Tudo acaba bem quando termina bem (all´s well that ends well)

O título desta crónica reflecte o que se passou na passada quinta-feira na primeira praça do país, ou seja, a época no Campo Pequeno acabou em beleza, e quem teve a sorte de ter estado no campo pequeno, saiu de lá com a sua “aficíon” renovada e com vontade de voltar aos toiros na primeira oportunidade que surgir.

Praça cheia, com enorme ambiente, preenchida por um público ávido de vibrar, que não foi tão facilitista como noutras ocasiões, ou como alguns tanto apregoam.

Nesta corrida televisionada em diferido, depois das sempre pomposas cortesias de Gala à Antiga Portuguesa, perfilaram-se para enfrentar um extraordinário curro de Passanha seis Cavaleiros de distintas idades e estilos, bem como dois grupos de Forcados de primeira linha.

Destaque maior para o curro de Passanha, que além de muito bem apresentado, com a dignidade que a primeira praça do país exige, ou deveria exigir, deu opções de triunfo a todos os toureiros, demonstrando mobilidade, nobreza, casta e seriedade, desmitificando o mito de que os toiros de encaste “Murube” transmitem pouco, ou não apertam os toureiros, ou que não levam emoção à praça. Parabéns ao Ganadeiro Diogo Passanha, que foi justamente recompensado com duas voltas à praça pelo jogo dado pelos seus toiros, nomeadamente no terceiro e quinto da ordem.

Abriu praça Rui Salvador, o mais veterano dos ginetes que se apresentou na catedral do toureio a cavalo, que teve a lide mais apagada da noite. Após a ferragem comprida que cumpriu com acerto, Rui Salvador nunca se encontrou com as distâncias que o toiro exigia, resultando o seu labor desluzido, tendo de trocar de montada para colocar o último ferro curto, após consentir um forte toque na montada anterior e algumas passagens em falso demonstrando claras dificuldades na colocação da ferragem curta. Terminou a lide por cima com um emotivo ferro curto, mostrando o porquê de estar há mais de trinta anos na linha da frente.

Seguiu-se Rui Fernandes que cedo demonstrou ao que vinha. Dobrou-se bem com o oponente cravando dois bons compridos. Trocou de montada para a série de curtos que resultaram vibrantes, bem como a brega que os antecederam, depois já com o toiro algo “rachado” e a exigir outro tipo de abordagem, sacou um terceiro cavalo que aqueceu o público com cites espectaculares, privilegiando um toureio mais em curto rematando a faena com dois ferros a meter o toiro bem debaixo do braço. Saiu sob forte aplauso do público, boa prestação de Rui Fernandes.

O terceiro da ordem coube a João Moura Caetano que não se acobardou com o triunfo do colega que o antecedera. Recebeu bem o bravo toiro que lhe coube em sorte, colocando três magistrais ferros compridos dando primazia de investida ao hastado. Depois de colocar um ferro curto com o cavalo de saída, trocou de montada para encetar uma lide madura, pausada, carregada de temple e com excelentes apontamentos de brega, culminada com ferros ao piton contrário bem desenhados, com uma aparente facilidade que por vezes tiram emoção às sortes, mas que não passaram despercebidas ao público que aplaudiu com fervor o labor do cavaleiro de Monforte, que colocou a fasquia mais alta para os que viriam a seguir.

Para iniciar a segunda parte da corrida, surgiu Manuel Telles Bastos que cravou três belas tiras, sendo a primeira numa espécie de “sorte gaiola”, ainda o público se acomodava nas bancadas. Nos curtos seguiu-se um recital de toureio clássico, com sortes frontais e reuniões ajustadas que fizeram vibrar o público do Campo pequeno. Grande lide de Manuel Telles Bastos.

O quinto toiro da noite coube a João Moura Júnior, que sem desfazer dos triunfos dos outros cavaleiros, foi para mim o triunfador da noite. Recebeu o toiro com domínio, dobrando-se bem com ele e cravando com correcção os compridos. Na ferragem curta optou por cites de praça a praça, encontrado toiro em todos os sítios, para deixar ferros de parar corações com reuniões cingidas e remates com poderio. Ficam na retina as duas piruetas efectuadas na cara do toiro após a colocação do último ferro de palmo que além de muitíssimo arrimadas, ocorreram com o toiro em andamento. Noite inspirada deste jovem cavaleiro, que fechou com chave de oiro uma temporada repleta de triunfos e de grandes momentos. O público reconheceu o nível da sua actuação, tributando-lhe a mais forte ovação da noite no que concerne a cavaleiros.

Fechou praça Luís Rouxinol Júnior que desenvolveu uma lide bem conseguida no geral. O jovem cavaleiro de Pegões demonstra ter uma garra e uma conectividade com o público que herdou do seu pai. Executou uma lide em crescendo, terminando um ferro de palmo em sorte de violino que fez o público saltar das cadeiras, saindo sob fortíssima ovação.

No capítulo das pegas, a noite também foi de triunfo para ao Amadores de Évora e Vila Franca.

Diante de seis toiros sérios e que exigiam que as coisas fossem bem feitas, as duas formações superaram com distinção o desafio.

Por Évora foram caras Gonçalo Pires, João Pedro Oliveira e Manuel Rovisco à 1ª, 2ª e 1ª tentativa respectivamente, em boas pegas, superiormente ajudadas pelo restante grupo.

Pelos Amadores de Vila-Franca foram caras Vasco Pereira, Francisco Faria à 1ª e Rui Godinho à 2ª tentativa, qualquer deles tecnicamente perfeitos com o grupo a mostrar-se coeso nas ajudas em pegas que resultaram de belo efeito.

Grande noite de toiros no Campo Pequeno a deixar água na boca para a próxima época.

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