Elvas contou com mais uma corrida de toiros noturna, durante as tradicionais festas em Honra do Senhor Jesus da Piedade e Feira de São Mateus, com o seguinte cartel:
João Moura Caetano
Marcos Bastinhas
Duarte Pinto
6 Toiros Rodolfo André Proença
Grupo de Forcados Amadores de Évora
Grupo de Forcados Amadores Académicos de Elvas
O Coliseu de Elvas registou uma boa entrada de público, que preencheu cerca de ¾ das bancadas. Previa-se muita competitividade entre os 3 cavaleiros da mesma geração, perante um curro de toiros de irrepreensível apresentação, com peso, rematados e muito bem armados. Sabendo-se de antemão da seriedade do curro, provavelmente estaríamos perante uma casa cheia.
Saiu à praça em primeiro lugar o cavaleiro João Moura Caetano para lidar o maior toiro da corrida. Um Proença castanho, com muito esqueleto, que acusou na balança 604kg. O toiro entrou na arena de uma forma algo distraída, mas acordou depois do 1º comprido e cumpriu, perseguindo a montada de Moura Caetano, que conseguiu bons ferros e uma lide bastante ligada com o toiro. O seu segundo, o 4º toiro da corrida, assentou que nem uma luva ao cavaleiro. Toiro preto, com muita cara e 536kg, bravo, fixava-se, arrancava com alegria e tinha uma investida franca. João Moura Caetano conseguiu muito bons ferros de praça a praça, aproveitando as boas arrancadas do toiro. Destaque para o 1º curto, onde esperou pelo toiro até ao último momento e cravou um grande ferro com uma bonita batida ao pitón contrário.
Marcos Bastinhas começou a sua lide recebendo o primeiro toiro à porta dos curros. O negro bragado com 538kg, saiu com muita pata e o cavaleiro aguentou bem a sua investida, dobrando-se depois com o toiro, proporcionando ao público um dos grandes momentos da noite. Conseguiu manter a fasquia elevada, com bons ferros e uma bonita brega com adornos que deram emoção, perante um toiro bravo que contribuiu para uma boa lide. No final, o par de bandarilhas não ficou à primeira, mas na segunda tentativa conseguiu um bom par, dando as vantagens ao toiro. No 5º toiro da noite, o Marcos conseguiu outra boa lide, alegre e com bons momentos, que terminou com 2 bons pares de bandarilhas perante um imponente toiro castanho, com 568kg mas que teve um comportamento menos nobre que os anteriores. Este, entrou em praça a berrar e com investidas bruscas. Não era um toiro fácil, mas o cavaleiro conseguiu sair por cima.
Duarte Pinto começou com o toiro de pior apresentação da corrida. Um toiro negro, o menos pesado da corrida e pouco rematado. No entanto, cumpriu bem, estando o cavaleiro à altura, com bons curtos. Ferros de frente e ao estribo, num estilo clássico, com o toiro a transmitir e a permitir boas reuniões e ferros emotivos, conseguindo mais uma boa lide. O último toiro foi o menos bravo, com menos disponibilidade que os restantes, não conseguindo o cavaleiro uma lide ligada. Teve ferros corretos e sortes bem desenhadas, mas devido à menor entrega do toiro não chegou da mesma forma ao público.
Para abrir as pegas, numa noite dura, pelos amadores de Évora foi escolhido o forcado Dinis Caeiro. O Dinis é um forcado já muito rodado e experiente, mas não se conseguiu entender com o duro Proença. Na primeira tentativa, o toiro arrancou solto e o forcado conseguiu reunir bem mas saiu num derrote para baixo durante a viagem. Depois desta, as coisas começaram a ficar mais complicadas com o toiro a derrotar muito e na 3ª tentativa ficou bem patente o poder do toiro, que atirou para o ar vários forcados. Foram 6 tentativas sem sucesso, as últimas 3 com o grupo já muito carregado, com o forcado acabando por sair lesionado, sendo dobrado à 1ª pelo cabo João Pedro Oliveira em curto.
Miguel Direito, pelo grupo de Évora, pegou o terceiro toiro à 2ª tentativa, depois de na 1ª não se dobrar e não conseguir reunir da melhor forma, rodando na cara do toiro. Na 2ª citou calmo, carregou no momento certo e mandou na investida, mas recebeu o toiro parado e sofreu forte embate, saindo da cara e voltando a entrar nos primeiros derrotes, que aguentou sozinho até ao grupo chegar e fechar a pega que resultou vistosa debaixo de um forte aplauso.
José Maria Passanha pegou o quinto e último toiro de Évora à 2ª tentativa. Na sua primeira não conseguiu uma boa reunião e não aguentou o forte derrote, tendo na 2ª tentativa uma dura viagem, sendo bem ajudado pelo grupo, que fechou uma rija pega com o toiro a empregar-se até às tábuas.
Pelo grupo da casa, perfilou-se António Machado para o segundo toiro da corrida. Teve um bonito cite, bastante calmo, teve que pisar terrenos de compromisso, mas recuou e reuniu bem, no entanto, não aguentou a viagem saindo por baixo no momento em que entravam as ajudas que deram muita distância. Na 2ª tentativa, o toiro desviou e o forcado ainda brigou sem conseguir aguentar até ao grupo chegar. Pegou à 3ª, já com as ajudas mais carregadas.
Marco Raimundo pegou o 4º toiro à 2ª tentativa. Na 1ª esteve bem, a carregar e a receber o toiro, mas na viagem o toiro empregou-se muito com um 2º derrote alto que foi muito violento e tirou o forcado da cara. Ficou maltratado, mas conseguiu regressar e fazer uma rija pega à 2ª tentativa.
A fechar a corrida, o cabo dos Amadores Académicos de Elvas, Luís Machado, necessitou 3 tentativas para levar o Proença de vencida. Na 1ª tentativa soube mandar e conseguiu uma boa reunião, no entanto, faltaram ajudas e acabou por sair na viagem. Na 2ª tentativa não aguentou o forte primeiro derrote do toiro, fechando à 3ª, já com menos distâncias.
No final da corrida, houve volta para os responsáveis da ganadaria pelo curro enviado. Toiros bem apresentados, com boas caras, muita mobilidade e que transmitem emoção às bancadas, quer nas lides, quer nas pegas, mostrando que uma corrida com toiros a pedir contas tem outro interesse e outra emoção. O Coliseu de Elvas tem pecado desde a sua inauguração por alguma falta de casta e trapio, mas esperamos que esta corrida tenha sido um ponto de viragem. É uma praça com todas as condições, que pode e deve ter mais que duas corridas por ano, desde que se apresentem sérias e com cartéis diversificados.
foto: Maria João Mil Homens