O jornalista Daniel Oliveira, no seu espaço de opinião na rádio TSF, comentou a sociedade urbana, aquela que estando tão longe da natureza, substituiu o ambientalismo pela sua versão infantil e urbana: o animalismo.
“Não damos cada vez mais importância aos direitos dos animais por estarmos cada vez mais próximos da natureza, pelo contrário, fechados nos nossos apartamentos, agarrados a animais de companhia quase humanizados esquecemos que a natureza é cruel, violenta, mortal, até esquecemos que matamos para comer. A morte chega-nos embalada e higienizada.”.
Para Daniel Oliveira, os direitos humanos e os direitos dos animais não podem ser incluídos no mesmo plano “por mais importantes” que estes sejam, e quem humaniza os animais desta forma, não o faz por uma “crescente generosidade para com todos os seres vivos”.
“Até suspeito que seja o contrário. Vamos substituindo as relações com humanos (difíceis e paritárias) pelas relações com animais (fáceis e dominadoras)”.
Numa visão desassombrada e muito pertinente, o jornalista comenta que «muitas vezes simulamos com os animais aquilo que estamos a perder com os da nossa própria espécie”. E mais, diz,
“Também eu tenho uma cadela e dois gatos que adoro quase como se fossem pessoas e a quem dedico um tempo que noutro tempo ninguém dedicaria: comida cara, treino semanal numa comportamentalista, passeios diários, atenção como se fosse uma criança. Mas o mundo é mais do que os meus afetos e necessidades. É o planeta que não soubemos proteger até entrar em colapso, porque estamos cada vez mais longe da natureza. Tão longe que amamos cães como se fossem filhos. Tão longe que substituímos o ambientalismo pela sua versão infantil e urbana: o animalismo”.