Adeus Ganadero…
Estava a caminho do Minho quando recebi a triste notícia, partira o ganadero José Luís Pereira Dias. O longo caminho serviu para relembrar as várias vezes que tive o privilégio de com ele privar.
A sua simpatia e educação “de homem à antiga” cativaram-me desde o primeiro momento, a paixão pelo toiro que o fez radicar-se no ribatejo, e criar 3 ganaderias, todas elas diferentes, partilhadas com sua mulher e filhos, mas com o seu cunho pessoal.
Patriarca inequívoco de uma família que transborda aficion, transmitida aos seus filhos José Luís e José Manuel, homens curtidos ao sol do ribatejo, e que beberam todos os ensinamentos de seu pai.
José Dias foi um ganadero do povo e para o povo, longe de pretencisiosismos, fez mais pela tauromaquia do que grande parte dos agentes da festa. Em sua casa, a cultura ganadera era partilhada com todos, prezando não só as figuras do toureio, mas todos os forcados e também adeptos das tauromaquias populares.
Em sua casa todos eram bem-vindos, com a simplicidade que só a pureza permite, as mesas improvisadas debaixo dos centenários sobreiros, tornavam-se num salão nobre onde durante horas se contavam histórias e peripécias de toda uma vida.
São incontáveis os toiros seus que calcorrearam as ruas de todas as cidades taurinas, levando a sua bravura a cada janela e fomentando aficionados por esse país fora.
Este verdadeiro trabalho de promoção da tauromaquia seria mais que suficiente para lhe ser eternamente agradecido.
Mas há muito mais…
Quero agradecer-lhe pelo privilégio diário ao sair e chegar a casa, o de inevitavelmente me cruzar com as suas ganaderias , património genético inigualável numa tela magestosamente pintada pela natureza e pela sua mão.
Também pelo berrar dos toiros que me entra pela janela no silêncio da noite, e que tornam este nosso cantinho tão mágico.
Pelos sonhos que despertam nos meus filhos, que tanto se orgulham de ser amigos do seu neto com quem brincam incansavelmente aos toiros.
Pela amizade dos seus filhos que tanto admiro, pelos valores morais e apego às tradições que lhes incutiu, é um orgulho encontrá-los por essas praças de toiros onde honram tão bem a arte de ser Campino.
Obrigado por um dia ter tido a coragem de vir para o Ribatejo e dar asas ao seu sonho. Vai fazer muita falta a todos os Ribatejanos.
Até sempre “vizinhança”.