Panem et circenses

  • Lisboa, Praça de Touros do Campo Pequeno, 20.09.2018
  • Cavaleiros
  • João Moura Caetano
  • Duarte Pinto
  • Matador de Touros Juan José Padilla
  • Grupos de Forcados Amadores de Santarém (Cabo Exmo. Sr. João Grave) e Montemor-o-Novo (Cabo Exmo. Sr. António Vacas de Carvalho).
  • Ganadarias: Herdeiros de Mário Vinhas (1.º, 2.º, 4.º e 5.º), Varela Crujo (3.º e 6.º).
  • Casa cheia

Pão e circo foi uma política criada entre a República e o Império Romano, como uma medida de manipulação de massas, onde a aristocracia incentivava a plebe de certa forma ficar desinteressada em política e dar atenção somente para prazeres como a comida, através do pão, e o divertimento, retratado pelo circo.

Os touros atualmente estão no mesmo patamar. Não é uma crítica, é uma necessidade, se houver demasiada exigência, as praças em vez de cheias, estão vazias, o povo quer festa e alegria.

Ontem teve-a na arena Lisboeta, o atrativo da noite era a despedida da Praça centenária do Matador de Touros Juan Jose Padilla, encheu por ele, para o ver e para ver o seu espetáculo, com um triunfo trazido de casa, no bolso do casaco.

Pôs mais o público do que o próprio, veio cumprir mais um contrato, tourear mais dois touros, sem chatices e com a certeza de que o que fizesse seria “embadeirado em arco”.

Se o carinho demonstrado toda a noite foi pela despedida, ótimo, encantados da vida, se foi pela atuação, algo vai mal, não no Reino da Dinamarca, mas no nosso divertimento.

Para cavalo anunciaram-se quatro touros Vinhas, no tipo e morfologia Buendía, uns mais colaboradores que outros, todos com mobilidade, sem zelo na generalidade, emparelhados aos cavalos, sem apertar e sem querer apertos.

Muita disposição dos cavaleiros, tiveram que por o que faltou para tentar chegar ao público, Moura Caetano no seu toureio de batidas ao piton contrário, de cites largos e ferros ao estribo, com risco, viu bastantes dificuldades perante a pouca colaboração dos oponentes, adaptou-se no entanto e não sendo assim, teve que ser da maneira que podiam, esteve bem, sem chegar a quotas de triunfo.

O mesmo se passou com Duarte Pinto, num toureio mais clássico, totalmente à Portuguesa, de frente e de largo, praça a praça, no primeiro, mais colaborador, terminou com um grande ferro.

Ambos os segundos touros de cada cavaleiro lhes trouxeram mais problemas, a Moura Caetano, reuniões altas e bruscas no ferro e a Pinto num touro sem muita vontade de colaborar.

Para pegar os touros das lides a cavalo, os dois grupos nacionais mais antigos e eternos rivais, Santarém e Montemor.

Por Santarém, nesta noite chefiado pele experiente e veterano forcado José Fialho, por impedimento profissional do Cabo, abriu com uma pega à primeira tentativa António Taurino, pega correta, bem rematada de princípio a final, volta para Moura Caetano e Taurino.

João da Câmara citou com muita serenidade e voz baixíssima o primeiro por Montemor, embora a reunião não tenha sido perfeita, o grupo ajudou e rapidamente corrigiu a posição do forcado, dando-lhe maior comodidade e segurança, boa pega à primeira, vistosamente rabejada, como sempre, por Francisco Godinho.

O segundo de Santarém, um touro ingrato, pela dificuldade na reunião, atirava uma cornada, adiantando o piton direito, tirando rapidamente a cara, fez isso no cavalo e no forcado, seis vezes. Ruben Giovety não conseguiu nunca acoplar-se a esta circunstância e com mais estoicismo e pundonor do que discernimento foi seis vezes à cara do touro, depois de uma tentativa de onde saiu visivelmente combalido.

Silêncio para ambos.

O último de Montemor foi pegado à terceira tentativa por Francisco Barreto, um touro com pouca cara e investida seca, exigia reunião templada e com recuo, Francisco na primeira não o fez e foi surpreendido com um derrote lateral seco e violento, na segunda já reúne bem, grande entrada do primeiro ajuda, mas sai na trincheira, na fase das terceiras ajudas.

Na última tentativa recebe bem o touro, entra novamente bem o primeira ajuda e já fecha todo o grupo.

Volta para Pinto e Francisco Barreto.

Na parte apeada, aquela que dava mote à noite, ressaltou os dois pares de bandarilhas de João Ferreira, dando todas as vantagens, e enseñando o peito aos touros, demonstrado valor, sitio, conhecimento e faculdades, foi obrigado a agradecer montera en mano.

Touros com presença e seriedade suficientes, sem estarem sobrados de força.

Padilla não quis bandarilhar, não quis parar os touros de verónica, dando-lhe um par de caputazos e deixando-os aos subalternos. Na muleta, ambos, com investidas curtas e protestadas nos finais, melhor o segundo e pela direita, o piton esquerdo nem chegámos a ver.

Tandas circulares de mão no lombo, rematadas em passes de peito e abaniqueos, muitos abaniqueos, desplantes de joelhos, com voltareta incluída, de joelhos de costas e festinhas nos pitons e testa dos touros.

Duas voltas em cada touro, muitas flores e saída em ombros pela Porta Grande, não sei em quantas vai, e já conto com a de fato e gravata.

Não tiro um pingo de valor a Padilla, não lhe coloco um “se” no percurso e na sua trajetória, apenas que na noite em que todos o queriam ver à Padilla, uma praça cheia, viram mais uma noite do Juan José, ainda assim, o povo quis, fez e teve festa, divertimento, panem et circenses.

 

Foto Frederico Henriques

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