Quando os cartéis são bem montados, as datas bem pensadas e se anunciam toiros de verdade, o público corresponde e as praças metem gente. Parabéns ao empresário Vasco Durão que montou um cartel arrojado, com ingredientes de sobra para chamar o público à praça que gere com tanto carinho e dedicação.
A fórmula para conseguir uma praça cheia à vista não foi muito complicada, estavam anunciados toiros de duas das mais sérias ganaderias da Península Ibérica, Miura e Murteira Grave, duas figuras consagradas e uma jovem promessa que jogava em casa, João Moura, Luís Rouxinol e Francisco Núncio e para rematar os dois Grupos de Forcados com maior antiguidade e prestígio do país, Amadores de Santarém e Montemor.
No que diz respeito aos toiros, saíram três toiros de Miura, sendo de destacar a apresentação e bravura do saído em primeiro lugar, um Salinero que se arrancou de todo o lado e se empregou nas sortes, os dois restantes saíram no tipo da ganaderia, altos e escorridos que se deixaram tourear embora tenham revelado alguma escassez de forças. Os três exemplares de Murteira Grave saíram díspares de apresentação, com nota negativa para o saído em primeiro lugar, um toiro alto excessivamente escorrido dos quartos traseiros que revelou mansidão e más intenções, os restantes cumpriram sem alardes.
Abriu a função o cavaleiro João Moura, que diante do toiro mais manso da corrida teve de recorrer a toda a sua sabedoria para deixar a ferragem da ordem em sortes correctas. No seu segundo, “encastou-se” e recebeu o Miura numa conseguida sorte gaiola. Nos curtos teve bons pormenores de brega e sortes bem desenhadas, apenas pecando pela colocação de um ou dois ferros.
Luís Rouxinol foi o triunfador da tarde, no seu primeiro desenhou uma faena plena de emoção, marcada por reuniões emotivas em ferros ao estribo, ante o melhor toiro da corrida, o tal “salinero” de Miura que foi bravo e levou emoção às bancadas. Destaque para os curtos cravados em 2.º e 3.º lugar que fizeram o povo saltar das bancadas. A segunda lide seguiu em bom ritmo, com pormenores de brega importantes rematando com um par de bandarilhas no centro na arena que pôs o público de pé.
Para completar a terna estava a anunciado o jovem da terra Francisco Núncio, toureiro de dinastia que assumiu um sério compromisso face à experiência que tem. As coisas não correram de feição ao jovem ginete, que fruto da pouca rodagem que apresenta e da falta de colaboração das suas montadas, evidenciou algumas carências ao nível da cravagem, tendo-se sucedido episódios de desacerto nos compridos e nos curtos, quer no primeiro quer no segundo toiro que lidou. Ainda assim, teve sentido de lide, viram-se bons pormenores, mostrou-se um toureio com garra, nunca virou a cara à luta e evidenciou uma invulgar conectividade com o público que muito o acarinhou ao longo das duas irregulares lides.
No capítulo da forcadagem, tardes distintas para as duas formações que tinham a tarefa de pegar este desafio, saindo claramente triunfador o Grupo de Forcados Amadores de Montemor.
Deste modo, pelos “Escalabitanos” abriu praça o cabo João Grave que apenas efectivou a pega à sexta tentativa com ajudas carregadas no toiro mais complicado da tarde. Salvador Ribeiro de Almeida consumou à terceira tentativa com ajudas carregadas depois de ter estado mal a receber o oponente nas duas primeiras tentativas, tendo fechado praça o forcado Manuel Murteira que apenas à quarta tentativa conseguiu efectivar a pega, depois de na primeira tentativa ter o toiro praticamente pegado.
Relativamente a este assunto, uma palavra de louvor para os Amadores de Santarém que decidiram e bem repetir a pega após uma primeira tentativa em que subsistiam sérias dúvidas se o forcado estava na cara do toiro ou não. Ao decidirem ir novamente à cara do toiro, mostraram brio, seriedade e respeito pelo público e pela figura do Forcado Amador, exemplo a seguir por muitos agrupamentos que em situações idênticas não foram capazes de assumir tal atitude, revelando falta respeito pelo público e por eles próprios.
Por Montemor, a par de Rouxinol os triunfadores da tarde, foram solistas João da Câmara ao primeiro intento numa pega fácil, Francisco Barreto à primeira tentativa na melhor pega da tarde, aguentado muito bem a investida descomposta do Miura, enchendo a cara ao toiro e Francisco Borges, forcado de eleição que pegou também à primeira tentativa o Grave que lhe tocou. O grupo esteve coeso nas ajudas com destaque para o rabejador Francisco Godinho.
Em suma, bom espectáculo em Alcácer do Sal que teve emoção e prestações dos artistas para todos os gostos, onde se destacou a capacidade de Luís Rouxinol para lidar todos os toiros e a regularidade dos Amadores de Montemor que não complicaram o que não era difícil.