O Cabo dos Amadores de Coruche, José Tomas, não quis perder a oportunidade de deixar uma mensagem ao forcado Rui Godinho “Peitaça”, quando estamos a um dia da sua despedida das arenas na Praça de Toiros de Coruche. Domingo, o forcado “Peitaça” fará a sua última pega a um toiro da ganadaria Palha.
“Quando ingressei no GFACoruche já o Rui era o “Peitaça”. Já o conhecia do ponto de vista do público. Já me tinha deixado fascinar por aquele homem pequeno que batia as palmas ao maior toiro da corrida sem mostrar qualquer sinal de receio. O Rui prendia o público naquela altura, como ainda hoje o faz, porque num segundo fazia-nos (a todos quanto estavam na bancada) passar da aflição à admiração. Quando o víamos ali, tão pequeno e aparentemente frágil, mandar vir o toiro de largo e o víamos parado no centro da arena esperando o “comboio” que acelerava na sua direção, a aflição era geral. Momentos depois, a pega era consumada, e toda a bancada se punha de pé em admiração daquele pequeno homem mas enorme forcado.
Foi só ao entrar no Grupo que conheci o homem para além do forcado. Com ele descobri que se pode ser vaidoso e humilde ao mesmo tempo. Vaidoso de envergar uma jaqueta tão pesada, vaidoso por enfrentar o toiro e a pressão do público e humilde para reconhecer que o toiro nos coloca sempre no nosso sítio, que ele é o juiz e o público o júri da Pega.
Já mais maduro dentro do grupo foi-me concedida a oportunidade de ajudá-lo em algumas pegas. Recordo o acelerar do coração sempre que percebia que ia ajudar o Rui, o Peitaça. Os touros dele sempre foram dos que vinham a “apitar”, os tais comboios. Para ele era sempre assim. E ao contrário do normal, em vez de serem os ajudas a dar força ao forcado da cara era ele que nos dizia “Bora lá rapaziada”. Foi sempre assim o Peitaça, é assim ainda. Agora que sou cabo e tenho o prazer de o comandar e o desconforto de lhe dizer o que deve fazer em frente ao toiro, desfruto da tranquilidade de tê-lo entre os fardados. Sei que se sair um dos tais toiros, aqueles que pedem contas ele será o primeiro a oferecer-se para a pega. É assim nas corridas é assim nos treinos. Treinos aos quais não falha um, e em que é sempre o primeiro a chegar. Conserva ainda, mesmo depois de tantos anos e tantos toiros pegados, a alegria de um miúdo quando lhe é dado um toiro e a frustração sempre que não lhe toca nenhum.
Amanhã terá a despedida que merece, e nós vamos poder ver uma vez mais, pela última vez infelizmente, aquele pequeno homem mas enorme forcado bater as palmas a um toiro.”
Fotos Rui Godinho / Arquivo GFA Coruche