Se este não é o número 1, o que mais terá de fazer para o ser?

Moura recebeu mais uma corrida de toiros, esta integrada na tradicional feira de Setembro, data que normalmente fica aquém do desejado em termos de afluência de público, desta vez a praça engalanou-se para receber o furacão de Puebla del Rio, pois não restam dúvidas que foi o rejoneador espanhol o grande responsável pela casa cheia que se fez notar.

Outro ponto de interesse, era o grupo da terra chamar para si a responsabilidade de pegar os 6 toiros como é tradição, não obstante da rivalidade Mouras-Ventura.

Cartel bem montado, pena não podermos dizer extraordinariamente bem montado, em virtude da falta de trapio do curro enviado por Alves Inácio, toiros muito escorridos de carnes, muito anovilhados, que pouco transmitiram e não foram o ingrediente necessário para que a corrida resultasse redonda, Moura e Rafael Vilhais tem-nos habituado a toiros sérios e de verdade, desta vez assim não aconteceu.

A corrida iniciou com uma procissão ao som de fado e posteriormente da banda os amarelos de Moura, os intervenientes carregaram o andor com a nossa Senhora do Carmo, emprestando assim mais cor, luz e porque não dizê-lo, encanto ao espectáculo.

Mas vamos à corrida propriamente dita:

Abriu a noite de casa cheia como já referimos o Maestro João Moura, perante um toiro com 530kg, encastado e colaborante, permitiu ao cavaleiro realizar uma boa lide, cravou ferros de frente com batidas ao píton contrário, deu algum privilégio à brega, embora um pouco distante de outros tempos, registamos dois ferros que arrancaram muitos aplausos das bancadas e mostraram que o maestro de Monforte, estava motivado e queria dar sequência à boa noite que tinha tido na véspera em Lisboa, terminou com um “palmito”, que tinha sido de evitar, pois o toiro “rachou” e foi preciso uma barbaridade de tempo para o cravar, uma nota negativa para o uso excessivo de bandarilheiros a coadjuva-lo na colocação dos toiros.

Para o primeiro da noite no capítulo das pegas o jovem Gonçalo Borges, que vinha motivado da boa época que tem vindo a fazer, mas esta noite as coisas não correram bem, na primeira tentativa e com o toiro colocado numa zona onde tinha mostrado alguma crença durante a lide, o forcado esteve bonito no cite e cumpriu todos tempos da pega, mandou vir o toiro para uma reunião dura, que o forcado aguentou com poder e técnica, aguentou um derrote fortíssimo, mas houve alguma falta de prontidão nas ajudas, o que resultou numa tentativa falhada, na segunda tentativa com o toiro colocado no mesmo sítio, este sai novamente com maldade para resultar em nova reunião dura, com o forcado a recuar pouco, pedia-se aqui que o forcado recuasse de forma a evitar a violência da investida, é novamente desfeiteado, na terceira tentativa e já com o primeiro ajuda a receber ao mesmo tempo, o toiro “despacha” os dois forcados, não permitido a concretização da pega, já com os terrenos mudados resolveu a sesgo à quarta tentativa.

Para o segundo da noite Diego Ventura, por diante um toiro de 495kg mal apresentado, que não transmitiu e ficou-se por um mero colaborante, do qual o rejoneador tirou o que este tinha e o que não tinha para dar à lide, bem nos compridos, iniciou com dois grandes ferros curtos, na brega esteve soberbo contudo sem chegar ao público como pretendia inexplicavelmente, depois trocou de montada para cravar dois ferros que desafiam os aficionados mais tradicionalistas e defensores da arte Portuguesa, de frente executou dois ferros de “violino”, que meteram a praça de pé e em completo êxtase, excelente lide que teve o senão da cravagem ser um pouco dispersa.

Para a pega Gonçalo Malato, o toiro sai solto com o forcado a carregar a sorte a meio da viagem, descompondo a investida, contudo consegue reunir bem, já no seio do grupo acaba por sair por baixo, em virtude do toiro ter baixado a cara, ao levantar-se foi colhido e David Carvalho saltou para a dobra sem dificuldades à sua primeira tentativa.

Para encerrar a primeira parte da corrida João Moura Jr., pela frente um toiro com 505kg com falta de trapio, mas franco e com nobreza que apesar de escasso de forças, podemos considerar um bom toiro, permitiu uma boa lide ao cavaleiro, mas ficando a sensação que podia ter feito melhor dada a matéria prima que tinha à sua disposição.

A cravagem foi um pouco deficiente, realizou sortes frontais com ligeira batida ao píton contrário, dando todas as vantagens ao oponente, deixando-o sair primeiro, aguentando para depois cravar o ferro, algumas sortes não resultaram redondas, ainda assim agradaram o público presente, o primeiro e o último curto resultaram com muita verdade e emoção.

Para a pega Márcio Zeferino, na primeira tentativa defendeu-se na reunião e acaba fora da cara do toiro, o cabo manda repetir e bem, concretiza à segunda tentativa com a reunião a não resultar novamente perfeita.

No intervalo foi descerrada uma placa evocativa dos 40 anos de alternativa de João Moura e dos 20 anos de alternativa de Diego Ventura, os 47 anos do Real de Moura também foi parabenizado pela Câmara Municipal local.

A abrir a segunda parte da corrida João Moura, que teve pela frente um toiro com 520kg, reagia mal ao castigo, revelava-se manso e sem transmissão. O cavaleiro realizou uma lide sem chama, mas regular cumprindo os mínimos exigidos, voltou a recorrer em demasia aos seus bandarilheiros.

Para a pega João Cabrita, o forcado iniciou o cite de forma calma, mandou vir o toiro para uma reunião alta e difícil, entrou pelo grupo que não foi eficiente e a pega acabou por não resultar, pena, pois foi uma grande tentativa e seria uma pega de eleição, na segunda tentativa o forcado volta a estar em bom plano, a reunião foi dura mas o grupo desta vez ajudou bem e concretiza uma boa pega, com o forcado a mostrar em ambas as tentativas muita vontade e crer.

Para o quinto da noite Diego Ventura, pela frente o maior da noite com 610kg, com pouca cara o que prejudicou na apresentação, o toiro foi colaborante e deixou-se lidar, permitindo mais uma grande lide ao rejonedaor espanhol, ao que o público respondeu de pé e em completa loucura, cravou ferros para todos os gostos, na brega esteve extraordinário mais uma vez, terminou a lide com um excelente par de bandarilhas, já sem a cabeçada no cavalo, Ventura mostrou porque move multidões, tem uma simbiose com o público como ninguém e se este não é o número 1, o que mais terá que fazer para o ser? Deu apenas uma volta, quando a praça toda de pé lhe pediu a segunda, um gesto de tremenda humildade que registámos.

Para a pega e por opção, Rui Ameixa e Fernando Navas numa sorte de cernelha, o toiro tardou em encabrestar mas quando o fez, a dupla entrou com determinação, contudo o toiro não permitiu a pega e vendeu muito cara a derrota, despejando o cernelheiro, na segunda entrada o cernelheiro entra novamente bem, mas o rabejador não consegue acompanhar em virtude da posição do toiro junto a tábuas, acaba colhido, mas outro forcado salta à trincheira e substitui-o instantaneamente dando continuidade à cernelha.

Para fechar a noite João Moura Jr. por diante um toiro com 515kg, distraído, mansote, pedia que lhe pisassem os terrenos, o cavaleiro apenas percebeu isso nos dois últimos ferros e estes acabaram por ser os melhores da lide, rematados com vistosas “piruetas”.

Para fechar a noite no capítulo das pegas o experiente Cláudio Pereira, forcado de classe e um dos melhores da sua geração, fez tudo como mandam os livros, cite sereno como lhe é habitual, carregou para reunir bem e concretizar ao primeiro intento, no entanto por momentos pensava-se que o forcado tinha sido desfeiteado, assim não aconteceu e apesar de algumas dúvidas nas bancadas, o forcado estava na cara e deu por terminado assim uma noite, onde os cavaleiros estiveram muito por cima dos toiros, tapando os inúmeros defeitos que os Alves Inacio apresentaram.

Dirigiu a corrida com o habitual critério o Senhor Agostinho Borges.

Terminado o ano tauromáquico na praça da cidade saluquia, assegurar a continuidade da dupla Rafael Vilhais e João Cortez à frente desta praça, era o que de melhor podia acontecer aos aficionados de Moura, pois conseguiram recolocar em plano de prestígio e de elevação uma praça difícil num passado recente. Muitos parabéns aos dois.

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