O toiro foi o rei em Lisboa

Campo Pequeno, 20 de Julho de 2017

 

Foram estes os atrativos que levaram esta noite ao Campo Pequeno muitos aficionados, preenchendo quase na totalidade as bancadas:   

 Alternativa de Luís Rouxinol Jr

António Ribeiro Telles

Luís Rouxinol

Manuel Telles Bastos

 Ganadaria Murteira Grave

 Grupos de Forcados Amadores de Santarém e Coruche.

 

Vou começar esta crónica por falar dos toiros, porque é do toiro e para o toiro que vive esta festa.

Nas horas que antecederam a corrida, era sobre as estampas de toiros que vinham da Galeana que toda a gente falava. As diferentes pelagens, diferentes tipos, a homogeneidade de peso e seriedade deste curro foram o tema durante todo o dia.

A promoção que foi feita pelo ganadeiro, com fotografias dos toiros levados para Lisboa, acompanhadas de pequenos textos sobre cada um deles, junto aos recentes sucessos que tem tido esta temporada, com um excelente curro em Reguengos, assim como os prémios de bravura alcançados nos concursos de Salvaterra e do Montijo, foram o mote para todo esse burburinho, tendo sido o Toiro, sem dúvida, um dos responsáveis pela boa casa que o Campo Pequeno presenciou.

São curros como este, e como os Veigas Teixeira do mês passado que dão ao Campo Pequeno a seriedade que se exige à 1ª praça do país.

Uma alternativa é outro motivo de forte interesse para os aficionados, e o Luís Rouxinol Jr merece também muito público neste grande desafio que teve pela frente. Calhou-lhe em sorteio o “Cocaína”, um toiro negro burraco com 570kg em que o jovem cavaleiro conseguiu uma boa ferragem comprida com 3 ferros no sítio e boa brega. O toiro foi aprendendo ao longo da lide, e não facilitou em nada o labor ao Luís, que nos curtos levou alguns toques pois o toiro adiantava-se uma barbaridade. Terminou a lide com muita garra, cravando 2 ferros de palmo, sendo muito aplaudido. Foi o toiro mais complicado da noite, mas o novo cavaleiro de alternativa conseguiu ter uma lide digna.

A primeira pega do Grupo de Forcados de Santarém previa-se complicada, pelo sentido que o toiro vinha a ganhar durante a lide, mas chegou já a menos à pega e teve pela frente um forcado experiente, que entendeu muito bem o oponente. O Lourenço Ribeiro colocou o toiro fora das tábuas, para se arrancar de largo, tirando-lhe muita maldade e reunindo perto do grupo. O toiro ainda derrotou muito mas já nas tábuas com o grupo a ajudar bem.

O 2º toiro lidado com 593kg, teve uma saída imponente. Toiro alto e com muita cara, saiu com pata, a apertar. O António Telles teve uma grande lide, com 2 compridos de boa colocação e emocionantes curtos ao estribo, com velocidade e grande colocação. Não era um toiro nada fácil, impunha muito respeito, mas teve pela frente um cavaleiro que está num grande momento. Terminou a lide com o público do Campo Pequeno a aplaudir de pé, rendido ao toureio clássico.

O primeiro toiro do grupo de Coruche coube ao forcado Pedro Coelho. O Pedro deu distâncias, carregou no momento certo e fez uma tentativa enorme, a um toiro que bateu, e em que faltaram ajudas para concretizar uma grande pega. Sempre ouvi dizer que os Graves davam uma tentativa e esta noite foi o que se passou. A partir da 2ª tentativa tivemos um toiro que exigia que o forcado entrasse nos seus terrenos e derrotava muito forte logo na reunião. Na 4ª tentativa os ajudas não permitiram que o caras recuasse e voltaram a sair desfeitados, concretizando à 5ª tentativa a sesgo. No final o rabejador também sofreu na pele o poder do toiro, tendo muitas dificuldades para se fixar a rabejar.

Luís Rouxinol, numa noite de muita emoção, viu sair dos curros uma verdadeira estampa de toiro. O “Luna de Miel”, com 587kg, saiu dos curros com muita velocidade, a investir com codícia, e o cavaleiro conseguiu ter toda a praça a aplaudir logo após o 1º ferro comprido. Cravou mais 2 compridos, numa lide em que poderia ter ouvido música mais cedo.

Foi um toiro com muito ritmo, bravo, que arrancava de qualquer lado, e o Rouxinol esteve inspirado ligando muito bem toda lide, realizando uma bonita brega após a ferragem. Terminou com um par de bandarilhas de frente, fortemente aplaudido.

Para a segunda pega do grupo de Santarém foi chamado o Francisco Graciosa, forcado que já este ano tinha estado enorme em Salvaterra, voltou a fazer um pegão. O Francisco tem um cite discreto, pausado e calmo, mas fecha-se com alma, aguentando derrotes muito fortes durante toda a viagem, com o toiro a rodar quando chegou às tábuas, deixando o grupo destapar um pouco o forcado da cara que continuou fechado até as ajudas conseguirem voltar a fechar a pega já no centro da arena.

 No final aplauso enorme para o “Luna de Miel”, com toda a praça de pé a aplaudir um toiro que está de regresso a Galeana para se tornar semental da histórica Ganadaria.

Lidar após um estrondoso êxito a todos os níveis, como foi a lide anterior, não é tarefa fácil, mas o Manuel Telles Bastos veio para dar luta, perfilando-se com muita valentia para receber o 4º toiro à porta gaiola. O Flor de Jasmim, com 590kg, saiu com ímpeto e o Manuel conseguiu cravar um comprido de cortar a respiração. Foi o momento alto de uma lide a mais um toiro bravo, em que o cavaleiro conseguiu cravar bons ferros, mas com alguns momentos em que perdeu a ligação ao público.

Para a pega foi o forcado Paulo Oliveira do grupo de Coruche, que colocou o barrete a meia praça, tendo o toiro arrancado solto, com o forcado a marcar-lhe bem o sítio e a reunir bem numa pega em que o toiro empurrou até tábuas, bem ajudado pelo grupo, tendo ficado inanimado na arena o 1º ajuda prontamente auxiliado pelos elementos dos 2 grupos.

 O intervalo só aconteceu após esta lide, ficando para a 2ª parte as lides a duo.

 A primeira lide a duo coube aos Telles, frente ao toiro Rebelde, com 605kg. As lides a duo não têm na minha opinião a beleza que tem uma lide normal, compreendendo-a apenas por ser uma espécie de cortesia, em cartéis com 4 cavaleiros, principalmente que incluam toureiros com muita proximidade. Penso que há menos ligação e nem podemos analisar o comportamento e a bravura do toiro da mesma forma. Mesmo assim, deu gosto ver a ferragem clássica dos Telles, com ferros compridos muito bem colocados e com 3 curtos para cada cavaleiro numa lide alegre a um toiro que me pareceu menos colaborante e mais parado que os restantes.

Na última pega dos amadores de Santarém, o forcado Luís Seabra teve que pisar terrenos comprometedores, tendo muita dificuldade para conseguir que o toiro se arrancasse. Penso que muitas vezes é melhor desfazer e mudar os terrenos ao toiro, em vez de estar a tentar ingloriamente carregar o toiro, já com bandarilheiros dentro da praça, a dar toques. Uma primeira tentativa não merece isso.

O forcado mesmo assim acabou por desfazer e mudou-se os terrenos ao toiro, que mesmo noutros terrenos foi muito complicado para arrancar para o forcado, tendo recebido mal na 1ª tentativa, acabando por se fechar à 2ª, como o grupo a ajudar bem.

 O último toiro, para a lide a duo de pai e filho Rouxinol, era o maior da corrida. Um toiro muito sério, com 628kg, e que desde início pareceu ter muito poder. Andou bem na lide, com movimento, e pai e filho cravaram bons ferros, terminando esta noite tão especial para eles debaixo de fortes aplausos.

 Para a última pega de Coruche e da noite, foi o José Marques que tinha pela frente um toiro que não abriu a boca em toda a lide, e que apesar de ter tido muita mobilidade, notava-se que estava cheio de poder. O forcado esteve bem no cite, e a carregar, aguentando depois uma dura reunião, mas faltaram 2as e 3as ajudas, tendo saído na viagem. Este toiro, tal como aconteceu com o segundo, deu apenas uma oportunidade aos forcados. A partir daí passou a ter uma reunião e um primeiro derrote violentíssimos, não dando hipóteses. Na 4ª tentativa tentaram de sesgo, mas sem ir ao engano, pelo que foi mais uma tentativa sem sucesso e na qual o forcado da cara saiu muito mal tratado. Foi para a dobra à 5ª tentativa o António Tomás, num sesgo, este sim ao engano, e com uma boa primeira ajuda do irmão e cabo José Tomás.

Esta foi uma noite em que, fruto dos toiros apresentados, e da determinação e valentia de todos os intervenientes, fez com que todos os aficionados saíssem da praça com vontade de que chegue a próxima corrida, para poder voltar a viver as emoções e o bom toureio ali sentidos.

Um agradecimento também ao Correio da Manhã, pelo apoio a esta corrida, pois é de louvar que um jornal com a dimensão e impacto no país que tem o CM se declare desta forma incondicional como apoiante da festa brava.

Artigos Similares

Destaques