Fez-se justiça, mas será suficiente?

Crónica

O ano começou com a melhor noticia que qualquer taurino poderia sonhar e receber, sobretudo a afición colombiana e particularmente Bogotá.

O Tribunal Constitucional Colombiano decidiu repor a normalidade e devolver o direito, violado e politicamente esbulhado, de permitir a realização de corridas de touros na praça de touros Santamaría, na capital Colombiana, Bogotá.

Contudo uma boa notícia, como já nos habituámos, traz sempre água no bico.

Desde logo porque uma decisão judicial pode ou não ser cumprida, com as suas legais consequências.

Em segundo lugar porque a politica, na sua elasticidade e extensão, cria mecanismos, ferramentas, que permitem contornar as próprias decisões judiciais.

Ou seja, o Tribunal Constitucional decide pela inconstitucionalidade da norma proibitiva, mas abre espaço para que a decisão de proibir, como consta no próprio Acórdão, seja decidida pelo Congresso Colombiano.

Isto mais não é do que o poder judicial a devolver a competência (batata quente) ao poder politico.

Ainda assim, sendo otimistas, que o somos todos os taurinos, partindo do pressuposto que a proposta abolicionista volta a chumbar, desta vez no congresso, a dita politica ainda tem ao seu dispor meios para impedir a realização de corridas de touros.

Muito bem, dá-se cumprimento ao Acórdão, o Congresso, maioritariamente, não se opõe, e podem mesmo dar-se espetáculos taurinos em Bogotá.

Então se não caçam com cão, caçam com gato.

Não se impede pela via abolicionista, impede-se por asfixia fiscal.

Quem quiser dar corridas de touros em Bogotá sabe de antemão que 51% da receita são impostos.

Sim, 51% são para o estado abolicionista.

Portanto na politica transvestida, ideológica, radical e extremista, desde que se pague bem, já não há problema.

Assim e antes de qualquer corrida na nova e liberta Bogotá, todos temos que saber que 51% do preço de cada bilhete é imposto, não entra nos cofres do empresário, do toureiro ou do ganadero.

Só os sobrantes 49% são repartidos pela tauromaquia, na realidade muito menos, considerando os gastos fixos imputáveis à realização do espetáculo.

Está claro que se torna praticamente insustentável realizar corridas de touros, no entanto todos saem bem na fotografia, o Tribunal Constitucional que repõe a constitucionalidade, o Congresso, sendo otimistas, que delibera pela realização dos espetáculos taurinos e o governo colombiano que, embora contrariado, não se opõe, pondo de lado o abolicionismo, desde que se pague muito.

Estas são as cartas em cima da mesa, pobre de quem tenha que decidir o que fazer com elas, uma Bogotá livre para dar touros, mas com uma corda tributária ao pescoço e um banco instável por baixo dos pés.

Não há dúvida que, mais do que nunca, é importante criar-se e consolidar-se um lobby taurino financeiramente poderoso, mais do que nunca é preciso muito dinheiro para combater esta fraude e hipocrisia politica ideológica.

Também tenho a certeza que temos as pessoas certas para isso, não fossem, por mero exemplo, os ganaderos de lide a mostrar-nos todos os dias os sacrifícios que fazem para tocar para diante, pondo a ganadaria sempre à frente de tudo, ao ponto de antes de comerem os de casa, comem os animais.

2023 começa com uma grande noticia, não há dúvida, mas muita incerteza quanto à sua operacionalização.

Que a Colômbia livre e limpa de preconceitos políticos tenha iluminação, clarividência e poder (económico) de devolver efetivamente a tauromaquia a Bogotá, sem prejuízo dos grandes sacrifícios que, mais uma vez, a Tauromaquia vai ter que fazer.

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