Três horas de corrida, sem que nada de excepcional aconteça, é uma verdadeira eternidade… É verdade que há coisas dignas de registo pela positiva, os Amadores de Coruche em noite de valentia com umas quantas pegas superiores; Uma lide e uns quantos ferros de João Ribeiro Telles; Um toiro de Brito Paes e outro de Passanha. Mas foi pouca coisa para uma noite de muitas expectativas que quase ficou gorada pela apresentação indigna e o vazio comportamento de dois toiros vindos de Espanha trazidos pela figura central deste cartel apresentado pela empresa, El Juli.
Os “tendidos” (preenchidos em dois terços do seu aforo) da Monumental do Sorraia foram invadidos por um sussurro de surdina primeiro de expectativa e depois amorfo… Ver uma corrida com o segundo ruído é sinal inequívoco de que aquilo não funcionou em pleno.
Foram lidados dois toiros de António Raul Brito Paes (1º e 2º), bonitos, baixos, reunidos, com cara, quanto ao comportamento um tanto ou quanto reservado o primeiro; O segundo teve uma saída fria, mas veio a mais e acabou por ser um bom toiro. Dois de Passanha (4º e 5º), grandes, pesados e mais cômodos de cara. Quanto ao comportamento mais reservado o primeiro, nobre e com qualidade o segundo, bom toiro. Para a lide a pé um de Garcigrande e outro de Domingo Hernandes, indignos de apresentação e com poucas qualidades a registar…
António Ribeiro Telles abriu a noite, numa lide em que recebeu o de Brito Paes na porta dos curros, levando o toiro embebido no cavalo de forma bonita, dois compridos a abrir a função. Nos curtos, lide com alguns altos e baixos, o toiro não era fácil e António deixou algum ar da sua graça a espaços nesta actuação, rematou a função com um palmo e um curto este de boa nota.
No quarto da noite, António lidou de boa forma o de Passanha que tinha os seus quês e porquês… Correcto nos compridos, nos curtos houve um par ferros de boa nota, mostrando a sua mestria. Fechou a sua actuação com o ferro da noite ou seja marca António, de frente, de alto a baixo ao estribo.
João Ribeiro Telles teve uma boa lide no seu primeiro mas o público teimou em estar frio durante esta actuação. Correcto nos compridos, lidou a preceito, cravou bom ferros com batida ao piton contrário, escolhendo os terrenos ideais para desenvolver a sua função no ruedo da capital do Sorraia. Rematou a sua lide com um palmito de belo efeito.
No quinto da noite, recebeu de forma bonita o de Passanha em curto, cravou dois bons compridos. Nos curtos a lide veio de menos a mais na primeira parte, os ferros tiveram boa nota mas o público meio adormecido… Mudou de montada e com o Ilusionista cravou dois ferros que agitaram as bancadas e aí sim se sentiu o calor do público com visto na arena.
Noite dura nas pegas mas com um grupo de Coruche em noite de superação, com nomes a destacar e guardar na memória com o feito na arena: António Tomás magnífico, Afonso Freitas superior, um Tiago Gonçalves enorme, levando até ao limite das suas forças e a vontade de pegar o duro Passanha e um João Prates perfeito. Fernando Ferreira simplesmente genial nas primeiras ajudas.
Abriu a noite António Tomás numa grande pega à primeira tentativa, bem a citar, recuar e receber, o toiro entrou de forma muito dura mas os braços e o querer do António superaram as adversidades, grande primeira ajuda de Fernando Ferreira e foi consumada a pega da noite.
Afonso Freitas à segunda tentativa, numa boa pega em que o forcado da cara esteve bem a desempenhar a sua função. Novamente o grupo esteve bem a ajudar.
Tiago Gonçalves tentou por quatro vezes a pega de caras. O Tiago esteve enorme, mostrando um valor e uma vontade fora do comum, só se deu por vencido quando as forças o venceram… O cabo José Tomás dobrou o seu forcado e resolveu à sua primeira tentativa.
Fechou a noite no capítulo das pegas João Prates, numa boa pega à primeira tentativa. Citou com galhardia, recuando quanto baste, para reunir de forma perfeita, ajudou o grupo e foi realizada assim a última pega da corrida.
Quis a empresa Toiros com Arte trazer o matador de toiros El Juli a Coruche na temporada da sua despedida para dizer adeus às arenas lusas. O matador de Madrid veio à capital do Sorraia com dois exemplares para lidar debaixo do braço… Ostentavam os ferros das ganadarias salmantinas de Garcigrande e de Domingo Hernandes, negros de capa, justos de cara, magros, feios e sem apresentação para qualquer praça do mundo… animais destes são lidados à porta fechada e não em público… Muito menos num acontecimento como este, a despedida de uma figura do toureiro numa praça de primeira categoria como a de Coruche. Lamentável!!! Bem sei que cá não se picam os toiros, a importância do toureio a pé é reduzida e não trás louros, só alguns euros… Mas lidar aquilo foi uma ofensa ao público português, aos ganaderos lusos e alguns do seu país que teriam vergonha de embarcar semelhante coisa para uma praça de toiros.
Pouco a dizer então das lides de Juli por Coruche, andou solvente com o capote e animoso com a muleta mas sem ganas toda a noite.
Dirigiu a corrida Ricardo Dias, sendo médico veterinário Jorge Moreira da Silva.