mais antiga do país” precisaria talvez de mais umas boas centenas de lugares de lotação para albergar a imensa mole humana que desesperava por um bilhete de acesso ao interior do bem cuidado tauródromo. Há já algum tempo que o letreiro de “ESGOTADO” estava visível por cima da entrada principal. Foi sob o signo deste grande ambiente causado por uma praça repleta de um público único neste país e sempre ávido de emoções, que os cavaleiros Luis Rouxinol, Rui Fernandes e Luis Rouxinol Júnior, juntamente com o grupo de forcados amadores de Santarém (cabo João Grave) e grupo de forcados amadores de Vila Franca de Xira (cabo Ricardo Castelo) cumpriram as cortesias, antes de enfrentarem um curro de António Charrua.
O resultado artístico desta corrida foi positivo nas lides equestres, quiçá com mais espetáculo que arte, ambos os grupos de forcados estiveram ao seu bom nível habitual face às caraterísticas dos oponentes e o curro de Charrua, saiu maioritariamente cumpridor e equilibrado. O grande triunfador desta corrida, foi inegavelmente o público de Abiul e a aficion de Portugal pelo extraordinário ambiente que envolveu esta boa noite de toiros.
Luis Rouxinol
O cavaleiro de Pegões iniciou a sua primeira lide com o bom toiro que abriu esta corrida, um negro de 590 Kg, bem composto que saiu nobre e voluntarioso, pese alguma escassez de força que não lhe permitiu ser um grande toiro, já que lhe retirava a necessária transmissão de emoção. Rouxinol, logo a partir dos compridos recreou-se na cara do toiro ladeando e adornando-se, cravou de seguida curtos de qualidade em sortes frontais bem preparadas, obrigou o toiro a cheirar a garupa ao cavalo numa brega com boa ligação e de reportório vasto, culminando a lide com um palmito bem conseguido antes de abandonar a arena em ambiente triunfal.
O seu segundo toiro, com 505 Kg, era um castanho aldinegro algo enmorrilhado, voluntarioso durante toda a lide mas que também não transmitiu o desejável no que toca a emoção. Rouxinol não iniciou a lide do melhor modo nos compridos, recuperou nos curtos, com um excelente segundo ferro a receber uma investida franca do toiro numa muito bem conseguida sorte frontal que acabou por ser o grande momento artístico desta lide. Voltou a trocar de montada, o que lhe permitiu ter meios para uma brega de maior ligação ao toiro, e com um palmito inicial, meio par e um par completo de bandarilhas com outro palmito como remate final, conseguiu chegar definitivamente a um público ávido de espetáculo, independentemente da vertente artística inerente.
Luis Rouxinol deu volta em ambos os toiros e no seu segundo, deu uma volta extra acompanhado do ganadeiro. Quanto a mim, volta não justificada para o cavaleiro e também para o ganadeiro, isto tomando em conta apenas o comportamento deste quarto toiro lidado. Ficava bem uma chamada aos médios.
Rui Fernandes
Teve como primeiro oponente um toiro negro com 575 Kg, com um sentido bem pronunciado, manso encastado e que se interessava apenas a rasgos pelo cavalo, o que não permitiu o luzimento desejado a publico e cavaleiro, embora Fernandes tenha puxado pelo seu profissionalismo numa lide bastante esforçada. A série de curtos resultou, com destaque para os terceiro e quarto, cravados nos médios num palmo de terreno e a deixar ambiente para a sua segunda lide.
O segundo toiro de Fernandes era um castanho aldinegro com 590 Kg, alto, feio de tipo que transmitiu pouco e também não abundava de força, apesar de cumprir na lide. O cavaleiro adotou uma brega de muita proximidade num toiro que esteve sempre num nível abaixo do cavaleiro e que se destacou pela boa cravagem em sortes bem preparadas e melhor conseguidas. O último cavalo que o cavaleiro exibiu nesta lide armou o “baile” numa dança cavalo/toiro que elevou o público de Abiul aos píncaros e foi em verdadeiro ambiente de apoteose que abandonou a arena.
Rui Fernandes deu volta no final, em ambos os toiros.
Luis Rouxinol Júnior
O seu primeiro toiro foi um negro de 535 Kg que sem ser uma estampa, foi bastante colaborante e saiu com alguma “pata”. O cavaleiro esteve muito bem nos compridos, aproveitando do melhor modo a entrada forte do oponente. Com o adiantar da lide toiro foi ficando mais andarilho e menos “fogoso”, pelo que com um temple ainda inadaptado o cavaleiro teve duas entradas em falso a cravar o segundo curto. O jovem Rouxinol teve de corrigir a velocidade imposta nos tempos das sortes e foi já com uma lide mais pensada e pausada que culminou a ferragem com nota positiva e um bom palmito, foi o remate final desta lide.
Rouxinol Júnior recebeu o último toiro desta noite que era um negro com 580 Kg, bem composto e com boa cara, mas que saiu com muito sentido, reservado e de escassa voluntariedade a enfrentar o cavaleiro, ao contrário das investidas ao capote dos peões de brega. Foi com este panorama de “pouco sumo por espremer” que o jovem cavaleiro teve de se enfrentar, apesar de colocar em praça toda a sua vontade e inegável transmissão de alegria para a bancada. Cumpriu a ferragem da ordem, numa lide com pouca história e muito esforço.
Rouxinol Júnior deu volta no final em ambas as lides.
Grupo de Forcados Amadores de Santarém
O forcado da cara para a pega do seu primeiro toiro foi o forcado Manuel Murteira que esteve tecnicamente perfeito numa boa pega à primeira tentativa. Cite elegante e pausado, ensinou como se manda num toiro e após um temple completo, recebeu à barbela e encheu a cara ao toiro, trancando-se numa viagem sem sobressaltos e com passagem à córnea, grupo dentro, que ajudou ao mesmo bom nível do cara.
Na sua segunda atuação da noite o forcado da cara escolhido pelo cabo foi o forcado David Inácio que com alguma culpa própria se fechou com sucesso apenas à terceira tentativa. Na primeira tentativa não se sacou convenientemente ao toiro e pagou por isso logo após a reunião. Na segunda tentativa, já teve uma melhor abordagem a recuar mas pecou por se adiantar na reunião, que saiu descomposta, sendo despejado de imediato. Por fim, na terceira tentativa, apesar de ter de ir buscar o toiro que já tardava na investida, fechou-se bem na córnea e foi sem complicações de maior que acabou por consumar uma pega sem muito brilho, já que o toiro baixou demais a cara na zona das segundas e acabou por tombar no meio do grupo.
Para a sua última atuação da noite, o grupo de Santarém teve como intérprete na cara o forcado Salvador Ribeiro de Almeida numa pega à primeira tentativa. O toiro não se fixou em tábuas e acabou por sair algo solto mas o forcado aguentou bem a fixar a investida, nos médios, recebeu com mais preponderância de braços que de pernas numa cara alta, o que não impediu uma viagem com sucesso grupo dentro que esteve a um bom nível nas ajudas, consumando da melhor maneira esta última pega do grupo numa boa atuação, no que toca ao saldo final desta corrida.
Os forcados da cara do primeiro e quintos toiros deram volta no final, sendo que o forcado da cara do terceiro toiro, apesar de autorizado pelo diretor de corrida, recusou dar volta no final.
Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira
A abrir a atuação do grupo de Vila Franca, o forcado da cara escolhido foi Vasco Pereira que consumou a pega à segunda tentativa. Na primeira tentativa, o toiro não foi fácil de fixar em tábuas e acabou por sair solto para o forcado que esteve bem a tentar fixar a investida, aguentando e usando a voz, mas na altura da reunião o toiro adiantou o piton esquerdo e desviou-se para a sua direita, dando apenas um encosto no forcado da cara. Na segunda tentativa procurou-se com uma mudança de terreno do toiro uma melhor fixação em tábuas, o que de certo modo foi conseguido. O toiro ainda assim veio a chouto, medindo o cara que lhe conseguiu fixar a investida e alegrá-lo, teve de “tourear” um pouco no recuar, antes de receber numa córnea poderosa que resistiu ao derrote do toiro e foi assim que entrou grupo dentro. O toiro ainda lutou em tábuas a tentar tirar a cara, sem sucesso, dada a boa prestação de todo o grupo que, mesmo bem fechado, teve de se empregar para dominar este oponente.
A pega do quarto toiro teve como intérprete da cara o forcado Francisco Faria que consumou a pega à primeira tentativa. O cara esteve sereno e compenetrado no cite, o toiro arrancou pouco franco mas o forcado soube alegrar a investida para lhe dar algum andamento e após recuar o suficiente fechou-se na córnea do oponente que entrou pelo grupo e foi eficazmente ajudado sem grandes problemas.
Para a última pega da noite saltou para a cara do toiro o forcado Rui Godinho que consumou esta pega à segunda tentativa. Na primeira tentativa, alguma precipitação do cara a tentar provocar a tardia investida do toiro, fê-lo entrar em terrenos proibidos e pagar caro por isso, sendo vencido por um violento derrote na reunião. Na segunda tentativa, já houve mais concentração, o forcado mostrou-se melhor ao toiro que acabou por sair numa investida mais franca e apesar do cara ter reunido de modo algo descomposto, foi eficaz a oportuna entrada dos ajudas que foram compondo o forcado na cara na viagem e fecharam bem esta última pega de uma atuação, também ela de saldo final positivo para o grupo, nesta noite de Abiul.
Os três forcados da cara deram volta no final das suas atuações. O forcado que pegou o quarto toiro, abandonou no final da volta, prescindindo da segunda volta, dada pelo cavaleiro com o ganadeiro.
A corrida foi dirigida pelo diretor de corrida Francisco Calado que esteve correto e sem situações complicadas para resolver, assessorado pelo veterinário Dr. José Luis Cruz e o apoio do cornetim José Henriques, merecedor também ele de duas boas ovações do público nesta magnífica noite taurina em Abiul.