E tudo Ventura levou

Na Praça de Toiros de Salvaterra de Magos, sexta-feira 27 de Julho de 2018, realizou-se uma Corrida de Toiros onde foi lidado um curro de Canas Vigouroux pelos cavaleiros Ana Batista, Diego Ventura e João Telles, tendo ficado as pegas a cargo do Grupo de Forcados de Montemor e Grupo de Forcados de Alcochete, capitaneados respetivamente por António Vacas de Carvalho e Nuno Santana.

Numa noite amena e convidativa, a Praça esteve com um grande ambiente e encheu até ao “pau da bandeira” com lotação esgotada desde o dia anterior, numa resposta inequívoca ao interesse criado por um cartel bem composto e que aparentava ter tudo para o sucesso.
Nesta corrida, foi prestada homenagem póstuma ao malogrado equitador Manuel de Sousa Vinagre, um jovem que já era uma certeza da equitação nacional, natural de Salvaterra onde era muito querido por todos e um trágico acidente lhe tirou a vida no ano transato. As cortesias pararam para que fosse efetuada uma evocação através de um sentido texto e de um excerto musical que era muito do seu agrado.

O curro de Canas Vigouroux saiu com alguma homogeneidade de pesos e de apresentação cuidada, exceção para o primeiro toiro da corrida, que apesar de ter uma boa cara saiu um pouco mais terciado em relação aos restantes, mas contou com comportamentos bastante díspares durante as lides, havendo destaques positivos para o primeiro, quarto (o melhor toiro da corrida) e quinto e pela negativa para o segundo e terceiro, sendo que o ultimo toiro da corrida não apresentou sequer réstia de qualidade.

Ana Batista teve o lote mais favorável da noite, no que toca a toiros. Entendeu-se com o primeiro da noite, um preto zaino, foi anunciado com 475 Kg, saiu alegre, com boa mobilidade e que se deixou lidar pela cavaleira Salvaterrense. Esta abriu com dois ferros compridos de boa nota e após trocar de montada manteve o nível nos curtos, dentro do seu estilo clássico com um toureio frontal cuidado e não muito exuberante, pecando apenas por alguma falta de ligação ao toiro durante a brega. Na generalidade, soube aproveitar as boas condições de lide do oponente que apenas quebrou já na parte final da lide. Deu volta no final.
No segundo do seu lote e quarto toiro da corrida, um bonito jabonero com 510 kg engravitado e de bom tipo que saiu com um comportamento muito idêntico ao toiro inicial, pleno de mobilidade e a investir de largo, Ana Batista voltou a aproveitar as boas condições deste oponente num toureio frontal e correto, procurando sempre cravar nos médios e foi sem surpresa que a música tocou logo após o primeiro curto. O bom nível da sua lide durou até final, soube aproveitar bem um toiro que acabou por ser o que denotou melhores qualidade de lide nesta noite e foi com grande ambiente que Ana Batista abandonou a arena, sob fortes aplausos. Deu volta no final.

Diego Ventura recebeu o segundo toiro da noite, um jabonero com 490 Kg que andou sempre distraído, andarilho, a procurar tábuas e a evitar o cavalo. Após um 2º comprido de “ganas” conseguiu criar algum interesse por parte do toiro, mas de modo efémero, já que as investidas deste eram de manso, a reagir apenas ao castigo e pouco consequentes. O cavaleiro empreendeu uma brega sempre muito ligada ao oponente, tentando por todos os meios retirar algo daquela escassez de bravura que o toiro mostrava. Teve um 3º curto excecional cravado num palmo de terreno junto às tábuas, mas pouco mais toureio relevante conseguiu perante um oponente de qualidade tão escassa mas onde ainda assim, fez vibrar o público de Salvaterra. No final deu volta.
O toiro que encerrou o seu lote era um castanho mourisco com 535 kg, bom tipo e que apresentou razoáveis condições de lide, apesar de alguma escassez de mobilidade a rasgos. Diego Ventura após 2 bons compridos nos médios trocou de montada e iniciou um verdadeiro recital de ferragem a partir de entradas com batida ao piton contrário e com uma brega de excelência, um 2º curto nas tábuas a causar arrepios e logo o seguinte nos médios de igual nível para mais uma troca de montada. Com o toiro já nitidamente a evitar o confronto, o cavaleiro ia buscá-lo a terrenos quase impossíveis, obrigando-o permanentemente a voltar a investir. Após o 5º curto de qualidade elevada na zona das tábuas, uma última troca de montada, cravou 1 palmito, retirou a cabeçada ao cavalo e foi deste modo que ainda cravou 2 pares de bandarilhas com realce para o 2º, de muita qualidade, em ambiente apoteótico e com a praça em total alvoroço. Ferros a mais pensarão alguns puristas, talvez, mas valeu a pena presenciar estes momentos. No final, volta aplaudidíssima com petição de 2ª volta que educadamente recusou e quanto a mim bem, faltou mais toiro porque quanto a toureiro, sobejou.

João Telles não teve uma noite feliz já que lhe calharam em sorte 2 toiros sem condições de lide. O primeiro do seu lote, um jabonero anunciado com 500 Kg e boa cara nunca se interessou pela lide nem pelo cavalo. Adotou a sua zona de conforto e apenas respondia ao castigo com caraterísticas arrancadas de manso. João Telles ainda cravou um 3º comprido para tentar que o toiro se soltasse, mas não conseguiu o seu intento. O toiro alternava o refúgio em tábuas em busca de saída ou com deslocações para os médios onde se parava e atravessava ao cavalo em cada tentativa do cavaleiro cravar. Ainda trocou para uma nova montada no final, cravando dois violinos, numa lide sem história por falta de toiro. Apesar de autorizado a dar volta, apenas agradeceu.
A verdadeira “fava” da corrida foi o último toiro da corrida e segundo de João Telles. Um bonito toiro castanho olho-de-perdiz com 530 kg, reservado, permanentemente a tentar refugiar-se para a zona dos curros, sem esboçar qualquer tipo de voluntariedade para atacar ou sequer na resposta ao castigo. Telles esforçou-se e ainda tentou trazer o toiro para outras zonas mas o comportamento não se alterou. Do mesmo modo, arriscou em entradas com batida ao piton contrário mas a reação não vinha ou era um perigo eminente e só com muita “raça” e arriscando bastante o cavaleiro lá foi cravando a ferragem da ordem, abandonando a arena com o publico a aplaudi-lo reconhecendo a atitude de grande esforço e profissionalismo demonstrada. No final deu volta.

No capítulo das pegas, 2 bons grupos da primeira linha, como deve ser em corridas de importância, que cumpriram e honraram os seus pergaminhos.
Pelo Grupo de Montemor abriu praça como forcado da cara o jovem Vasco Ponce que efetuou uma boa pega ao 1º intento. Toiro nas tábuas, forcado sereno e compenetrado no cite, carregou inicialmente após os médios e como este não respondeu à provocação, fixou-o mais uns segundos para voltar a provocar a investida que desta vez resultou. Recuou pouco mas o suficiente para se “trancar” na córnea com eficácia numa viagem que o levou grupo dentro, onde foi eficazmente ajudado. Volta no final.
A pega ao 3º toiro da corrida foi efetuada pelo forcado da cara Bernardo Dentinho, ao 1º intento, numa excelente pega. Bem no cite e a tentar provocar o toiro que estava ligeiramente fora de tábuas, fez uma segunda acometida que resultou, vindo desta vez o toiro com “pata”. Recuou bem e recebeu exemplarmente, fechando-se na córnea e aguentando um forte derrote inicial, bem apoiado pelo primeiro ajuda a compor o cara. Nesta altura o toiro descaiu para a direita do Grupo que recuperou bem a trajetória e foi nas tábuas que acabou por ajudar a que se consumasse esta boa pega. Volta no final.
O 5º toiro da noite teve como protagonista na cara, o forcado António Calça e Pina que consumou a pega ao 2º intento. Na 1ª tentativa não se fechou o suficiente para aguentar uma mangada na zona do 1º ajuda onde foi vencido. Na 2ª tentativa, apesar de ter de ir buscar o toiro a terrenos já de compromisso, recuou bem e fechou-se à córnea numa pega que decorreu sem dificuldade de maior e foi praticamente consumada na zona das 2ªs ajudas. Volta no final.

Pelo Grupo de Alcochete, o forcado da cara escalado para a pegar o 2º toiro da noite foi Pedro Gil que consumou a pega à 2ª tentativa. Na 1ª tentativa, o forcado da cara defendeu-se no momento da reunião e o toiro não perdoou, não lhe dando hipótese de se fechar. Na 2ª tentativa, o toiro tardou um pouco a investir mas o forcado soube provocar e recuar, o toiro arrancou forte mas desta vez com o forcado bem fechado na cara, entrou pelo Grupo e rompeu até às 3ªs ajudas, onde a coesão resultou e consumou-se a pega. Volta no final.
Para pegar o 4º toiro da noite, foi escalado o forcado da cara Diogo Timóteo. O toiro veio de largo, o forcado recebeu o toiro mas não se dobrou o suficiente nem se fechou de pernas acabando por se “empranchar” logo após o 1º derrote, saindo gorada a pega e ficando o forcado lesionado. Na sequência da tentativa, viveram-se alguns momentos de dramatismo quando o toiro apanhou na viagem o forcado André Pinto que embateu fortemente com a cabeça por baixo do estribo da trincheira e ficou inanimado momentaneamente. Para a dobra, o forcado da cara foi João Machacaz que logo na sua 1ª tentativa esteve bem com o toiro e recebeu o forte derrote inicial já bem dobrado, o suficiente para aguentar este complicado derrote, tendo também o Grupo demonstrado excelente coesão no modo como ajudou a consumar esta pega nas tábuas. Apesar de autorizado pelo diretor de corrida, o forcado abdicou de dar volta.
Para a cara do complicado e reservado 6º toiro, o forcado da cara escolhido foi João Guerreiro. A tarefa não se avizinhava linear, o toiro esteve tempo demais a “medir” o forcado da cara e após investir, logo na reunião e mercê de forte derrote, descompôs o forcado que acabou por despachar antes da reação do resto do Grupo. Depois seguiram-se mais 2 tentativas com o toiro na sua linha de “maus modos” a levar o forcado e Grupo de vencidos, culminando tudo numa 4ª tentativa a sesgo junto à zona dos curros, numa pega já sem brilho mas a defender a honra e neste caso, interessava essencialmente “resolver” a questão. O forcado não deu volta.

A direção de corrida esteve a cargo de Lourenço Luzio que esteve correto e coerente nos critérios adotados.

Paulo Paulino

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