De sobrero a herói, para triunfo de Escribano

Sanjoaninas – Corrida Mista, 28 de Junho

 

Contentando gregos e troianos, a corrida mista englobada na Feira de São João 2019, congregou no cartel figuras de escalafón e que davam confiança a quem marcasse presença na engalanada Praça de Toiros da Ilha Terceira.

Primeiro porque teriam oportunidade de saborear novamente duas lides de João Moura Júnior, que saiu triunfador da corrida concurso de ganadarias, em renhida disputa com os seus colegas de cartel. Em segundo, porque um ano depois, voltava a estar presente na arena desta praça o matador de toiros Manuel Escribano, chegando à ilha dias após ter obtido rotundo êxito, numa tarde em que indultou um bravo da lendária ganadaria de Miura.

Não menos importante, do cartel fazia parte o matador Pepe Moral, habituado a lidar ganadarias duras, bem como toiros das ganadarias de Rego Botelho, José Luís Cochicho e João Gaspar. Para os dois toiros lidados a cavalo, pegas a cargo do Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense.

Com um tempo convidativo, ainda que com o vento a mostra-se atrevido, a Corrida Mista teve arranque pelas 19h30, espectáculo abrilhantado pela Banda Sociedade Musical e Recreio da Terra Chã. Mário Martins na função de director de corrida, sendo médico veterinário o Dr. Vielmino Ventura. Uma nota para fazer referência ao jovem “cornetim”, que nas três corridas já realizadas, mostrou estar à altura do cargo, com brio e sabedoria.

Iniciou a contenda o cavaleiro de Monforte, de casaca verde seco recebeu o primeiro do seu lote, um toiro da ganadaria terceirense de João Gaspar, de nome “Milhafre” e com o número 44 no costado. Como tem sido apanágio, João Moura andou por cima do oponente, e logrou uma actuação consistente, após colocação defeituosa nos compridos. Acertou a mão nos curtos, frente a um exemplar que começou a tomar crença nas tábuas, cravando a sesgo maior parte da ferragem da ordem. O público entendeu que não dava para mais. Saltou à praça o forcado César Santos da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, e consomou à segunda tentativa rija pega, com o toiro a sair com pata mas a meter bem a cara. Merecida volta para ambos.

Seguiu-se a faena do matador de toiros Manuel Escribano, que viu sair dos curros um hastado da ganadaria continental de José Luís Cochicho, pesando 401 Kg. Fez-se luzir por verónicas, e chamou ao quite Pepe Moral. Como é seu timbre, assumiu o tércio de bandarilhas, e arrimou-se no primeiro par. Antevia-se labuta complicada, uma vez que o toiro escorrido de carnes saía solto do capote dos bandarilheiros. Já de muleta em punho, confirmou-se mais do mesmo, a falta de qualidade na investida das reses, tornando uma faena sôfrega e com pouca transmissão, resumida ao empenho do toureiro sevilhano.

Ao terceiro da ordem, estreava-se na Monumental de Angra Pepe Moral. Cumpriu a função com o capote por verónicas e uma tanda de chicuelinas nos médios. Com o exemplar número 7 da ganadaria José Luís Cochicho, pesando 411 Kg e melhor apresentado que o anterior, brindou ao público e iniciou a lide pela direita, levando o oponente das tábuas para os médios. Numa altura em que se fazia sentir mais vento, Moral andou a gosto e sacou boas séries ao natural, ligadas e com o toiro de bom comportamento, a mostrar nobreza e a baixar a cara, provando que o melhor lado era pelo pitón esquerdo. Faena que teve duração e com o matador (mesmo com um pé atrás) a entregar-se com afinco, logrando volta à arena.

Para início da segunda parte da corrida, saiu o hastado da ganadaria de João Gaspar, um preto malhado com o número 47, que criou logo assombro pela sua apresentação, por acaso o mais pesado da corrida, e com muita cara. Houve toiro para João Moura Júnior, que se arrimou e cravou com reuniões emotivas, com o oponente a transmitir e a carregar em cingidas bregas. Ao terceiro curto, citou de largo e aguentou a arrancada do toiro, até de mais, cravando de alto a baixo e consentindo um toque na montada. Cravou o último ferro nos terrenos do oponente, quando este já se mostrava mais reservado, arrebatando uma lide que agradou os aficionados presentes. O forcado Luís Cunha do grupo da TTT, só conseguiu concretizar à terceira tentativa, com o grupo a carregar, diante um toiro que arrancava de pronto.

Ao quinto da ordem, Manuel Escribano recebeu de joelhos com uma larga cambiada o número 37 da ganadaria de divisa azul e branca. Cedo percebeu-se que o RB estava tocado na mão esquerda, mas mesmo assim ainda Escribano cravou o primeiro par de bandarilhas, caindo ao sair da cara do toiro, e foi salvo pelo oportuno quite do seu bandarilheiro. O toiro acabou por recolher aos curros, e de lá saiu o sobrero número 28 de Rego Botelho. Mostrou-se variado com o capote e ao bandarilhar esteve gigante, cravou pares variados, como mandam os cânones, arrancando da assistência fervoroso aplauso após um par com quiebro e em sorte violino. Com a muleta, elevou-se ainda mais, frente ao bom jogo que o “Maninho” dava. Faena nos médios, com tandas pela esquerda e pela direita, toureou em redondo, toureou ao natural e a mandar no exemplar que humilhava e tinha recorrido. Manuel Escribano agarrou a assistência, e antes de simular a morte, terminou a lide triunfal com uma série de Manoletinas. Forte ovação e praça de pé, para o diestro duas voltas à arena e chamada à praça da representante da ganadaria.

Depois do êxito de Escribano, aparecia novamente Pepe Moral, desta feita diante um Rego Botelho de linhas desajustadas e que se veio a mostrar impróprio. No tércio de bandarilhas houve bronca, tal o desacerto do bandarilheiro da quadra de Moral. Na muleta, faena resumida a uma mão cheia de nada, com um toiro que se parava, metia mal a cara e tinha pouca mobilidade. Rachou cedo e fez-se valer o esforço do matador, habituado a lidar toiros complicados.

No cômputo geral, motivos de satisfação para os aficionados, que levaram na retina a irreverência das lides de Moura, que mesmo sem as suas montadas chave, levou da Terceira actuações de boa nota. Levaram ainda a primeira lide Pepe Moral frente a um bom exemplar de José Luís Cochicho, e a lide de um bravo sobrero de Rego Botelho, que ascendeu de categoria e permitiu ao matador Manuel Escribano triunfar e sacar a melhor faena da feira.

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