Paulo Pessoa de Carvalho: “Não estou parado nem desaparecido em combate”

Uma conversa com o empresário Paulo Pessoa de Carvalho.

É presidente da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET) e da Prótoiro – Federação Portuguesa de Tauromaquia. É gerente da PPC Produções, cujo objecto assenta na organização de espectáculos tauromáquicos e eventos sócio-culturais. No ano passado, geriu várias praças — Vila Franca de Xira, Chamusca, Moura, Portalegre e Vinhais — organizando múltiplos espectáculos tauromáquicos. Este ano decidiu abrandar o ritmo a nível taurino e dedicar-se a outros projectos.

A Temporada de 2017. O afastamento das corridas e os novos projectos. A APET e o pedido de demissão. Os projectos da Prótoiro e o futuro da Festa em Portugal. A Alma do Vinho. A Tauronews esteve à conversa com Paulo Pessoa de Carvalho, que nos falou sobre todos estes temas.

 

 

Agora que está a começar a Temporada Taurina 2018, qual é o balanço que faz da temporada passada e das corridas que organizou?

Foi uma temporada extensa. No ano passado organizei 18 espectáculos, um bocado mais do que tinha inicialmente idealizado. Isso, em conjunto com outras solicitações profissionais, tornou a temporada um bocado cansativa. Em termos pessoais, foi bastante intensa. Em termos globais, tivemos uma estabilização do número de espectáculos na casa dos 200, que é aquilo que achamos ser o número de espectáculos aconselhável numa temporada normal: entre as 200 / 220 corridas.

 

Hoje, há alguma coisa que gostaria de ter feito diferente na temporada passada?

Teria sido um bocado mais rigoroso na aquisição dos toiros. De resto não teria feito mais nada diferente. Acho que aquilo que não correu bem foi exactamente nesse campo.

 

Que pontos altos é que destaca da temporada?

Destaco a Feira do Colete Encarnado de Vila Franca, o facto de a TVI ter voltado a transmitir corridas de toiros, a adesão a muitas praças por parte do público, a Feira de Alcochete e a quantidade de gente nova que está a ir aos toiros.

 

E o que é que o levou a este ano afastar-se um pouco das corridas de toiros?

Na vida tudo é cíclico. Acabou o contrato duma praça extremamente exigente [Vila Franca de Xira] e entendo que profissionalmente devo agarrar outras coisas. Tem muito a ver com a organização de grandes eventos na área sociocultural. Eu organizo e promovo feiras, crio projectos novos com as autarquias e produtos com interesse que acabam por divulgar as regiões. Estarei sempre ligado à tauromaquia – faz parte do meu ADN -, mas neste momento prefiro ser mais um espectador atento da Festa dos Toiros em Portugal do que ser um actor e estar no palco. Tudo o que fizer tentarei que seja com a qualidade, o interesse e o sucesso de que gosto.

 

Está entusiasmado com o ano que aí vem?

Estou expectante. Houve mexidas e há aí pessoas com vontade de dar algum contributo à festa. Acredito sempre que a temporada seguinte será melhor do que a que passou. Estou também um pouco apreensivo com esta surpresa e esta tragédia que atingiu a festa (a prematura partida do Néné), mas estou convencido de que as coisas irão continuar, melhores ou piores, mas numa mesma linha.

 

Tem alguns planos para voltar ou para concorrer a alguma praça?

Tenho alguns projectos. Vou continuar as minhas organizações no Norte. Quanto à candidatura a alguma praça, se vir que há alguma situação que reúna condições para eu fazer um bom trabalho e que me motive, posso candidatar-me. Estou mais recatado mas não estou parado nem desaparecido em combate. Uma coisa é certa: a minha realização de espectáculos no Norte e eventualmente uma outra incursão muito específica no Sul podem acontecer.

 

Vai continuar na APET?

A Assembleia Geral é que vai decidir isso. Em Abril de 2017 fiz uma carta para o presidente da Assembleia Geral com o meu pedido de demissão, e até agora ainda não obtive resposta. Entretanto, com todas as conturbações que na Festa têm existido, tem havido uma actividade muito mais intensa da APET e da Prótoiro. Portanto não posso virar as costas à APET nem deixar trabalhos a meio, assim, até sentir que o seu destino está entregue e bem entregue, serei presidente da APET, basicamente é isso. Ou se encontra uma solução capaz na Assembleia Geral para o futuro da Associação ou o presidente cumprirá o seu mandato até ao final. As pessoas na vida assumem compromissos e têm de levá-los até ao fim. O abandono ou a mudança fazem parte da liberdade e do direito das de cada um, mas a responsabilidade também faz parte, por isso também tem de haver uma substituição efetiva e um caminho alternativo.

 

O que o fez pedir a demissão?

Sentir que estava a ficar um bocado esgotado nas mais-valias que podia trazer à associação. Aqui não há cargos, há missões para se cumprirem. E quando a missão se consegue cumprir é porque temos contributos a dar, quando sentimos que somos apenas um nome não vale a pena, e foi sinceramente o que eu senti em determinada altura. E depois também há a parte da motivação. Não é um presidente que empurra uma associação à força toda… Uma direcção tem de estar à frente duma onda, é como um surfista. Uma direcção tem de escolher o melhor caminho para levar a “sua gente” ao destino que se quer e não tem de estar a empurrar alguém que não quer andar. Senti que não havia ondas, estávamos num lago; e andar ao sabor do vento não me interessa, prefiro sentir que existe uma dinâmica, um grupo de gente que quer levar ao rumo certo a Festa de Toiros, quando assim é os grandes problemas tornam-se pequenos, quando assim não é, os pequenos problemas tornam-se grandes.

 

Quanto à Prótoiro, quais são os projectos da federação para o futuro e que actividades estão a pensar promover?

A Prótoiro está com uma maior consciencialização das suas necessidades por parte da sua direcção, constituída por todas as associações taurinas que existem, da importância e necessidade da mudança. A Prótoiro funcionou às vezes um pouco aos soluços, tinha algumas boas ideias que nem sempre conseguia que fossem implementadas. Não foi bem entendida por muita gente, o que é pena, porque tem um papel fundamental na gestão estratégica da Festa dos Toiros em Portugal (chega a ser um exemplo internacional), e penso que agora finalmente a direcção está com um entendimento muito comum das “nossas” necessidades e dos passos a dar. A equipa está toda motivada e com muitos projectos na calha. A postura da Tauromaquia vai ser de alguma forma mais moderna, mais actual. Temos algumas inovações que vão ser apresentadas muito em breve. Vamos ter uma abordagem ao “cliente” muito mais moderna e cómoda. Estamos a trabalhar bem a área da comunicação e continuamos a marcar presença onde tem de ser, para que as decisões políticas reconheçam o que é a Tauromaquia em Portugal. A Prótoiro tem conseguido ter outra credibilidade e estamos sinceramente convictos de que a Prótoiro é uma pedra essencial para nos ajudar a reflectir, a encontrar o caminho para que a Festa dos Toiros seja mais saudável e mais forte em Portugal nos próximos tempos.

 

E que futuro vê na Festa de Toiros?

Eu vejo futuro. Espero que ele seja bom. As touradas não são um produto para vender bilhetes. É um produto que vende bilhetes, mas que também tem valores culturais, emoções, valores da própria personalidade e do carácter humano que têm de ser transmitidos, valores históricos… Vamos ter grandes órgãos de comunicação social nacionais a tratar a tauromaquia com um carácter diário como não há se calhar desde os anos 80. Acho que esta recente marginalização de que temos sido alvo por alguns, está com os dias contados, definitivamente as pessoas que assim nos tratam vão cair cada vez mais no ridículo. Nós não queremos pisar ninguém, queremos unicamente valorizar a nossa cultura, os nossos valores, a nossa tradição e a nossa história, no fundo esta arte. Respeitamos os que gostam e os que não gostam, e a única coisa que queremos é respeito e que nos deixem fazer a nossa vida, seguir o nosso caminho. Vamos começar a aparecer associados a marcas e empresas que até há bem pouco tempo tinham reticências nisso, receio em se associarem á tauromaquia. Iremos como disse, estar presentes em órgãos de comunicação social nacionais que não falavam de toiros, e a tourada em 2018 vai ter muito maior visibilidade e uma presença mais “normal” na sociedade. Acho que até vamos ter um futuro melhor comparando-o com o nosso passado recente. O que a Prótoiro quer é que, pegando no bom que há de cada uma das suas associações, seja evidente que a tauromaquia faz falta à sociedade; é boa e faz falta, mas acima de tudo faz parte da sociedade. Quem não gosta tem de reconhecer o que temos de bom, que é muita coisa, e com certeza criticar se assim o quiser o que não gosta, mas de uma forma construtiva, respeitadora e democrática.

 

Como está a correr a organização da Alma do Vinho?

Está a correr bem, estamos numa fase de definição de programa e penso que para o final de Fevereiro já vai haver novidades, incluindo possíveis cabeças de cartaz. A edição deste ano terá lugar novamente no mês de Setembro e será de quinta-feira, dia 13, a domingo, dia 16. É um projecto que está em crescendo e espera-se que a edição de 2018 seja mais badalada que a de 2017. A Alma do Vinho vai ser um dos acontecimentos fortes em Alenquer, que é este ano a Capital Europeia do Vinho numa candidatura conjunta com Torres Vedras. Por isso, existem muitas razões para que sejam apontados os holofotes para este evento e para esta organização. Os Media Partners uma vez mais serão de âmbito nacional e incluirá Jornais, Rádio e Televisão.

 

 

 

 

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