Crónica | Boa Corrida em Riachos

Boa Corrida em Riachos

  • 30 de julho 2022, Riachos
  • Cavaleiros: Marcos Bastinhas, Luís Rouxinol Júnior e o praticante Paco Velásquez
  • Forcados: Riachos
  • Ganadaria: Passanha
  • Direção de Sandra Strecht assessorada por José Luís Cruz
  • Praça a quase 2/3 da lotação

​A Vila de Riachos, situada paredes meias com o concelho da Golegã, tem uma profunda tradição taurina, estabelecida há mais de um século através da actividade do famoso Grupo de Forcados de Riachos, que inaugurou a Praça de Toiros do Campo Pequeno (18 de Agosto de 1892), tendo sido José Sapateiro o primeiro forcado a consumar uma pega no monumental tauródromo lisboeta. Mas, Riachos, terra de cingeleiros, sempre esteve relacionada à criação e ao maneio do gado bovino para lavrar e gradar as úberes terras do campo, e para carrear as fartas produções agrícolas, sendo memorável a lenda do Senhor Cristo dos Lavradores, que ainda é celebrada na actualidade por ocasião das Festas da Bênção do Gado.

​A tarde estava muito quente, mas mesmo assim a praça registou uma grande afluência de público, com os sectores da sombra literalmente repletos e os do Sol muito bem compostos.

​O ganadeiro Diogo Passanha primou na apresentação dos seus toiros, volumosos e entrapiados, e com um comportamento muito satisfatório, proporcionando o êxito artístico aos toureiros e aos forcados.

Marcos Bastinhas abriu praça com uma lide alegre e desenvolta, privilegiando as sortes frontais e cravando certeira ferragem. Entendeu bem o seu voluntarioso oponente e logrou apresentar os seus imensos argumentos técnicos pelo que suscitou fartos aplausos do público. A segunda lide não foi tão bem conseguida, porém o marialva de Elvas exibiu um toureio mais na linha do estilo de seu saudoso pai, evidenciando-se nos ferros de apoteose, nomeadamente um palmito e o inevitável par de bandarilhas.

Luís Rouxinol Júnior tem vindo a consolidar a sua trajectória artística explanando um toureio alegre, mas sério e profundo, no respeito pelas regras clássicas. Citando de frente e consentindo a primazia na investida ao seu oponente, o jovem Rouxinol cravou a ferragem de alto a baixo, que resultou emotiva e brilhante. Lidando a sério – ou seja, não estando apenas preocupado em “despachar” a ferragem! – Luís Rouxinol Júnior rematou bem as sortes, elegeu os terrenos mais adequados e ajustou habilmente as distâncias, pelo que os toiros investiramm com mais codícia, permitindo-lhe consumar sortes plenas de emoção. O seu segundo oponente – que lidou em quarto lugar, por ter de deslocar-se para as Caldas da Rainha, onde iria actuar à noite – não lhe permitiu um desempenho ao nível do que fizera anteriormente, mas, no entanto, os pressupostos técnicos mantiveram-se inalterados e por isso a sua actuação voltou a ser muito positiva.

 

Paco Velásquez estava a jogar em casa, o que é sempre um factor de primacial importância. Mesmo em véspera de um grande compromisso – a alternativa espanhola de rejoneador, em Huelva, onde esteve muito bem e saiu em ombros – Paco exibiu um toureio muito bem estruturado, com as montadas muito bem postas e rubricando duas interessantes lides. Louve-se o andamento repousado com que desenhou ambas as lides, emprestando senhorio e classe ao seu desempenho, a eleição dos mais adequados terrenos e distâncias e a perfeição com que consumou cada sorte. Paco Velásquez poderá ascender facilmente ao estatuto de figura, porque reúne condições técnicas para tal. Das suas lides guardamos alguns detalhes de muito mérito, e, escusado será dizer, que o jovem marialva desfrutou do imenso carinho dos seus conterrâneos, que calorosamente o aplaudiram.

​O Grupo de Forcados Amadores de Riachos desincumbiu-se galhardamente de um grande desafio. Pegar seis “Passanhas” em solitário, não é coisa pouca. Nesta tarde festiva foram solistas António Menezes, que consumou boa pega ao primeiro intento; Hilário Coelho, que apenas à quinta tentativa logrou consumar a sua sorte, já com ajudas carregadas; Sérgio Costa, em boa pega à primeira tentativa; Luís Azevedo, numa grande pega, à primeira, e que marcou a sua despedida das arenas; Mário Vieira, que esteve bem e pegou à primeira; e Mário Coelho, que fechou esta tarde com chave de ouro, consumando uma rija pega, à segunda tentativa.

​Direcção acertada de Sandra Strecht, bem assessorada pelo médico veterinário Dr. José Luís Cruz, e correcta intervenção dos bandarilheiros de turno.

Artigos Similares

Destaques