Julián López “El Juli” foi entrevistado pelo jornal El Mundo e falou da sua vida, do seu trabalho, das lutas que travou e das praças que mais o marcaram.
“Sou pai e tenho uma vida plena. Mas quando me sinto grande é quando emociono as pessoas e me emociono a mim. Isso é insubstituível. A necessidade espiritual é a minha verdadeira motivação”, diz “El Juli”. A tauromaquia faz parte da sua vida. Começou a tourear com dez anos, e hoje lembra como, com 14 anos, já tinha uma visão especial da tauromaquia.
“Tinha um conceito do toureio, da técnica e da tauromaquia que só se consegue com o andar dos anos. O mal foi nunca ter marcado os meus tempos. Assumi a responsabilidade da minha posição sem uma personalidade formada. E sempre me senti escravo do meu nome. Não escolhi o peso que recaiu em mim para puxar o carro da festa. Oxalá soubesse o que sei 20 anos depois.”
Hoje, há rumores de que a retirada de “El Juli” está para breve. Questionado sobre se sente mais vertigens a olhar para trás ou para a frente, diz : “Não penso assim. Antes tinha um objectivo: tourear vinte anos como máxima figura do toureio e… A vida marcou-me o ritmo e agora quero marcar eu a ela. Decidir onde, quando… o tempo o dirá.”
Sente-se orgulhoso da trajectória, conseguiu tudo o que sonhava. Toureou em todas as feiras, saiu a ombros de todas as praças e fez coisas históricas. “Artisticamente preocupa-me mais a pegada que deixo. Quero ir-me com a felicidade de ter toureado como gosto.” Gostava de que vissem algumas faenas com benevolência, admite, sorrindo.
Os filhos também foram um assunto central na entrevista ao El Mundo. “Quanto mais coisas tens a perder mais importância tem pores-te à frente de um touro. O nascimento dos meus filhos e a morte de Iván Fandiño e Victor Barrio fizeram-me perguntar-me porque é que toureio depois de tanto tempo. Saí dos seus enterros cheio de questões.”
Falou também da cornada que levou em 2013, a única que o fez pensar que ia morrer. “Nunca tinha visto a morte tão de perto.” Isso ainda não saiu da sua cabeça. Quando questionado sobre o acidente de tráfico que sofreu com os filhos no mesmo ano, responde que se sentiu invadido de uma “sensação de culpabilidade tremenda” e que caiu numa depressão, passando vários dias a chorar. Esteve um ano sem conduzir com os filhos no carro.
Quanto a polémicas, referiu a etapa do G-10 como a pior da sua vida, afirmando que todos se viraram contra ele pois era isso que lhes interessava, e garantindo que não se voltaria a envolver numa guerra assim.
O toureiro disse ainda discordar de que, como alguns afirmam, se tenha toureado melhor em qualquer outra época do que nesta. “Agora toureia-se melhor do que nunca. Quando comecei toureava-se pior do que hoje. Em cada época toureia-se da melhor maneira. O que está em falta é a tourada de antigamente, a categoria e a forma de andar na rua e na praça. Mas o que se faz com o toiro e o que o toiro é hoje não admite comparação.”
Afirmou que a Plaza México é a sua praça, pela relevância dos triunfos que aí conseguiu e por ter sido onde mais se pôde desenrolar artisticamente. “A sensibilidade do seu público é especial”. Já a Praça de Madrid considera ser a mais difícil e mais dura, ainda que não conceba não ir lá. “Quando se entrega é a que mais credibilidade te dá.”
“El Juli” terminou falando do filho, que já toureia há uns anos. “Sou uma pessoa feliz pelo toiro. Vivi a grandeza do toureio, os êxitos, as feiras, o dinheiro, as herdades… Não gostaria de que ele passasse por todas as partes duras. Cornadas, fracassos, incompreensão, disciplina… Egoisticamente, por não querer sofrer eu, não o queria para ele.”
Fotografia: El Mundo