Moura recebeu mais uma corrida de toiros, por ocasião das tradicionais festas em honra da Nossa Senhora do Carmo, com uma casa que preenchia 3/4 fortes da lotação da praça José de Almeida.
O cartel era composto pelos cavaleiros:
Luís Rouxinol
Vitor Ribeiro
Francisco Palha
Forcados:
Amadores de Alcochete
Real de Moura
Ganadaria: Veiga Teixeira
Numa data tradicional, Rafael Vilhais e João Cortez construíram um cartel apelativo e cheio de motivos de interesse, juntando experiência e irreverência para lidar um curro de toiros que normalmente pede contas aos artistas, em competição dois Grupos de Forcados com créditos firmados.
Abriu praça o mais velho cavaleiro de alternativa do cartel, Luís Rouxinol perante o mais pesado da noite com 600kg, toiro bem apresentado e que se revelou cumpridor no comportamento, bem nos compridos, nos curtos mostrou diversidade de soluções, entre sortes frontais, um violino e um “palmito”, Rouxinol consegue realizar uma boa lide sem contudo empolgar as bancadas.
Para a pega Diogo Timóteo vestindo a jaqueta dos amadores de Alcochete, esteve perfeito concretizando à primeira tentativa, o forcado cumpriu todos os tempos da pega, com o grupo a mostrar-se coeso nas ajudas, com destaque para a 1ª ajuda de João Rei.
Para o segundo Francisco Palha, em virtude da inutilização do toiro que saiu a Vitor Ribeiro, trocando assim a ordem de lide, saiu-lhe em sorte um manso de 580kg, que lhe proporcionou apenas o cumprimento da ferragem da ordem, o cavaleiro andou esforçado e tentou tirar o possível do toiro, mas não tinha matéria-prima para conseguir muito melhor, de registar um gesto de enaltecer do cavaleiro para com um espectador que se sentiu mal, ao aperceber-se da situação parou a lide e ao notar a melhoria no estado de saúde do espectador, acaba por lhe dedicar um ferro.
Para a pega e vestindo a jaqueta da casa João Cabrita, num toiro de tarda investida, sai avisado e o forcado não aguenta o primeiro derrote do toiro (derrote forte para o lado), na segunda tentativa volta a não aguentar o primeiro derrote do toiro, à terceira e a sesgo o forcado volta a não conseguir ficar na cara do toiro, consideramos que houve aqui alguma precipitação e falta de calma, concretiza à quarta tentativa e novamente a sesgo.
Para fechar a primeira parte Vitor Ribeiro, perante um toiro de 540kg que foi cumpridor, era aguardado com muita expectativa o regresso do cavaleiro, que vinha alcançando boas prestações neste início de temporada, Ribeiro andou regular sem conseguir romper e não chegando às bancadas como desejava, ainda assim esteve correcto e assertivo.
Para a segunda pega da noite para os amadores de Alcochete Francisco Gaspar, esteve correcto à frente do toiro, mandando na investida não consegue contudo uma reunião perfeita, o que originou uma viagem descomposta na cara do toiro, esta pega originou algumas dúvidas nas bancadas sobre se estava ou não na cara do toiro quando o grupo fechou a pega(a minha posição na praça não me permite avaliar com rigor esse facto).
A abrir a segunda parte Luís Rouxinol repõe a ordem natural de lide, e perante um bom toiro, o cavaleiro de Pegões conseguiu uma boa lide, esteve bem a receber nos compridos, na preparação dos ferros chegou ao público com facilidade, cravou ferros de qualidade e esteve exemplar nos remates das sortes, terminou com um bom par de bandarilhas, boa prestação.
Para o quarto da noite e segundo do grupo da casa, saltou a trincheira David Prata, na primeira tentativa “empranchou-se” e o toiro que saiu com pata não permitiu esse erro, despachando o forcado após a reunião, na segunda tentativa voltou a cometer o mesmo erro, à terceira tentativa e com o primeiro ajuda já em curto concretiza a pega.
Para o quinto da ordem Vitor Ribeiro, perante um toiro que se revelou manso com 585kg de peso e que cedo se refugiou em tábuas, saía apenas através de arrancadas reveladoras do seu comportamento (manso). Ribeiro esforçado e com muito labor, conseguiu apenas cravar a ferragem da ordem, neste regresso a Moura não teve sorte com o lote que lhe calhou em sorte, ainda assim a mostrar bons pormenores.
Para a última pega dos amadores de Alcochete José Freire, que na primeira tentativa tropeçou ao recuar, saindo lesionado da arena, para a dobra João Guerreiro, com o toiro já diminuído fisicamente concretiza à sua primeira tentativa. De destacar a coesão do grupo em todas as tentativas esta noite, mostrando diversidade de opções e recorrendo a três primeiros ajudas diferentes.
O que até aqui tinha sido uma corrida morna no que as lides diz respeito, tudo mudou graças a Francisco Palha, com isto não é justo dizer que o toiro facilitou a sua prestação, muito pelo contrário, um Teixeira com 560kg de muita casta e difícil, exigia um cavaleiro de primeira água. Francisco Palha respondeu à chamada e deu tudo o que o toiro permitia, escutou música ao primeiro ferro curto, pisou os terrenos do toiro constantemente, arriscou com sortes frontais e junto a tábuas que levantou as bancadas pela primeira vez com efusividade, o último ferro então é de bandeira e de secar a boca. Francisco Palha atravessa um grande momento, o melhor da sua carreira, está um senhor cavaleiro e poderá trazer aquilo que a nossa festa precisa.
Para a pega estava guardado o momento da noite, adivinhava-se um toiro a pedir grupo e as coisas bem feitas, Rui Branquinho na primeira tentativa não conseguiu reunir nas melhores condições, o toiro ensarilhou e o forcado não consegue reunir. Na segunda tentativa e com os terrenos do toiro mudados (quanto a nós houve aqui uma interpretação diferente, na escolha dos novos terrenos, o toiro mostrava sair com mais suavidade no sentido da porta dos cavalos), aconteceu uma pega memorável, quem esteve presente dificilmente esquecerá este momento, Rui Branquinho desta vez consegue uma reunião perfeita, o toiro sai com muita pata, o grupo abre, mas encontra José Marques ”Penalti” nas terceiras ajudas, e que ajuda, meteu a “carne toda no assador” até embater com extrema violência na trincheira, “despachado o ajuda”, o toiro segue o seu caminho com o forcado da cara agarrado como uma lapa, a fazer toda a viagem sozinho, só é parado no local de onde saiu, extraordinária pega. Não sendo comum a chamada de um terceiro ajuda à praça, desta vez não havia outro caminho, muito justamente a praça de pé chamou o José Marques, para acompanhar Rui Branquinho.
Mais uma nota para a conduta de Francisco Palha, apesar da excelente lide conseguida, deu todo o “palco” aos dois forcados, mostrando muita humildade e respeito pelo forcado amador, fica o exemplo tão poucas vezes seguido pelos seus colegas de profissão.
Terminou assim mais uma corrida (muito longa em virtude das dificuldades na recolha dos toiros), na cidade das janelas floridas, dirigiu com o habitual critério o Sr. Agostinho Borges, que apenas não concedeu volta ao forcado que pegou o segundo toiro da corrida, foi coadjuvado pelo Dr. Feliciano Reis, a banda de Alcochete abrilhantou a corrida com o nível que lhe é reconhecido.
Gonçalo Valente e Henrique
Foto Maria João Mil-Homens